Uma surpresa de aniversário (parte 4)

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Alex ganhou cópias de seus livros prediletos em outras línguas: "Alice no País das Maravilhas", em francês, "O Mágico de Oz", em alemão e "Mulherzinhas", em holandês.

Conner ganhou uma pilha de doces e várias camisetas divertidas, nas quais se liam coisas como "Minha avó maluca foi à Índia e me trouxe esta camiseta".

Os presentes incluíam também várias réplicas de edificações famosas, como a Torre Eiffel, a Torre de Pisa e o Taj Mahal.

– É uma loucura pensar que lugares como esses existam de verdade – disse Alex com uma pequena Torre Eiffel nas mãos.

– Você não acreditaria no que há por aí afora esperando ser descoberto – falou a avó entre sorrisos e piscadelas.

Um dia tão pouco promissor havia se transformado em um dos melhores aniversários que tiveram na vida.

Conforme avançava, a noite se tornava um pouco amarga, com a visita da avó prestes a terminar. Desde que o pai morrera, os gêmeos nunca haviam ficado com a avó por mais do que um dia, e meses se passavam entre uma visita e outra. Ela estava sempre ocupada com as viagens.

– Até quando a senhora fica? – perguntou Alex.

– Até amanhã. Vou embora assim que levar vocês à escola.

Eles então se retraíram um pouco.

– O que houve? – perguntou a avó, sentindo que os dois perderam o ânimo.

– Queríamos que a senhora ficasse mais um pouco – disse Conner.

– Sempre que a senhora vai embora, sentimos muita saudade – acrescentou Alex. – As coisas estão tão tristes sem o papai, e a senhora faz parecer que tudo vai ficar bem.

O sorriso da avó, sempre estampado no rosto, se apagou aos poucos, e ela mirou através da janela, o olhar perdendo-se na noite escura. Deu um suspiro.

– Ah, crianças, se pudesse passar todo o tempo do mundo com vocês, eu passaria – disse a avó, nostálgica, soando talvez mais melancólica do que gostaria. – Mas às vezes a vida nos dá certas responsabilidades, não porque as buscamos, mas porque estamos fadados a elas, e precisamos cumpri-las. Quando estou longe, só consigo pensar em quanta falta sinto de vocês dois e de seu pai.

Era difícil para Alex e Conner entenderem aquilo tudo. Será que ela, na verdade, não queria viajar tanto?

A avó então olhou para as crianças, e seu rosto estava iluminado por um novo pensamento.

– Já ia me esquecendo! Tenho mais um presente para vocês! – disse num sobressalto, voando até o quarto.

Voltou carregando um livro antigo de capa verde-escura cujo título, Terra de Histórias, estava escrito em letras douradas. Alex e Conner o reconheceram assim que o viram. Se havia no mundo um objeto que simbolizava sua infância, era esse livro.

– Nosso antigo livro de histórias! – exclamou Alex. – Há anos eu não o via!

A avó fez que sim com a cabeça.

– Ele é bem velhinho e está na família há anos – disse. – Eu o levo comigo para todo canto e o leio para as crianças. Mas agora quero que fiquem com ele.

Os gêmeos ficaram comovidos com o gesto.

– Como assim? – perguntou Conner. – Não podemos ficar com o seu livro, vovó. É o Terra de Histórias! É o seu livro! Sempre foi tão importante para a senhora!

A avó então o abriu e o folheou. O cheiro de papel embolorado tomou conta do ambiente.

– É verdade – disse a avó. – Este livro e eu passamos muito tempo juntos ao longo dos últimos anos. No entanto, as melhores memórias que tenho são de quando o lia para vocês. Por isso, quero dá-lo aos dois. Não preciso mais dele. Além do quê, já decorei todas as histórias.

Entregou o volume às crianças. Alex hesitou um pouco, mas acabou aceitando. Não lhe parecia correto ficar com ele. Era como receber a herança de um parente ainda vivo.

– Sempre que estiverem tristes, nos dias que mais tiverem saudade do pai de vocês, ou quando sentirem a minha falta, basta abrir o livro, e nós todos nos uniremos em espírito e o leremos juntos – garantiu-lhes a avó. – Agora, está ficando tarde, e vocês têm escola amanhã.

Vamos nos preparar para dormir.

Os dois lhe obedeceram, e, embora já estivessem um tanto velhos para isto, a avó insistiu em colocar cada um deles na cama, como nos velhos tempos.

Naquela noite, Alex levou o Terra de Histórias para o quarto. Virou com todo o cuidado as velhas páginas para não rasgarem. Rever todas aquelas ilustrações coloridas de lugares e personagens era como olhar um álbum antigo. Mais do que tudo na vida, ela adorava passar horas lendo sobre os personagens dos contos de fadas. Aqueles seres eram tão reais e acessíveis para ela que pareciam seus melhores amigos.

– Queria que pudéssemos escolher o mundo em que vivemos – disse Alex, passando os dedos sobre as ilustrações. Elas eram tão convidativas.

Ali em suas mãos estava um mundo diferente do que ela habitava. Inalterado pela corrupção política ou pela tecnologia, era um lugar onde coisas boas aconteciam para pessoas boas, um universo do qual ela desejava fazer parte, do fundo do coração.

Alex imaginava como seria se ela fosse o personagem de um conto de fadas: as florestas pelas quais correria, os castelos em que viveria e as criaturas com as quais faria amizade.

Finalmente, suas pálpebras começaram a pesar. Fechou então o Terra de Histórias, colocou- o sobre o criado-mudo, apagou a luz e se deixou envolver pelo sono. Estava quase mergulhando no inconsciente quando escutou um ruído esquisito.

Um zunido bem baixinho tomou o quarto.

– O que será isso? – pensou Alex consigo, abrindo os olhos para tentar descobrir a origem do barulho. Não viu nada. – Estranho – disse em voz alta.

Fechou novamente os olhos para entregar-se ao sono. O zunido voltou a incomodá-la.

Alex sentou-se e olhou à sua volta. Ela finalmente descobriu de onde vinha o ruído: de dentro do Terra de Histórias. E, para seu espanto, as páginas do livro brilhavam intensamente.

Terra de Histórias - O Feitiço do DesejoOnde histórias criam vida. Descubra agora