Capítulo 8 - Atentado

10 2 0
                                    

     Ela tinha ido, mas o Jonas não, e eu não conseguia o achar, fiquei no mesmo canto que o encontrei na primeira vez e fiquei ali por horas, nem comi nada, apenas fiquei ali refletindo sobre as coisas, e pensando em escrever cartas para as pessoas que amo, já que não iria viver por muito tempo se as coisas continuassem assim.

- Narcisa? - levantei meu rosto rápido com aquela voz já conhecida

- Jonas? - pulei em cima dele e o abracei com tanta força, porque tive medo de perdê-lo, ele se importou comigo e eu agora já me importava com ele - onde você esteve? Eles mataram 3 de nós e eu pensei que tinham te matado por que não te achei e eu conhecia aquela mulher, ela morreu, ela era inocente, onde você estava? - o abracei ainda mais falando as coisas rapidamente

- não se preocupe - me abraçou e sorriu, aquele sorriso comercial - eu estou bem e estou seguro, estou atrás de uma saída, estou... Estou com uma galera que também está atrás de uma saída

- ah, então deixa eu ir com vocês, deixa eu arrumar a saída com vocês - eu disse desgrudando dele e olhando fixamente para seus olhos, sei que o conheci ontem, mas ele passava uma confiança, ele se importou comigo e veio falar comigo, enquanto eu estava sozinha, ele se tornou meio que um amigo pra mim, estava tão chato ficar sem ninguém pra conversar aqui, que quando ele apareceu, me trouxe uma felicidade que só

- não, eu queria que você pudesse ir conosco, mas é melhor não - ele disse fraco e sorrindo torto - se tiver muita gente, eles logo vão perceber, não quero que se machuque com isso, você ainda tem que ir pra muitas festas com seus amigos e festas da escola - ri com seu comentário

- na verdade vamos, eu vou te levar um dia para essas duas festas - disse sorrindo - se quiser é claro

- com toda certeza - riu alto e abaixou o tom de voz quando viu que um deles estava se aproximando, ele me puxou pela cintura para aquela parte mais escura e fez sinal de silêncio, ficamos ali parados por 6 minutos, olhando aquele cara vigiar os lugares próximos e ir embora, ele estava tão armado, que eu senti medo de morrer com tanto estrago que aquela arma iria causar em mim

- parece que agora está tudo ok - ele disse depois de analisar a parte que estamos e fora dela - vem, vamos sentar aqui mesmo - me guia para o chão, onde me sento perto dele - eu sei que foi muito chato o que teve nessa manhã

- chato? Só isso? Pessoas inocentes morreram Jonas, por causa daqueles...daqueles idiotas, ridículos, sem moral, filhos da puta, que tanto matam pessoas, pra eles já é normal, costume, por que acham que Alá que aprova, que Alá que manda eles fazerem isso, então eles se acham os certos, sabe o que acho? Que esse Deus, esse Alá que eles tanto falam, não se importa com o resto das pessoas, por que ele permite tudo isso acontecer, ele só tem olhos para os ricos e esses tipos de pessoas

- quando você diz isso, é engraçado - ele diz e eu não sei viu?, mas ele parece tão pleno, tão inabalável, tão de boas e ainda tem cara de pau de jogar o sorriso comercial de pasta de dente pra mim, que sorriso chato meu

- por que você não me leva a sério em? - pergunto cabulada com sua falta de noção e maturidade para um assunto desses

- é engraçado você querer julgar os outros e querer julgar, além de tudo, Deus - sua resposta é tão seca, mais tão direta, que fiquei com medo de responder mais alguma coisa - Deus não dá prioridade, ele não faz separação, ele ama cada um de nós, ele quer o bem de cada um

- é isso que não entendo, como um Deus conhecido por amor, pode amar tanto as mortes? Sendo que isso deveria ser uma característica de satanás, como um Deus conhecido por paz, pode querer guerras ? Como um Deus que cuida, pode deixar seus filhos sozinhos e sem cuidados? Como um Deus que ele é, pode ser o contrário do que diz?

- as coisas não funcionam assim, não podemos exigir tudo de Deus, ele sabe o melhor plano para cada um de nós, Deus sabe de tudo Narcisa, ele te ama, ele ama aquela mulher, ele ama cada um de nós, mas as vezes alguns tem que morrer para outros entenderem de seu amor, talvez só ela estava preparada aqui para morrer, por que ela o tinha aceitado e ele a levou, antes que ela morresse quando não estivesse preparada, ninguém consegue entender de início os planos de Deus

- como você sabe tanto assim de Deus? Por acaso você apóia eles? - digo ainda tentando compreender toda essa história

- não preciso aceitar as ações humanas, para querer aceitar a Deus - ele responde, mas dessa vez sorrindo, esse assunto deve ser muito importante pra ele

- você ama Deus, não é? - sorri, abrindo meu largo sorriso, mesmo querendo chorar

- eu amo, mesmo ele fazendo coisas que eu não entendo, eu o amo - as suas palavras eram tão precisas, eram tão realistas, que de alguma forma me tocava

- eu não consigo o amar, depois dessas coisas - respondo fraco

- você vai aprender a amá-lo, assim como eu aprendi a amar a minha família, que faz coisas que até hoje não entendo - fiquei em silêncio, esperando ele puxar outro assunto, sei que ele não iria querer falar da família agora, de alguma forma a família dele era complicada de lidar e diferente dos nossos padrões - já está com fome? - disse se virando pra mim

- na verdade, eu nem comi hoje - disse virando o rosto pra outro lugar

- nossa Narcisa, por que não me disse antes? Vou ali rápido pegar uma comida pra você - diz já se levantando

- não, não se arrisque, eles estão por perto - disse puxando seu braço

- vai ser rápido, prometo - diz e sai correndo, espero que chegue logo

     Mas depois de 12 minutos e nada dele chegar, só depois ele chega sorrindo e com uma sacola.

- não veio rápido - disse apontando um dedo para seu rosto - fiquei aqui esperando

- mas foi por um bom motivo - diz colocando a sacola perto de mim e tirando duas latas de refrigerante, 4 sanduíches e 1 barra de chocolate

- aonde arrumou tudo isso? - disse arqueando uma das minhas sombrancelha

- eu arrumei com a galera, aquela mesma que está comigo pra procurar uma saída

- ah, sim, mais isso é muita comida e você está desperdiçando comigo

- não tem problema, vem vamos comer - disse me dando uma lata de refrigerante, peguei e bebi junto com os sanduíches que comi, depois que terminamos ele me dá a barra de chocolate e diz que é um presente pra mim, comi dividindo com ele aquela barra

- acha que vai demorar muito pra eles matarem todos nós? - digo ainda comendo a barra

- de onde você tirou essa idéia? - ele diz sorrindo

- eles vão matar todos nós, não é?

- não, eles só mataram aquelas pessoas para ameaçar o governo, que até agora não cooperou com nada

- sabe Jonas, promete uma coisa pra mim? - digo me virando pra ele

- ah, sim, eu acho - diz se virando pra mim

- se eles quiserem matar mais pessoas inocentes, promete que vai dizer a eles para me colocar no lugar dessas pessoas?

- o que? Você tá doida?

- eles não precisam sofrer pelas atitudes dessas pessoas - digo

- mas você não precisa morrer no lugar deles - diz

- por favor, só prometa - digo rápido fechando os olhos pra segurar as lágrimas

- eu prometo que não vou deixar você morrer, apenas isso que prometo - diz beijando minha testa e minhas lágrimas caem de vez.

72 horasOnde histórias criam vida. Descubra agora