I Never Cry

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  "Essa vai para aqueles cujos nomes ainda se encontram esquecidos e apodrecendo na imensidão de um espaço vazio. Brutalizados por ser o que sempre foram, nascendo flores em meio aos espinhos e caos. Para as pétalas despedaçadas que foram desviadas e enterradas em torpe caminho, sem chance de salvar-se ou de retaliação"  

Eu sou a filha de alguém 

e mesmo assim você me despedaçou

Eu era a criancinha de alguém, 

mas mesmo assim você me perfurou

Eu fui a cria de alguém  

mesmo que ela em seu ventre 

várias vezes me renunciasse

Eu fui como a p*ta da sua mãe era

Talvez ela devesse ter te alimentado mais

Eu fui como a p*ta da sua mãe era

Talvez ela devesse ter te oferecido carinho

ao invés de palavras frias e duras

além de mãos distantes e pesadas

Quantas parecidas comigo 

você encontrou em seu caminho sujo?

Você fantasiava com ela 

enquanto me brutalizava?

Então apenas me diga

 eu vestia as cores que ela vestia

enquanto ela te espancava?

Eu sorrio como ela sorria

enquanto ela te humilhava e abominava?

Então por que teve que ser eu?

Foi só por seu caminho ter cruzado?

Acidentalmente nas travessas da vida

Me diga cara a cara

mesmo que agora só seja ossada

Teria sido diferente

se tivesse me afastado de ti,

se outra carona tivesse pegado?

Eu só não queria que tivesse acabado assim

com dor, lagrimas e muito sangue derramado

Com minha existência se tornando nada

As vezes pensei que podia ser diferente

Se nós não tivéssemos nascido

nesse mundo tão cruel e depravado

Se fossemos almas livres e leves

ao invés de pesos acorrentados

sobrevivendo sempre a mais um dia

Eu me vestia com o que podia

Eu me vestia com o que suportava ser

Eu me vestia com minhas cores e peles

Eu me vestia como a p*ta da sua mãe

Eu não sabia, mas me vestia para morrer

É tão escuro, solitário e sujo

quando você é só mais um

dentre tantas mulheres aniquiladas

por uma selvageria mascarada

causada por um lobo em pele de cordeiro

Eu só queria poder respirar mais uma vez

e dizer adeus à aqueles que amei

ou pelo menos acreditava amar

Não havia realmente liberdade

tudo que vivemos foi uma bela mentira

O mundo real é cruel e eu nunca quis acreditar

Em minha tola e cega confiança eu tropecei

e desse tombo eu jamais iria me recuperar

Pois minha existência quebrou-se em mil

junto com minha aparência que se decompôs

tornando-se nada além de ossada desgastada.


Depois da Meia NoiteOnde histórias criam vida. Descubra agora