Na Cabana da Montanha

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Os irmãos gêmeos Haru e Natsu nunca cometeram crimes graves. Roubavam apenas para sobreviver e jamais machucaram alguém, por isso, quando foram pegos pela polícia, ficou decidido que eles iriam para o exílio, e não para a prisão. Seriam levados para uma província ao norte do Japão, e não teriam mais o direito de retornar à capital.

Haru e Natsu foram colocados em um barco, junto com mais três condenados, um guarda e um barqueiro. Os outros homens que seriam exilados estavam tristes porque nunca veriam seus parentes e amigos novamente, já os irmãos estavam serenos, porque eles só tinham um ao outro. Os dois se sentaram no fundo da embarcação, de braços dados e aceitando seu destino. Porém os deuses do mar ficaram com inveja de uma amizade tão sincera e lançaram uma onda gigantesca que derrubou o barquinho.

Haru teve leves convulsões por ter bebido água salgada, estava em algum litoral desconhecido e deserto, não havia marcas de pegadas na areia ou redes de pescadores. Ele olhou ao redor e só encontrou alguns pedaços de madeira que foram trazidos pela maresia junto com seu corpo até a praia. O homem ficou mais um tempo por ali, esperando que as ondas trouxessem o Natsu também, mas isso não aconteceu.

Então ele saiu para caminhar em busca de comida e abrigo. Andou por quase um dia inteiro, até ver, no meio da floresta, uma trilha acidentada e mal cuidada, que parecia não ser usada há muito tempo. Seguindo-a,  começou a subir uma montanha, e no meio do caminho encontrou uma solitária cabana. Havia um cheiro delicioso de pão sendo assado no ar. "Deve ser um anjitsu", pensou, "e devem estar preparando o jantar". Quando se aproximou, viu um homem muito magro parado na janela, observando o mar lá de cima.

– Monge, estou com fome e cansado. Poderia me acolher por alguns dias? – falou Haru, respeitosamente.

– Este não é um eremitério e eu não sou um monge. Sou um padeiro e você pode passar a noite aqui, mas só poderá experimentar meus pães após amanhecer, se ainda os quiser – disse o estranho.

Haru aceitou a proposta e se deitou para dormir numa cama improvisada. Sonhou com Natsu. "Irmão" disse a aparição onírica "Os deuses do mar se arrependeram de ter nos separado e não podem me trazer de volta à vida. Eles mandaram o cozinheiro do submundo até você, se provar da comida que ele preparar, poderá se juntar a mim outra vez. A escolha é sua. Se comer, eu irei busca-lo. Adeus".

Ao acordar, ele pegou um pedaço de pão no cesto sobre o velho fogão à lenha e se sentou na soleira da porta, enquanto tirava pequenos pedaços do mesmo e os mastigava com dificuldade. Haru ficava olhando as ondas e repetindo: "Onde está você, irmão? Não consigo vê-lo".

No final da tarde, Haru avistou Natsu subindo pela estradinha de chão batido.


***


NOTA: Anjitsus eram dormitórios japoneses construídos longe dos vilarejos, na beira das estradas, para abrigar monges peregrinos.

Desafio #04 (22/01/2018)

Desafio #04 (22/01/2018)

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