m e n s a g e m

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"Apenas relaxe, vá com calma
Você ainda é jovem
Há muita coisa que você ainda tem que saber."

-Cat Stevens

***

Sim, no dia seguinte eu havia terminado o livro que meu pai escreveu e era simplesmente esplêndido com um final que até hoje não desvendei. Não acreditava que meu pai era capaz de escrever algo assim, consequentemente fiquei cheio de expectativas para o que você ia achar.

Eu estava pronto para lhe entregar quando entrei na escola, mas em dias de terça-feira a gente não tinha aula juntos. Então fiquei esperando ansioso para o almoço e como forma de passar o tempo comecei a fantasiar nos dois conversando sobre aquele livro, nos dois rindo e em algum momento, você pararia de rir e ia me encarar com seus olhos azuis e eu ia retribuir e coisas iam acontecer.

É, eu fantasiava muito nesse tempo, não nego que até hoje, às vezes.

Quando entrei no refeitório Melissa já estava sentada me esperando pacientemente e naquele dia resolvi não comer, estava nervoso e receoso de ganhar algum peso.

E então você entrou.

Eu podia jurar que seus olhos estavam encarando os meus enquanto você andava até sentar à mesa esbanjando seu belo sorriso. Porém, não posso afirmar se isso aconteceu realmente, pois agora sei que a mente é capaz de fazer com que enxerguemos apenas o que queremos ver.

E eu queria que você gostasse de mim. Que me visse de verdade.

Bom, você estava sentando ao meu lado e eu não conseguia parar de ti olhar enquanto sorria animado. Naquele momento eu tinha até mesmo esquecido que havia um livro em minhas mãos e que aquele mesmo livro tinha que ir para suas mãos.

Só que você iniciou uma conversa com Melissa e eu esperei.

Quando terminou de falar alguma coisa com ela, você me encarou.

- Você já terminou o livro?

A única que conseguiu sair da minha boca foi.

- Sim.

- É bom?

- M-Melhor que bom. É tão magnífico e sensível que faltariam adjetivos para descrever tamanha perfeição. - quando essas palavras saíram fiquei extremamente envergonhado. Eu parecia tão bobo falando.

O pior é que eu sempre me empolgava quando falava de livros, principalmente aquele em especial.

- Uau - você sorriu novamente, dessa vez de um jeito tímido.

Ainda não acredito em como você conseguia fingir tão bem?

Talvez nem você saiba.

Bom, depois da minha empolgação sem sentido eu lhe entreguei o livro e você, como agradecimento, passou a sua mão direita pela minhas costas e apertou meu ombro de leve.

Todo meu corpo se arrepiou. Saiba disso.

Eu me lembro que naquele instante senti que havia corado tanto, mais tanto, que era possível a escola toda ler meus pensamentos, até os mais pervertidos, principalmente o que pensava em nos dois se beijando.

Mas você continuou lá, apertando meu ombro enquanto encarava a capa preta do livro que lhe entreguei. Eu permaneci átono sem saber o que dizer, pensar ou expressar.

Eu estou perdidoOnde histórias criam vida. Descubra agora