Uma surpresa de aniversário (parte 3)

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Naquele dia, a caminhada de volta para casa foi bastante silenciosa. Alex sabia que a apresentação deixara o irmão um pouco tenso. De tempos em tempos, ela tentava quebrar o silêncio com comentários de incentivo.

– Achei bom o seu argumento – disse com doçura. – Eu nunca teria pensado nisso.

– Obrigado – respondeu Conner.

A irmã não estava ajudando.

– Mas pode ser que você tenha superinterpretado o conto – disse Alex. – Eu faço isso direto. Às vezes, leio uma história e interpreto do jeito que eu quero em vez de encontrar a ideia pretendida pelo autor. É uma questão de prática.

Conner não respondeu. Ela continuava não ajudando.

– Bom, hoje é o nosso aniversário – lembrou-lhe. – Está gostando da ideia de ter doze anos?

– Para falar a verdade, não – admitiu Conner. – É igual a ter onze, só que qualquer dia desses vão nascer uns dentes novos.

– Um pouco mais de otimismo, vai – insistiu Alex. – Não temos nada interessante para fazer no nosso aniversário, mas isso não é motivo para desânimo. Tantas coisas nos esperam! Só mais um ano, e já seremos adolescentes!

– É, acho que sim – concordou Conner. – E só faltam quatro para podermos dirigir!

– E seis para votarmos e irmos para a faculdade – continuou a irmã.

Nada mais lhes veio à mente. A alegria daquele momento era oca, e ambos estavam conscientes disso. Permaneceram em silêncio durante o resto do percurso. Ainda que a maior festa do planeta os aguardasse em casa, os aniversários sempre seriam difíceis para eles.

A escola tinha sido previsível. O caminho para casa, sem novidade. O dia inteiro parecia bem normal. Não havia nada fora do comum que pudesse tornar especial aquele aniversário... Até que eles chegaram e viram um carro azul brilhante estacionado na rua, em frente à casa.

– Vovó? – perguntaram os gêmeos em uníssono.

– SURPRESA! – a avó gritou tão alto enquanto saía do carro que a vizinhança inteira pôde ouvi-la.

As crianças correram em sua direção com um enorme sorriso. Elas viam a avó poucas vezes no ano e estavam espantadas de vê-la agora, sem aviso prévio.

A avó deu um abraço apertado nos dois ao mesmo tempo.

– Vejam só vocês dois! – disse ela. – Cresceram quase um palmo desde que nos despedimos da última vez!

A avó era uma senhora baixa com longos cabelos grisalhos, muito bem presos em uma trança. Tinha o sorriso mais acolhedor e o olhar mais bondoso do mundo; seus olhos se enrugavam quando ria, assim como os do Sr. Bailey. Era uma mulher alegre e cheia de energia, tudo de que os gêmeos precisavam naquele momento.

Ela sempre usava vestidos alegres e os seus sapatos característicos, com cadarços brancos e saltos marrons. Nunca se distanciava da mala de viagem, uma sacola verde enorme, nem da bolsa azul. E, embora o avô tivesse falecido muitos e muitos anos atrás, ela ainda levava a aliança no dedo.

– Não fazíamos a mínima ideia de que a senhora viria – disse Conner.

– Se soubessem, não seria surpresa – respondeu a avó.

– O que você está fazendo aqui, vovó? – perguntou Alex.

– Sua mãe me telefonou e pediu que eu ficasse com vocês enquanto ela trabalha – disse a avó. – E eu não podia deixar vocês passarem o dia do aniversário sozinhos, não é? Ainda bem que eu estava no país!

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