Os meus pensamentos voam para um passado longínquo, na altura em que a minha tia teve um cancro, igualmente na mama. Lembro-me de ouvi-la desabafar sobre o apoio que precisava por parte do marido, apoio esse que não teve. Aquele monstro a quem eu chamava tio disse à minha tia que tinha nojo dela e que, para ele, ela tinha morrido.
Aquele animal não esteve lá para ela uma única vez. Mais, ele e o meu pai trabalhavam no mesmo sítio e o meu pai é que saiu para ir buscar a minha tia ao hospital, porque ele lhe pediu. Aquele... Animal, aquele verme, aquele estupor, humilhou-a uma vida inteira. O que me irritava mais era o facto de a minha tia não fazer nada para mudar isso, queixava-se e queixava-se, mas continuava a sujeitar-se àquela humilhação, ainda o defendia dos seus erros. E a razão não era o amor, porque aquela relação não tinha amor há já muito tempo.
Deixou de ser meu tio, deixei de ter consideração por ele. Mas piorou quando soube que desprezava o filho. Só queria saber da filha mais velha, não contribuía para nada daquilo que o meu primo precisava, não lhe deu um presente de anos, nem um presente de Natal. No entanto, numa noite de Natal, chegou ao pé do sobrinho e entregou-lhe um envelope com dinheiro. E o meu primo? Nada.
A partir do dia em que soube daquilo, eu recusei-me a passar minuto que fosse com ele, podia morrer longe que eu não iria querer saber.
Saber que tenho Niall comigo nesta altura, saber que tenho o meu marido a apoiar-me deixa-me em baixo, porque penso na possibilidade de ele não estar e isso não me deixa respirar, o que me faz pensar que foi isso que a minha tia sentiu. Não desejo isso a ninguém, só de pensar que podia não ter o apoio de Niall... É algo tão doloroso, tão impossível de conceber.
"No que é que estás a pensar?" A voz de Niall acorda-me dos meus pensamentos.
"Estava a relembrar umas coisas." Respondo e aconchego-me no seu peito, escondendo o rosto.
"Coisas más?" Quer saber e eu suspiro, voltando a deitar a cabeça no seu braço e olhando para si.
"Um bocado." Respondo, vendo os seus olhos encherem-se de preocupações.
"Conta-me." Pede e entrelaça os dedos nos meus cabelos.
"Estava a pensar na minha tia, e em como o homem que estava com ela não a apoiou quando ela estava doente e que-" Começo.
"Shh, para, isso não vai acontecer contigo." Interrompe.
"Eu não sei, eu apenas... Eu pensei na possibilidade e, Niall, isso quase me matou. Eu jamais seria capaz de fazer isto sem ti." Desabafo.
"Isso nunca irá acontecer, Rita, nunca. Eu vou estar sempre aqui, está bem?" Pergunta e acaricia o meu rosto ao mesmo tempo que eu assinto. "Nós vamos ultrapassar isto." Acrescenta e deixa um beijo na minha testa.
"Desculpa não ter acreditado em ti." Peço e Niall olha-me confuso.
"De que é que estás a falar?" Pergunta.
"Da Barbara, ela drogou-te, seduziu-te, acabou com o nosso casamento e fez-me odiar-te e tratar-te mal durante sete meses. Quase toda a gente dizia que a história daquela noite estava mal contada e era estranha, mas eu continuava a defender que tu me tinhas traído porque quiseste fazê-lo. Sinto-me terrivelmente mal por não ter percebido que tu jamais me farias uma coisa dessas." Desbobino e Niall fica surpreendido com as minhas palavras.
"Não te podes culpabilizar por um erro que foi meu, eu jamais deveria ter aceitado beber um copo com a Barbara. Tu ficaste magoada e eu não tinha uma justificação que te fizesse mudar de ideias, nem eu próprio sabia como é que aquilo tinha acontecido. É normal que tenhas ficado irritada comigo, eu também ficava, mesmo pensando que tu não serias capaz, porque foste. A culpa aqui é da Barbara e da sua obsessão doentia por mim." Niall defende-me e eu sinto um certo alívio ao ouvir tais palavras vindas da sua boca.
A campainha toca, interrompendo a nossa conversa.
"Eu vou lá." Niall levanta-se de imediato e sai do quarto numa pequena corrida. Passado pouco tempo, oiço vozes no andar de baixo, muitas vozes.
Quase tenho um enfarte ao ouvir a voz de Louis gritar.
"Jantar para mais dezassete!" O som de algo cair e partir-se soa e eu fecho os olhos, balançando a cabeça.
"A tia Rits vai chatear-se contigo, papá." A vozinha de Margaret soa e eu rio-me.
"Olha o que fizeste, sua besta quadrada!" Niall resmunga.
"Oh não!" Edwin grita e imagino todas as cabeças virarem na sua direção.
"O que é?" Darcy pergunta.
"A minha mãe adora essa jarra." Edwin responde e os meus olhos arregalam. Levanto-me da cama e caminho para fora do quarto em direção às escadas ao mesmo tempo que ajeito o colar fino que Niall me ofereceu com um N.
"Para eu estar sempre contigo."
As suas palavras invadem a minha mente e eu sorrio.
"Bem, já não é uma jarra." Henry aponta.
"Tu és inconveniente, não és?" Charlotte pergunta e oiço alguns risos antes de os ver no meu campo de visão.
"Quem é que partiu a minha jarra favorita?" Pergunto mesmo sabendo a resposta. E, a seguir, o Harry responde ao mesmo tempo dos miúdos.
"Foi o Henry!"
"Foi o tio Harry!"
"Ei!" Henry resmunga e cruza os braços.
"Não atires as culpas para cima do meu filho, parvalhão." Marta rosna.
"De facto, a culpa foi dele visto que ele vinha a dar-me umas coisas a que chama murros." Defende e o meu queixo cai no chão.
"Eu não acredito que estás a culpar o Henry!" Digo.
"Sim, isso não se faz." Sophia diz.
"É uma atitude rude, tio Harry." Olivia diz e Harry olha-a embasbacado.
"Devias ser menos parecida com a tua mãe." Diz.
"Sim, às vezes és assustadora, Oli." Louis concorda.
"Podem deixar a minha filha em paz?" Pergunta Sophia.
"Agora não posso dar a minha opinião?" Harry guincha.
"Tu podes é varrer os cacos antes que os miúdos se cortem." Digo e todos os adultos olham para mim.
"Bem, obrigado." Niall ironiza e eu rio-me, descendo as escadas e colocando-me a seu lado.
"Os miúdos e tu." Reformulo e beijo a sua bochecha.
E depois apercebo-me de que toda a gente viu, pois tenho mais de quatro pares de olhos em mim.
Olá!!!! Espero que tenham gostado!
Beijinhos
Xx
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Tied Up |N.H| - Sequel of "A Concert Changed My Life"
FanfictionSete anos depois, a vida de Rita está diferente. Muito diferente... A sua relação com os rapazes continua ótima, mas o mesmo não se pode dizer do seu casamento... Estavam na crise dos treze anos. Será que não passa apenas de uma mera crise? "Eu nunc...