O caminho mais longo para casa (parte 2)

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No ano anterior, poucos dias antes de Alex e Conner completarem onze anos, seu pai morrera em um acidente de carro. Sr. Bailey tinha uma livraria, a Bailey's Books, situada a poucas quadras de casa – e foi nesse curto trajeto de ruas estreitas, enquanto ele voltava para casa, que a tragédia aconteceu.

Os gêmeos e a mãe esperavam-no à mesa do jantar quando receberam uma ligação informando-lhes que o pai não chegaria naquela noite, nem em qualquer outra. Ele nunca se atrasava para o jantar; por isso, ao primeiro toque do telefone, os três souberam que algo estava errado.

Alex e Conner jamais conseguiriam esquecer a expressão no rosto da mãe quando ela atendeu à chamada – um olhar que lhes disse silenciosamente que suas vidas jamais seriam as mesmas a partir dali. Eles nunca haviam visto a mãe chorar como chorou naquela noite.

Tudo aconteceu tão depressa depois daquele dia... Era difícil para os gêmeos recordar a ordem exata em que tudo se deu.

Eles se lembravam da mãe dando uma série de telefonemas e tendo de lidar com um monte  de papelada. Recordavam-se de que a avó veio cuidar deles enquanto a mãe fazia os arranjos necessários para o funeral. Lembravam-se também de segurar a mão da mãe ao caminharem pelo corredor da igreja; guardavam na lembrança as flores brancas e as velas, a expressão de tristeza estampada no rosto de cada um por que passavam. Lembravam-se das comidas que todos mandaram. Das pessoas dizendo que sentiam muito.

De uma coisa se esqueceram, no entanto: seu aniversário de onze anos, porque ninguém se lembrou.

Lembravam-se do quanto a mãe e a avó foram fortes para cuidar deles nos meses seguintes. Lembravam-se da mãe lhes explicando por que era preciso vender a livraria. Ao final, ela já não podia sustentar a linda casa azul, e assim eles foram obrigados a mudar para uma casa alugada na mesma rua, alguns quarteirões abaixo.

Lembravam-se perfeitamente da avó indo embora quando já estavam bem estabelecidos na nova casa, menor que a anterior. Lembravam-se de voltar para a escola e de como as pessoas se esforçavam, em vão, para agir normalmente.

Mas, acima de tudo, lembravam-se de não compreender por que aquilo teve que acontecer com eles.

Um ano inteiro havia se passado, e os gêmeos ainda não entendiam. Algumas pessoas falaram que, com o tempo, as coisas ficariam mais fáceis. Mas de quanto tempo exatamente elas estavam falando? A sensação de perda parecia crescer exponencialmente a cada dia sem o pai. Às vezes, a tristeza que os tomava era tão grande que eles tinham a impressão de que iam explodir.

Saudades do sorriso, saudades da risada, saudades das histórias...

Sempre que Alex tinha um dia especialmente ruim na escola, a primeira coisa que fazia ao chegar em casa era montar na bicicleta e pedalar até a Bailey's Books. Ela atravessava correndo a porta da frente, procurava o pai e dizia:

– Papai, preciso falar com você.

Ele podia estar atendendo um cliente, arrumando livros novos na estante, não importava: sempre parava o que estava fazendo, levava a filha até o depósito da loja e escutava o que ela queria lhe contar.

– O que está acontecendo, minha pequena? – dizia ele com os olhos bem abertos e com toda a atenção do mundo.

– Foi um dia muito ruim, papai – disse Alex em uma ocasião.

– As outras crianças ainda estão importunando você? – perguntou. – Eu posso ligar para a escola e pedir à sua professora que fale com eles.

– Isso não iria resolver nada – disse Alex entre fungadas de choro. – Ao me perturbarem, o que eles fazem, na verdade, é compensar a própria insegurança causada por negligência doméstica.

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