Cap.5 - O Veneno e o Antídoto

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Ao chegar nos portões do casebre, Leonor encontrou um pedaço do tecido de um dos vestidos que ela mesmo tinha costurado para Lucinda.

Ela pegou o pequeno retalho e entrou para dentro de casa. A preocupação em seu olhar era nítida. Após colocar o cesto vazio sobre a mesa, Leonor foi até o quarto e, encontrou Lucinda dormindo tranquilamente.

A mulher tinha suas suspeitas, mas decidiu não acordar a menina. Deixaria o interrogatório para quando a mesma estivesse acordada. Mesmo cansada após um dia exaustivo de trabalho, Leonor mantinha um sorriso enorme nos lábios. Sorriso esse que se desfez quando a pobre mulher percebeu ter sido enganada.

Enquanto contava o dinheiro das vendas do dia, Leonor percebeu que seu último cliente levou um pote de doce sem pagar nada por ele.

Depois de tanto trabalho?

Vez ou outra isso acontecia, mas se ela queria continuar na vila, tinha que se manter calada.

Depois de guardar o cesto no seu devido lugar, ela preparou para si um delicioso e merecido banho. Lucinda logo acordou de sua soneca e se dirigiu até a cozinha, onde sua mãe estava encostada na mesa observando a água levantar fervura.

- Vejo que a bela adormecida despertou. - Brincou a mais velha.

- O barulho da chuva me embalou. Conseguiu vender todos?

- Sim! - Leonor respondeu se virando pra filha com um sorriso nos lábios. - Hoje vendi todos e, consegui algumas encomendas. Sir Hércules encomendou algumas para sua quitanda.

- Que ótimo. - Lucinda deu pulinhos de alegria. Reconhecia que precisavam das vendas para sobreviver.

Leonor pensa em lhe perguntar sobre o vestido e desiste. Lucinda nunca tinha lhe dado trabalho e ela não acreditava que poderia chegar a acontecer. A noite chegou rápido e com ela, dois jovens vieram até o lar de Lucinda e Leonor.

Eles pareciam apressados. Batiam palmas e chamavam insistentemente por Leonor que antes de abrir a porta pegou seu mosquete como proteção.

- Boa noite senhora Leonor. - Os rapazes falaram em uníssono se apresentando enquanto tiravam os seus respectivos chapéus.

- Boa noite cavalheiros. O que os trazem á essa hora em minha casa?

- Viemos a mandado do príncipe. Como a senhora deve saber sua esposa está grávida e, sentiu um grande desejo de comer uma de suas geléias. - Um dos homens se apressou em falar.

- Sim, estou ciente. Me digam cavalheiros, onde estão seus cavalos? - Leonor perguntou estranhando o fato se serem servos do Palácio e não estarem vestidos conforme seus atributos.

- Deixamos eles amarrados mais a frente. Não sabíamos onde a senhora morava e viemos á pé perguntando de porta em porta.

- Pois voltem para o Palácio e digam ao príncipe que eu não tenho nenhuma geléia feita em casa. Vendi todas para sir Hércules, da quitanda. Agora me dêem licença. - Leonor completou e fechou a porta.

Lucinda que observava os cavalheiros pelas frestas da cortina, foi de encontro a mãe e a ajudou a colocar as trancas na porta.

- Temos alguns potes de geléia no armário, mamãe. - Lucinda contou falando o mais baixo que conseguia.

Leonor se juntou a ela na janela e juntas observavam pelas frestas da cortina na janela de madeira.

- Eu sei, mas eles não são do Palácio. - Leonor falou. - Observe que eles ainda estão lá fora encostados no batente do portão como se esperassem mais alguém. E olhe os trages deles, o príncipe jamais mandaria um serviçal vir buscar um doce para sua esposa. Certamente mandaria um guarda para ter certeza de que o doce chegaria.

-Faz sentido. - Lucinda olhou pra mãe por alguns segundos e, quando voltou seu olhar para os homens, eles já não estavam mais lá. - Onde eles foram?

- Devem terem ido embora. Eu sabia que estava certa. Agora vamos nos deitar.

Após apagar todas as velas da casa, as mulheres se juntaram em uma prece e foram para suas respectivas camas.

🐺

Johan, Herry, Klaus e Querim estavam aflitos com a recuperação de Emille. Klaus e Herry andavam de um lado para o outro, enquanto Querim roia o que lhe restava de suas unhas.

Johan estava calmo.

Ele confiava no médico e sabia que tinha encontrado a flor certa. Emille tinha caído em um sono profundo após bebericar do chá e mesmo após o anoitecer ela não havia retornado de seus sonhos.

Emille tinha suas vestias ensopadas pelo suor que exalava de seu corpo eliminando o veneno.

Seu casamento era dali a uma semana com Querim e ele estava com medo de perder a noiva. Ela não sabia, aliás ninguém sabia... mas o rapaz era apaixonado pela moça dos olhos azuis. Só enxergava isso quem queria ver, mas para os tolos, o casamento era apenas para unir dois distintos e importantes clãs.

De repente, Emille abriu seus olhos. Todos a olharam com alívio.

- O que foi que eu perdi? - Ela perguntou com um sorriso de deboche para o caçula.

- Sei noivo chorando. - Johan falou com um sorriso de zombaria no rosto.

- É mentira. - Querim se apressou em dizer, caminhando na direção de sua noiva.

Emille ergueu a sombrancelha em dúvida, mas não disse nada. Se levantando da cama, ela se dirigiu ao banheiro.

- Vão ficar aí? Vão caçar algo para fazerem! Eu já estou bem. - Ela falou pondo a cabeça pra fora da porta.

Todos saíram, exceto Johan.

- Quero falar com você. - Ele falou em meio aos suspiros.

- É sobre a garota na floresta, não é? - Emille saiu do banheiro e foi em direção ao irmão.

Johan confirmou sua pergunta com um manear de cabeça e, sentando se na cama a olhou com carinho.

- Irmã, ela esteve todos esses meses em meus sonhos. Acredito que ela está destinada a mim e eu a ela.

- Johan, quero que saiba que terás o meu apoio, assim como teria o apoio de mamãe se ela ainda estivesse viva. - Ela disse se ajoelhando na frente do irmão e acariciando sua face.

Johan abriu a boca para dizer alguma coisa, mas na conseguiu. O rapaz empalideceu e no instante seguinte pendeu para o lado, adormevido.

 Apaixonada Pelo Lobo (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora