Capítulo III - Um Corpo No Banheiro

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     — O que que é isso aí? — Johnny gritou no meio da pista de dança — Luciel, o que você pensa que está fazendo com a minha garota? — Ele suspendeu as mangas da camisa e caminhou furiosamente até o rapaz e lhe deu um soco no rosto, com o impacto Luciel caiu no chão e antes que Johnny acertasse um chute em sua barriga, Stella entrou na frente, enquanto isso alguns alunos que estavam ali perto vendo a situação o seguraram:

     — Johnny, para! Ele só estava sendo gentil comigo! — Stella falou desesperada enquanto ajudava Luciel a se levantar — Eu o chamei para dançar, já que você estava ocupado demais para dançar comigo!

     — Você vai me pagar por isso, careta! — Ele berrou enquanto alguns alunos o tiravam dali — Ah, se vai, pode ter certeza disso, moleque!

     — Por que você não me disse que era namorada dele? — Luciel perguntou a Stella constrangido enquanto se levantava e arrumava sua roupa — Poderíamos ter evitado isso tudo.

     — Desculpa, eu te vi sentado naquela cadeira sozinho e...

     — Antes tivesse me deixado sozinho! — Ele a interrompeu, sua voz demonstrava desaponto.

     — Mas eu não sabia que isso iria acontecer! — Ela ainda insistia em se justificar — Ele estava se divertindo... Eu também queria me divertir um pouco

     — Está tudo bem, agora eu só quero ficar sozinho, por favor — Ele falou enquanto se dirigia ao banheiro — Vai lá ver como o seu namorado está. Pra mim, isso aqui já deu!

     Visando melhorar o ambiente causado pela confusão, o representante geral anunciou a Dança de Gala, para posteriormente coroarem o melhor casal como rei e rainha. Todos os alunos pegaram seus pares e caminharam para a pista de dança. Enquanto todos os alunos dançavam valsa na esperança de serem os escolhidos a rei e rainha, Luciel preferiu ficar no banheiro, lavou o rosto no lavatório para limpar o sangue em sua boca, causado por um pequeno corte provocado pelo soco. Em seguida, entrou na última cabine e trancou a porta. Para se distrair pegou de seu bolso um minilivro e decidiu ficar por ali mesmo. Após alguns minutos a sua leitura foi interrompida por alguém escancarando a porta do banheiro violentamente. Era Johnny que havia entrado e pelo tom de voz  estava claro que havia se estressado novamente:

     — Aquele garçom idiota tinha que ter derramado vinho em mim? — Ele parou no lavatório para se limpar — Essa porcaria vai acabar manchando minha camisa branca!

     Quando Luciel reconheceu a voz se encolheu todo para não ser notado, mas por causa dos movimentos abruptos de suas pernas o seu celular acabou pulando para fora do bolso e caindo no chão:

     — Quem está aí? — Perguntou Jhonny irritado — Não vou perguntar de novo, quem está aí? —  Ele se virou e foi em direção às cabines, abrindo uma por uma, até parar na porta em que Luciel estava, que por sinal era a única que estava fechada:

     — Quem está aí? — Johnny bateu duas vezes na porta — Fala logo! — Ele parou de falar, olhou para o chão onde o celular havia caído e acabou vendo o reflexo de Luciel através da tela do celular — Tinha que ser o fracassado do careta, não é? Abre logo essa merda! — Johnny começou a forçar a porta e com apenas três empurrões o trinco cedeu — E agora Luciel? Ninguém vai vir aqui te ajudar dessa vez — Seu olhar parecia como de um tigre prestes a dar o bote 

     — Cara me deixa em paz! — Exclamou Luciel — Pelo amor de Deus! — Ele ainda continuava suplicando.

     — Vamos resolver isso de uma vez, por toda, careta!

     Ele segurou a gola da camisa de Luciel, que se debatia inutilmente tentando se soltar. Johnny sendo mais forte o puxou pelo colarinho e ergueu o punho direito para acertá-lo. Nesse momento, a luz do banheiro começou a piscar e seus aparelhos celulares começaram a vibrar continuamente. Johnny, imediatamente, largou o rapaz para voltar sua atenção à lâmpada que tremulava. De dentro do suporte que protege a lâmpada do teto, começou a sair uma fumaça negra, a lâmpada que estava ali dentro não havia estourado, nem dado curto-circuito, o ar não estava com cheiro de queimado. Ao olharem para o excesso de fumacê que vinha do teto, eles perceberam que aquilo não era normal, aquela nuvem escura estava muito espessa para ser apenas uma fumaça, era como se aquela coisa tivesse vida própria.

     A coisa escura começou a se expandir e ir em direção aos rapazes, Johnny deu um empurrão em Luciel que caiu pra dentro da cabine e correu em direção a porta, mas a maçaneta não abriu, quando ele se virou viu a fumaça se desviando de Luciel e indo em sua direção. Luciel apalpava o chão freneticamente procurando seus óculos que haviam caído por causa da força com que foi empurrado. Johnny, ao se distrair tentando inutilmente forçar a maçaneta e a porta, foi pego de surpresa pela nuvem negra. Os gritos de dor dele fizeram Luciel se apavorar, mesmo não conseguindo enxergar direito por causa dos óculos, ele se levantou para ver o que estava acontecendo, se segurou na parede de mármore tentando dar um passo e sentiu algo se estilhaçar embaixo do seu pé. Eram seus óculos, ele não perdeu tempo com esse detalhe, ao sair dali de dentro seu corpo foi tomado pelo horror, ele se negava a acreditar no que estava vendo, mas diante dos seus olhos viu Johnny sendo envolvido no ar por uma nuvem negra, ele ainda estava vivo, mas seus gritos estavam cessando e se tornando apenas gemidos de agonia. Quando seus músculos não mostraram mais nenhum sinal de resistência, a fumaça o expeliu.

     Luciel ignorou tudo o que acabou de presenciar e correu em direção ao corpo de Johnny que estava estendido no chão, enquanto isso a a nuvem negra saia pela janela do banheiro, como um rato fugindo de um predador. Ele sacudiu o corpo estatelado no chão, mas não via nenhuma reação, nenhum sinal de vida e o desespero começou a tomar conta de si. Luciel sabia que ninguém iria acreditar naquilo. Sua mente estava a mil por hora, o que ele estava prestes a fazer iria contra toda sua conduta moral mas teria que fazer, pegou o corpo de Johnny que era maior e mais pesado que ele e o arrastou com dificuldade até a última cabine, colocou sentado e fechou a porta. Deu uma olhada no espelho, arrumou sua roupa que estava toda amarrotada e caminhou até a porta, quando se aproximou dela, a maçaneta se mexeu e ela foi aberta. Luciel não pensou duas vezes, assim que a porta se abriu saiu depressa dando um esbarrão no representante geral que estava entrando no banheiro.

     Alguns segundos depois, ouve-se um grito de pavor vindo de dentro do banheiro, no mesmo instante uma multidão começou a correr para ver o que estava acontecendo. Luciel foi se esquivando dos alunos até chegar à porta da entrada principal do colégio, pôs a mão no bolso procurando seu celular, mas acabou esquecendo-o no banheiro. Não importava como ele tinha que sair dali o mais rápido possível.

Uma Nova Escuridão - As Crônicas dos GuardiõesOnde histórias criam vida. Descubra agora