Allen

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[MINSEOK POV]

Covardia é uma palavra que me define bem.

Meu nome é Kim Minseok Allen, tenho dezessete anos e sérias crises de existência.

Na minha opinião, o mundo em si é um campo de guerra. Sempre vai existir alguém pior que você e alguém melhor que você. No meu caso, não existe ninguém pior do que eu. Portanto eu estou na base da cadeia alimentar, servindo de apoio para que os outros pisem em mim e consigam alcançar o que querem lá no topo. Eu chamo isso de caridade, você chama de covardia.

Não tenho amigos, e nem quero. Essa sociedade é hipócrita. Fala mal de você pelas costas e depois bate na porta de casa para chorar as pitangas. Na verdade, eu tenho alguns colegas com quem passo o intervalo, mas eu nunca tive afinidade o suficiente para me abrir com ninguém. Ou talvez eu não queira me abrir com ninguém.

Às vezes eu fico perdido em meus pensamentos, procurando respostas para perguntas sem lógica, e minha mente fica uma zona e eu acabo mandando alguém ir tomar no cu.

Uma hora eu estou feliz, e na outra eu estou triste. Quando eu fico mal, procuro não deixar que as pessoas próximas a mimpercebam, embora elas não me notem. Eu odeio ter que falar sobre meus problemas, isso acaba me deprimindo mais. Por isso que, mesmo estando triste a maior parte do tempo, eu passo a imagem de feliz, não estou a fim de incomodar os outros.

Não acredito na sentença "eu te amo". Se for para ouvir um "eu te amo" da boca para fora, eu falaria com o Google tradutor. Apenas dizendo.

Enfim.

Minha família se resume a somente minha mãe, meu padrasto, meu irmão mais velho que se mudou para um lugar tão longe quanto a puta que pariu quando fez dezenove anos, e eu.

Meu primeiro pai eu nunca conheci, e também nunca procurei saber. Se o passado se chama passado, é porque passou e temos
que esquecer a coisa toda. Por isso se chama passado e não "lembre de mim e se suicide".

Bom, eu tenho cabelo loiro (não são naturais mas isso não interfere na minha vida), olhos castanhos e um sorriso recém reformado por aparelhos.

Minha vida? Chata.

Eu normalmente me levanto, vou ao trabalho pois estudo de tarde — o que também é chato — volto para casa, tomo banho, vou pro meu pequeno círculo social chamado colégio onde aprendo coisas tão inúteis quanto eu, volto pra casa novamente, como alguma coisa, tomo um banho mais demorado ainda e vou dormir.

Não gosto de conversar com meus familiares. Apesar de serem muito legais, meus pais acham que eu tenho depressão ou algo do tipo, mas a questão é que eu simplesmente não quero contribuir para a alegria da sociedade.

Eu sou uma pessoa bem humorada, logicamente, viver de negatividade é uma desgraça. Mas desde quando entrei na adolescência eu só tenho vontade de mandar todos se ferrarem e ir para o meu quarto ouvir umas bandas que ninguém conhece.

No momento o mundo não está numa boa hora. Há uma tal de Infecção Variskar por aí e estão todos apavorados. Graças a isso, minha rotina de chatice foi rompida e agora estou escondido no porão com meus pais.

— Que saco. — Eu disse, dando uma bufada. — Esqueci meus fones no quarto, posso ir lá pegar, mãe?

— Não, querido. Você ouviu o que os bombeiros disseram "fiquem em um esconderijo". E aqui ficaremos.

— Mãe, não tem nenhum monstro andando pela casa e comendo nossos móveis. Sério, não estou mais aguentando ficar aqui contando os fios do meu cabelo.

— Deixe ele ir. — meu pai, disse. — Mas vá rápido. Dito isso, eu abri a porta e me dirigi ao meu quarto.

— Droga, cadê esse fone? — Eu falei a mim mesmo, revirando a cama e a escrivaninha. — Ah, já sei.

Me lembrei que minha mãe tinha pego o fone para ouvir uma de suas receitas online, então fui até seu quarto.

Ao chegar lá, o fone vermelho e branco estava em cima do criado-mudo, mas a porta aberta do guarda roupa me chamou a atenção.

Lá dentro havia uma caixa prateada, eu a peguei e abri sem cerimônia. Achei que fosse ter tipo um míssil de explosão nuclear, mas era só um par de... supras?
O tipo de tênis que eu mais gosto de usar são as supras.... Será que são para mim?Era um belo par, era vermelho e tinha um raio dourado na lateral.

— Mas que belezinha! Peguei a caixa, o fone, e voltei ao porão.— Mãe, que tênis são esses?

Minha mãe e meu pai se olharam. O medo estava em seus olhos, eu pude sentir.

— Vocês estão escondendo algo de mim? — Eu lhes perguntei.

— Filho — meu pai disse —, escondemos para seu próprio bem.

— Mas, pai, são apenas tênis. Qual a finalidade de esconder isso?

— É que... não são apenas tênis, querido. — Minha mãe disse, se aproximando de mim e pegando minha mão.

— Pois parecem tênis. — Eu disse, olhando pra eles com.. dúvida.

— Não disse que não eram, só disse que não são tênis comuns. Escute, filho, eu preciso que, aonde você for, você os leve com você!. — Minha mãe comentou, dando uma leve bufada no final da frase.

— Não entendo, vocês escondiam isso de mim e agora não querem que eu solte. Vocês me deixam confuso. — Eu disse, pegando o fone de meu bolso.

— Filho, infelizmente não posso lhe contar mais nada... — Minha mãe respondeu, olhando para meu pai com um olhar suplicante.

— 'Tá, não pode me contar sobre o quê? — Eu lhe perguntei.

— Você irá descobrir em breve. Um futuro brilhante te aguarda. — Meu pai falou, dando um tapinha em minhas costas.

— Já digo que vão se decepcionar, agora com licença que eu vou ficar em meu pequeno universo onde sou gradualmente feliz.

Dito isso, eu peguei a caixa, coloquei meu fone na entrada do celular e me sentei em um canto do porão.

Não acho que fiz errado em alertar aos meus pais que eu vou ser uma grande decepção, como sempre. Apesar de que eles já devem estar acostumados com a inutilidade que eu apresento desde os onze anos.

Não os culpo, deve ser uma droga ter um único filho que não te abandonou mas que é um fracassado.

Meus pensamentos e minha música foram interrompidos pelo grito de minha mãe, o que me fez ficar mais confuso ainda.

— Minseok, eles estão aqui. Eles vão te tirar de nós! Olhei para ela e quatro homens seguravam ela e meu pai, dois deles vinham em minha direção e eu só pensei em o quão rápido tudo aquilo aconteceu.

— Você, loiro, venha conosco. — Um dos caras disse.

— Você tá louco, tio? — Eu retruquei em deboche.

— Se não vier por bem, vai por mal.

— Minseok, você precisa ir. — Era meu pai. — Deve cumprir sua missão. Sua mãe e eu sempre soubemos que esse dia chegaria. Vá!

— Que missão? Do que vocês estão falando? Eu não posso abandonar vocês! — Os caras me pegaram pelo braço e me arrastavam pelo chão.

— Me soltem ou pelo menos levem aquela caixa! Ela é importante!

— Adolescentes. — O cara disse, revirando os olhos. — Peguem a maldita caixa e o levem para dentro do carro.

Tudo o que eu vi era meus pais chorando, fumaça por todo lado e meus olhos cobertos por água.

— Mãe! Pai! — Eu gritava — Aonde estão me levando? Não deixem eles me levarem! Por que estão fazendo isso?

— O mundo precisa de você, filho. Seja valente.

Eu não tinha mais palavras no momento, apenas tive que assistir minha família em prantos cercada por caras de preto, e eu completamente indefeso sendo jogado dentro de uma van preta.

O silêncio e a escuridão me assustam.

Bad Heroes • pcy + bbhOnde histórias criam vida. Descubra agora