5. Incredulidade

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"Não admito que seja da natureza masculina mais do que da feminina ser inconstante e esquecer quem se ama, ou quem já se amou." – Persuasão, Jane Austen.

Miguel acordou com uma baita ressaca. Sua cabeça doía tanto que ele mal conseguia abrir os olhos na claridade. Naquela pequena confusão que se seguiu ao acordar e tentar entender o que estava acontecendo, Miguel se lembrou de tudo como um flash passando pela sua cabeça.

Julia estava noiva.

Como isso era possível? Era inacreditável! Ela estava noiva de outro homem.

Isso aumentou terrivelmente sua dor de cabeça e aquele sábado foi um dia perdido.

Miguel levantava cedo, ia para o trabalho, seguia a sua rotina. Mas quando ele tinha um único momento de distração, sua mente voltava no mesmo assunto: Julia.

Aquilo já estava ficando chato, mas ele não conseguia esquecer. Não conseguia deixar de pensar nela.

"Qual é o meu problema?" – pensava ele constantemente.

Até que um dia se pegou passando em frente à escola que ela trabalhava, totalmente fora do seu percurso. Foi aí que ele percebeu que tinha alguma coisa muito errada com ele.

Eles não se falavam, não se viam, há dois anos. Agora era tarde demais e ele tinha que deixar isso no passado.

Ela tinha seguido em frente. Ele deveria fazer a mesma coisa. Talvez fosse a hora de arrumar uma namorada. Uma namorada séria, nada de só ficar por uma noite. Era disso que ele precisava.

Nos dias que se seguiram, ele foi a bares e boates com Gustavo. Toda noite ficava com uma mulher diferente, mas não conseguia encontrar o que procurava.

O vazio estava ali. E era incômodo. E era óbvio, mas ele insistia em não querer ver, não querer saber o que estava acontecendo. Até que um dia, voltando da balada, sozinho depois de rejeitar algumas investidas de mulheres bonitas, ele constatou o óbvio.

Ele precisava dela. Não tinha jeito. Julia era o seu grande amor e ele, como um idiota, jogou tudo fora. Era inegável: aquela situação toda era culpa dele.

Foi ele quem terminou tudo com ela. Foi somente então que ele pensou em como ela devia ter se sentido. Como ela devia ter sofrido! E por sua causa. Chegou em casa arrasado. A verdade lhe acertou como um soco, bem na boca do estômago. Julia não estaria noiva de outro se não fosse por sua causa.

― Você está com uma cara péssima – anunciou sua irmã ao entrar na cozinha e se deparar com ele sentado na mesa tomando uma cerveja.

― Delicada como sempre – ironizou Miguel.

― O que aconteceu? – perguntou Marina, que era dois anos mais nova que ele.

Miguel, pela primeira vez, falou de sua angústia para alguém, do quanto se arrependia do que tinha feito. De como se sentiu quando a viu ficando noiva de outro cara. De como tudo aquilo era culpa dele e de como isso era inacreditável.

― Bom, meu irmão, você realmente fez uma merda enorme. E eu sempre soube disso desde quando vocês terminaram.

― Aparentemente todos sabiam, menos eu.

― Você foi um idiota – acusou Marina sem meias palavras.

― Eu sei.

ArrependidoOnde histórias criam vida. Descubra agora