Cap.11 - O Passado Revelado

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Ao chegar no final da caverna, encontramos duas saídas. Estávamos em duas. Podíamos cada uma seguir por um caminho. Mas Charlotte me surpreendeu.

- Vamos por aqui. - Ela falou seguindo pela direita.

- Como sabe que esse é o lado certo? - Perguntei desconfiada antes de começar a segui-la.

- Emille... como posso te dizer isso? - Ela pareceu triste. - Bem... não tem um jeito fácil de contar isso. Eu simplesmente sei.

Não a questionei. Senti que ela estava tentando esconder algo, então a segui. Charlotte tinha um segredo e eu queria saber, mas não podia obriga-la.

- Charlotte, de onde você é meu pai se conhecem?

- Como?

- Você chegou chamando por ele, na caverna.

- Isso é uma longa história, menina Emille.

- Me conte.

- Eu também sou amaldiçoada, assim como você. - Eu não tinha reação. Como ela podia ser amaldiçoada?

- Como? Como assim?

- Desde menina, ouço a história de Zélia Duncan, moça de beleza inestimável, filha de um caçador impassível e; Carl Sagan, um corajoso guerreiro, que lutou e ganhou muitas batalhas ao lado do rei de Asareu. A mesma história que tu já deve ter ouvido.

- Sim. Já ouvi essa história umas mil vezes.

- Diena, de acordo com um quadro que passa de geração em geração pela casa de seus descendentes, era uma mulher baixinha, de olhos amendoados, boca fina. Uma beleza comum, diferente de Zélia. Mas, o que mais chamou a atenção de Carl, foi o amor para com todos, o carinho e afeto para com os feridos e perdidos. Ela não se importava com estatus ou recompensas. Fiel aos seus princípios. Sou da quinta geração de Carl e Diena, com quem já estava noivo quando fomos todos amaldiçoados por Zélia, e por quem ele se apaixonou perdidamente.

- Minha nossa! - Parei de andar. - Você, uma de nós. Como pode? Porque saiu da matilha?

- Eu queria uma vida normal. Queria viver entre os que não são amaldiçoados. Quando fugi, seu pai ainda era um menino. Ele me seguiu e então brigamos. Ele voltou pra caverna e eu segui. Um casal me encontrou na floresta e decidiram me acolher. Eu me apaixonei pelo filho mais velho da família e nos casamos um mês depois. Meu maior medo era que Leonor nascesse com a maldição. O que não aconteceu, graças aos céus.

- E onde está o seu marido? - Voltei a caminhar ao lado dela.

- Leonor ainda era pequena, Ethan saiu e bebeu todas. Quando voltou bebeado, ele me bateu. Eu aceitei tudo calada. As surras, os chingamentos. Mas quando ele ergueu a mão para Leonor, eu naonpude aceitar. Me transformei e o... Eu o matei! - Ela falou com pesar. - Eu o amava. Mas amo ainda mais minha filha.

- Eu sinto muito.

- Não sinta. Eu fiz o que foi preciso.

- Por que tu mora no meio da floresta, próxima da Vila? - A curiosidade era grande.

- Eu precisava me afastar daquela gente. Eles pareciam me acusar com o olhar. Apesar de nunca souberem qual foi a causa da morte de Ethan.

- Entendo. Leonor sabe da nossa situação?

- Não! Eu não tive coragem de contar a ela. Eu queria que ela levasse uma vida normal.

- Finalmente uma luz no fim do túnel. - Falei assim que vi o brilho no fim da escuridão.

- Eu te disse que era por aqui. - Ela se transformou em lobo e passou a correr. - Vamos! O que estás a esperar?

Imediatamente me transformei e passei a correr atrás dela. Não demorou para que saissemos do túnel e adentrassemso a floresta. O cheiro de Johan estava presente, mas se perdia no ar.

- Ele está por aqui. - Falei. - Mas nao consigo saber em qual direção. O cheiro se misturou ao ar.

- Se ainda o sente, não faz tempo que passou por aqui. - Ela tinha razão. Tendo mais experiência, ela sabia em que direção ir. - Não se afaste de mim. Tem mais alguém por aqui. Está sentindo?

Sim, eu estava. Mas não conhecia aquele cheiro. Passamos a correr pela floresta em busca de Johan. A noite se aproximava e ainda não o havíamos o encontrado. Seu rastro desaparecia junto ao vento, dificultando ainda mais a busca.

- Vamos para pra comer e beber alguma coisa. Continuaremos depois de descansar. - Charlotte falou capturando uma ave.

A mulher era rápida e sabia se virar. Depois de fazer um fogueira e limpar o animal, ela o cozinhou. Comemos o que tínhamos, e então, bebemos do rio. Já estávamos mais do que saciadas e descansadas. Podíamos agora seguir em frente.

 Apaixonada Pelo Lobo (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora