"Nunca houve dois corações mais abertos, nem gostos mais semelhantes, ou sentimentos mais em sintonia." – Persuasão, Jane Austen.
Pedro voltou ansioso para encontrar Julia, pois ficar esses três dias longe dela tinha sido demais para ele. Estava com muitas saudades. Chegou em casa, tomou um banho e mandou uma mensagem para ela dizendo que queria encontrá-la. Ela achou melhor ir até a casa dele.
Quando Julia chegou no prédio em que Pedro morava e apertou o interfone, sentiu suas pernas tremerem. E é claro que uma leve incerteza passou por sua cabeça. Mas ela sabia que aquilo seria inevitável. Respirou fundo e quando ele abriu a porta, subiu.
Pedro já estava com a porta aberta quando ela chegou em frente ao apartamento dele.
― Olá, meu amor! Feliz ano novo! – disse ele abraçando-a.
Julia virou o rosto para se esquivar do beijo.
― Feliz ano novo – disse ela dando um beijo no rosto dele. – Como foram as coisas no hotel?
― Foi uma correria louca, mas eu gostei.
Os dois entraram e Pedro fechou a porta. Julia sentou-se no sofá.
― E como foi o seu ano novo? Você ficou com a sua mãe? – perguntou Pedro sentando-se ao lado dela.
Julia percebeu que não teria escapatória. Essa era a hora.
― Então... A gente precisa conversar sobre isso.
― Por quê? – perguntou Pedro.
― Eu passei o ano novo com Miguel.
― O quê? – Pedro praticamente cuspiu as palavras. – Por quê?
Julia lhe contou que Miguel vinha lhe procurando a algum tempo, que ele tinha visto o noivado dos dois e que ela estava em dúvida sobre o que fazer até a noite de ano novo.
― Julia, isso é inacreditável! – exclamou Pedro com raiva, levantando-se do sofá e ficando de costas para ela.
― Eu sei, me desculpe por não ter te contado antes.
Eles ficaram em silêncio. Ele com medo de perguntar e ela com medo de dizer.
― Mas... afinal, o que você decidiu? Você quer ficar com quem? – perguntou ele finalmente, sem conseguir esperar mais um minuto, virando-se para ela.
Julia respirou fundo antes de responder.
― Durante este tempo que nós estamos juntos, eu tentei de todas as maneiras esquecer o Miguel. Ainda mais porque você é um homem maravilhoso, Pedro. – ela parou tentando encontrar as palavras – Mas a verdade é que esse tempo todo eu estava mentindo para mim mesma.
― Não – disse ele sem querer ouvir o resto.
― Me desculpe, mas eu ainda amo o Miguel, nunca deixei de amá-lo.
― Não fala isso, Julia – Pedro estava arrasado. – Por favor, não diga uma coisa dessas. O cara te deu um pé na bunda, te sacaneou, com você pode dizer isso?
Julia se sentiu muito mal, pois nada daquilo era mentira. E mesmo assim, o sentimento estava lá.
― Eu sei, Pedro. E a verdade é que se isso fosse uma escolha racional, é claro que eu escolheria você. Eu sei que isso é uma coisa horrível de se dizer, mas é a verdade. Porém, não é uma escolha puramente racional. – Ela se levantou e se aproximou dele – E o meu coração é dele, Pedro. Sempre foi dele.
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Arrependido
Short StoryMiguel procurava focar naquilo que tinha de bom: tinha um ótimo emprego, o carro do ano e bons amigos. Isso tudo bastava. Aos finais de semana, ele sempre saía para a balada e ficava com uma mulher diferente. Não era o que todo homem solteiro deseja...