A morte de Kaio era um peso enorme que ia se dividindo atingindo meus músculos, os peralisando. Minhas lágrimas que despencaram como se fossem águas de uma cachoeira turbulenta e considerada ponto turístico. Os meus sentimentos, que com toda certeza era onde mais pesava. E por último nas minhas memórias, onde eu relembrava dos bons momentos e tentava achar um motivo para que isso acontecesse. O celular caiu da minha mão que ainda estava intacta perto do ouvido, como se eu ainda estivesse com ele em mãos, conversando com Michelle e ela me dizendo que apenas ligou errado. Era um pesadelo que não tinha mais volta. Depois de acordar não teria como voltar a dormir e ter o mesmo pesadelo para saber o final. Para poder impedir. Não tenho uma máquina do tempo. Não tenho nada para voltar e implorar para que ele não fizesse aquilo. Apesar de não ser do meu sangue, a minha alma estava naquela criança. Eu queria ouvir seus resmungos, seus gritos, poderia ouvir até palavrões, mas queria que ele falasse. Será que eu voltaria para a realidade com aquelas pessoas me sacodindo de um lado para outro? Talvez sim, mas a minha resposta seria: não!
Perder alguém que você ama não é fácil. Você se tranca nas belas lembranças e não quer se soltar. Você quer que aqueles momentos se repitam várias e várias vezes, sem previsão para parar. Eu estava com medo. Sim, essa era a palavra certa. Medo. Alguns minutos, disseram. Para mim, pareciam eternos. Com toda certeza eu tinha conhecimento o bastante para saber que eu teria que sair daquele transe, entrar naquele carro, ir para casa, abraçar minhas esposa e fazer o meu trabalho. Mas o fato, a dúvida era: Como?
Quando finalmente me vi a responder as dúvidas dos meus companheiros, não demorei muito para entrar no carro e sair em disparada.*Em casa*
Ela me abraça com força, parecer ter chorado horas, com o seu semblante já cansado e seus olhos inchados. Sempre imaginamos: Serão nossos filhos quem nos enterraram naquele buraco onde você nunca voltará a viver, ao ver a luz; não o contrário. Afinal de contas, é a lei da natureza. Os meus sonhos se foram pelos ares. Tudo estava perdido, agora talvez, nem eu e Michelle teríamos motivos para viver. Estava tudo arruinado, e se estivesse certo, iríamos encontrar Kaio com pouco tempo, onde quer que ele estivesse. Iríamos abraçar aquele corpo magro que nunca engordava. Com certeza Michelle iria beijar aquela face morena, acariciar aqueles cabelos curtos e negros como a escuridão que sufoca os nossos sentimentos no momento. Agora consigo entender. Agora acabei de conhecer. Uma voz chegou nos meus ouvidos sussurrando, chamando a morte. O meu coração, por alguma razão respondeu, perguntou quem desejava acabar com a sua dor. A resposta veio logo em seguida: "Prazer, Suicídio!"
Lágrimas quentes que escorrem sem parar. Sussurros que não encerram. Ele chama. Será que vou? Como chamarei a morte? Talvez...
Peço licença a Michelle mentindo dizer ir ao banheiro lavar o rosto.
Desvio o meu caminho, indo a cozinha. Alguma coisa. Objetos cortantes, perfurantes, venenos, remédios; Qualquer coisa.
---- Amor, tudo bem? Você não ia ao banheiro?
---- Estou vindo de lá.
---- E por qual motivo vasculha essas gavetas?
---- É que esqueci a senha do cofre do quadro, e queria pegar algo lá. Suspeitei que tivesse escrito em papel e guardado aqui.
---- Isso é simples, Amor. É a data em que adotamos Kaio.
---- Ah, sim! Obrigado, Amor! ---- Falhei. Teria agora que seguir para a sala novamente, e abrir o cofre para não levantar suspeitas. Para fingir, mexi em alguns papéis e notei algo que não havia lá da última vez que olhei. Havia uma carta. Kaio!
Não medi esforços em gritar Michelle.
---- MICHELLE! --- Ela vem devagar.
---- Dreen, por que toda essa gritaria?
---- Amor, o Kaio... Ele deixou uma carta, e é para nós dois! --- Nossos olhos brilharam como nunca. Uma chama de esperança queimou ardentemente.
---- O que está esperando, Dreen? Vamos, vamos abra isso logo. --- sem mais delongas abria carta. Sentamos no sofá e li em voz alta o que estava escrito na mesma:" Senhor e senhora Park,
Venho através desta para dizer que não precisam se culpar pelo fato acontecido. Tive os meus motivos como qualquer outra. Como aqueles que perderam e estão prestes a perder sua segurança. Para mim, a morte foi a única saída, acreditem. Mas por favor, não pensem isso como forma de sair das suas dúvidas, dores da vida, aquelas que normalmente ferem sua alma. Estas, devem superar com a vida, traçando objetivos, atravessando desafios e superando o próprio ego. Eu diz isso para ajudar o senhor, Dreen Park. Ou melhor, Pai. O caso Erick tem relação ao meu falecimento, vocês entenderão depois que assistirem o vídeo de preparei para vocês. Mas, infelizmente não poderei dizer onde está assim, de primeira. Direi uma pista. E antes que se perguntem o por que, estou seguindo ordens de um mandante. Pois sem mais delongas, a pista:
'Diante as lágrimas algo sufoca, o canto escuro te consola. Depois da morte nada pode mudar, penas as larvas vão lhe dizer adeus ao corpo que morre com a mata. Madeira que forra, maquiagem que tampa as cicatrizes e o trabalho que tira os sentimentos'
Desejo uma boa sorte, Pai e Mãe.
Um abraço e os sinceros sentimentos do seu filho Kaio Park".

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Prazer, Suicídio
Misterio / SuspensoMeu nome é Dreen Park. Sou detetive de primeira linha investigativa da polícia de NY. No momento me encontro em um caso complicado, onde dois adolescentes morreram. Até onde esse caso vai? Esse caso me chamou a atenção, por que? Que tal descobrir?