Capítulo 3

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Um ano se passou desde o último sonho erótico ou qualquer contato da voz que lhe acompanhou desde a febre de sua infância. O vazio em seu coração a deixava melancólica desde então.



Duas semanas para a viagem

A vibração do celular em seu bolso lhe tira a atenção do café que estava pondo na xícara. Precisava de algo quente com urgência.

— Ei Natalia! — Uma voz alegre lhe saúda assim que põe a chamada em viva voz.

— Martinha... — Natalia responde com a voz arrastada.

— Nossa! Está tudo bem lindona? — Martinha pergunta preocupada.

— Acho que sim, Martinha. Só acordei com um pouco de frio — Responde com a voz enrolada e devolve com outra pergunta quando percebe o silêncio de preocupação — Já esta chegando?

— Estou na esquina — Martinha assegura retomando o passo. Tinha razão em se preocupar, o sol estava a pino e a sensação térmica era de quase 40º na sombra, já tinha presenciado um desses ataques de frio em Natalia. Não eram bonitos. Eram estranhos e haviam começado a três semanas, desde então Natalia estava com a idéia fixa de ir até São Joaquim.

Enfiando a chave na fechadura Martinha abre a porta rapidamente e se apressa em direção a cozinha chamando por Natalia. Ela a encontra sentada no chão, tremendo e assoprando as mãos para tentar obter algum calor.

— Puta merda, Natalia! — Martinha exclama correndo até o quarto para buscar a manta térmica que haviam comprado desde o ultimo ataque de frio.

Agasalhando Natalia com a manta Martinha a ajuda a voltar para a cama.

— Obrigada Martinha, não sei o que faria sem você. — Natalia a agradece sentindo o corpo esquentar aos poucos.

— Se eu fosse uma amiga de verdade chamaria seus pais e acabaria com essa loucura agora mesmo!

— Você sabe que não pode! Sabe o quão difícil foi sair de casa! Se eles souberem que andei doente vão me trancar e jogar a chave fora!

— Eu não sei de nada! Tudo o que sei é que você começou a ter esses ataques cada vez mais freqüentes e inexplicavelmente quer ir para um lugar onde as temperaturas são baixíssimas nessa época do ano.

— Já disse que preciso ir. E você sabe que se eles souberem que eu estou tendo esses ataques nunca me deixarão ir. Provavelmente me colocariam na clinica do tio Matheus sob supervisão constante e não deixariam nem mesmo você me visitar.

Martinha revira os olhos — Se eles fizessem isso, seria pura perda de tempo. Sabe que consigo entrar onde quero. Droga! Você vai me dever para o resto da vida depois dessa!

Natalia ri baixinho e se aconchega se preparando para o longo sono que vinha pela frente. Amava aquela amiga louca, se não fosse por ela estaria agora se sentindo mais miserável ainda.

MescladosWhere stories live. Discover now