8. Incertezas

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"Em vão tenho lutado comigo mesmo; nada consegui. Meus sentimentos não podem ser reprimidos e preciso que me permita dizer-lhe que eu a admiro e a amo ardentemente." – Orgulho e Preconceito, Jane Austen.

Miguel saiu da casa de Julia e foi direto para a sua casa. Muitas emoções estavam borbulhando dentro dele. Um misto de culpa, de tristeza, de derrota. Esse era o fim. Agora ela estava perdida para sempre.

Na verdade, o pior de tudo era saber que ele a tinha perdido há dois anos atrás, por sua própria ignorância. Ele colocou tudo a perder com uma atitude mesquinha, egoísta e, acima de tudo, imatura. E agora ele tinha perdido o amor de sua vida. Pois era exatamente isso o que Julia era: o amor de sua vida. E ele só conseguiu enxergar isso nitidamente quando já era tarde demais.

A vida é feita de escolhas, e suas péssimas escolhas o tinham levado até ali. Agora o certo a fazer seria seguir em frente. Bastava saber se ele iria conseguir.

Julia ficou paralisada em seu portão. Definitivamente ela não esperava por nada daquilo. Ela entrou em casa com a declaração de Miguel ecoando em sua cabeça. Ele ainda a amava.

Como uma coisa daquela podia ser verdade após dois anos? Porém, mais do que ouvir a afirmação dele, ela sentiu. Ela sentiu que ele estava dizendo a verdade. E aquele beijo... Aquele beijo expressou muito mais do que as palavras poderiam expressar... E todo aquele rancor que ela guardava dele desmoronou com aquelas palavras. Julia se perguntava como podia ser tão estúpida. Tinha jurado para si mesma que nada do que ele dissesse iria convencê-la a aceitá-lo de volta, mas bastou que ele a pegasse desprevenida para que logo uma onda de sentimentos a invadisse.

"Meu Deus, eu não posso ser assim tão fraca."

Porém ele disse que não iria mais procurá-la. Com certeza seria melhor assim...

Os dias foram passando e se tornando semanas... Miguel estava funcionando no automático. De casa para o trabalho, do trabalho para casa. Ele nunca tinha pensado que uma dor de cotovelo realmente doesse tanto. Tinha vezes que parecia que seu coração estava apertado dentro do peito... Era uma dor física. Ele chegou à conclusão de que não tinha sentido isso antes porque nunca tinha se dado conta de que tinha perdido Julia. Não até aquela despedida no portão.

Será que ele tinha feito a coisa certa? Será que esse realmente era o fim da história deles?

Essas dúvidas pairavam em sua cabeça o e mantinham imerso em seu próprio mundo. Gustavo até tentou carregar o amigo para a balada e para bares, mas não deu muito certo. Miguel estava preso em seus próprios sentimentos, e nenhum bar ou mulher conseguia tirá-lo de dentro de si mesmo.


Julia estava levando a vida quase normalmente. As coisas estavam indo bem, quando ela não pensava em Miguel. Seus dias estavam corridos devido ao fechamento do bimestre. Tinha tantas provas para corrigir e diários para fechar que não tinha tempo para mais nada. Pedro também estava agarrado no café com as confraternizações de final de ano, então os dois estavam se vendo pouco.

Mas vez ou outra ela se lembrava de Miguel e da última conversa que eles tiveram. Aquilo que ele disse... Não saía de sua cabeça. Será que ele não ia mais procurá-la mesmo? Isso era bom, não era? Ela não deveria querer que ele a procurasse e ficasse falando coisas que faziam sua raiva diminuir. A raiva era sua arma contra ele. Além disso, tinha Pedro, claro, seu maravilhoso noivo que a fazia feliz, acima de tudo. Pedro, que era um homem bom, fiel, amoroso... Sempre pronto para fazer qualquer coisa para agradá-la. Era nisso que ela se apegava.

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