Capítulo 52

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Lá por ter sido extremamente calmo da última vez que nos vimos, não quer dizer que a probabilidade de lhe espetar a cabeça na parede tenha diminuído.

"O que é que fazes aqui?" Pergunto e vejo-o colocar as mãos nos bolsos.

"Eu falei com o Ed e ele disse-me que ela ia começar a radioterapia hoje." O meu sangue ferve quando diz que falou com o Ed.

"Porque raio é que foste falar com o Edwin?" Pergunto.

"Tem calma, eu não liguei para a Rita, porque não queria arranjar problemas entre vocês." Explica-se.

"Oh, então, decidiste ligar ao nosso filho?" Ironizo, dando ênfase ao 'nosso'.

"Ouve, eu não sou uma ameaça." Tenta tranquilizar-me.

Como não? Esteve entre mim e a Rita durante seis ou cinco meses, já nem sei.

"Estiveste no meio de nós, é um bocado impossível eu não te ver como uma ameaça." Atiro.

"Não sou, todos veem a forma como ela olha para ti. Ela nunca olhou para mim dessa forma." Diz.

Mas ele fazia-a sorrir da mesma forma que eu fazia. Ele fazia-a tão ou quase tão feliz quanto eu fazia. E isso deixa-me completamente fora de mim.

"Tu podes achar que não, mas eu via muito bem que a fazias feliz." Digo. "E é por isso que me estou a controlar para não te esmurrar. Apenas porque sei que ela gosta de ti e que me iria fuzilar se te fizesse alguma coisa." Justifico. "Mesmo depois daquilo que lhe disseste, que eu não sei e, sinceramente, não quero saber porque, provavelmente, não iria ser benéfico para o meu autocontrolo." Acrescento.

"É verdade que disse coisas estúpidas num momento de raiva, e estou arrependido. Quero que ela saiba disso, quero que ela saiba que, apesar de já não estarmos juntos, ela pode contar comigo." Diz e eu rolo os olhos.

"Na minha opinião, quanto mais longe estiveres de nós, melhor." Digo e ele ri-se levemente.

"Podes apenas fazer um esforço para nos darmos bem?" Pergunta.

"Claramente que não." Respondo num ápice.

"Meu, por ela e pelos miúdos. Eles gostam de mim e eu gosto deles." Rolo os olhos mais uma vez.

"Mas eu não gosto de ti, esse é o problema." Digo e ele suspira.

"Por ela." Repete e eu rolo os olhos, grunhindo.

Não quero, de todo, conviver com este gajo devido ao seu passado com a Rita, mas quero que ela esteja bem, e acho que ela fica bem se as coisas entre eles estiverem resolvidas. Por isso, posso fazer um esforço, ou não?

"Está bem, O'Brien, por ela." Aceito e ele sorri, estendendo-me a mão para a apertar. "Não abuses da sorte." Aviso e ele ri-se.

"Estou a ver que não seremos sequer amigos." Diz e eu encolho os ombros.

"Tu falaste em dar-me bem contigo, isso implica ser cordial. Ou seja, não estou a ver aqui nada relacionado com amizade." Atiro.

"Está bem, pronto, eu não insisto." Diz e eu assinto, achando muito bem.

"Fica sabendo que vou tolerar telefonemas e mensagens, mas se me apareces em casa para almoçar ou jantar, arranco-te a cabeça com uma frigideira." Ameaço e ele ri-se, assentindo.

"Fica descansado." Assegura e eu assinto.

"Dylan?" Uma voz chama e eu viro a cabeça, encontrando a Rita de olhos fixos no estupor do ex-namorado dela.

No Dylan, Niall, no Dylan. Lembra-te da cordialidade.

"Olá." Cumprimenta.

"O que fazes aqui?" Pergunta a minha miúda.

"Eu vim ver como estavas e aproveitei para falar com o teu..." Ele começa e olha para mim, voltando a olhar para ela. "Não sei bem o que lhe chamar neste momento." Desabafa e controlo-me para não libertar uma risada.

O cabrão tem piada.

Quero dizer, o Dylan, o Dylan.

"Como é que sabes que estava aqui?" Pergunta.

"Falei com o Edwin." Responde e Rita assente, olhando para mim. Dou-lhe um sorriso leve para lhe dizer que estou à vontade com a situação, dentro dos possíveis.

"Obrigada por teres vindo ver como estava, correu tudo bem." Diz e Dylan assente.

"Ainda bem, eu fiquei preocupado quando soube que ias fazer mais radioterapia." Diz e ela sorri.

"Temos sempre de fazer radioterapia. Só se faz quimioterapia em casos mais graves, que foi o meu." Explica.

Burro.

Farto de estar sentado a assistir, levanto-me e caminho para eles. Mas, nesse preciso momento, outro gajo decide passar no meio. Ou seja, esbarro com ele.

"Desculpe!" Peço e o rapaz que deve ter os seus trintas, olha para mim como se me tivessem crescido duas cabeças.

"Não tem mal." É rápido a responder.

"Diogo?" A voz da Rita chama e ele vira-se para ela.

Quem é este? Nem sei dizer o nome dele.

Ele responde-lhe em português, o que me faz engolir em seco e puxar pela cabeça. Eu conheço o nome dele. Vejo a Rita sorrir e abraça-se a ele, conversando com ele em português.

Estou completamente aos papéis nesta conversa.

Até que uma luz se acende na minha cabeça.

Português, gajo, Diogo.

Quando olho para ele com mais atenção, reconheço o penteado que nunca mudou. Porra, não pode ser.

Recuo até aos três anos em que estive separado da Rita. Mais precisamente, até ao dia em que ela me disse que tinha namorado, que tinha seguido em frente. O meu peito começa a doer à medida que me lembro do que senti naquela noite, da loiça que parti naquela noite, da jarra que parti naquela noite e da queca que dei naquela noite para esquecer tudo.

Uma pequena parte de mim acredita que não é ele, mas o penteado que tanto vi nas fotografias de grupo deles não me engana. Quero acreditar que não é ele, mas grande parte de mim diz-me com todas as certezas que é ele.

O dia não podia estar a correr melhor, porra. A minha filha foi estudar para casa do namorado, o estupor do O'Brien aparece-me aqui e agora o namorado português da Rita esbarra comigo.

Mas isto agora é uma reunião de ex-namorados?

Olá!!!!! Espero que tenham gostado!

Beijinhos

Xx

Tied Up |N.H| - Sequel of "A Concert Changed My Life"Onde histórias criam vida. Descubra agora