- Aonde estavam? Por que não atenderam o celular o dia todo? Ficamos preocupados. - A Beatriz pergunta tocando em nossos rostos.
- Estávamos na Disney. - O Lucas fala.
Ele realmente falou isso. Arregalo os olhos reprovando-o.
- Vocês pegaram estrada? Mentiram para nós? Foram sozinhos? - Meu pai levanta a voz.
- Qual é... Acontece. Coisa de ferias. Desculpa. Okay? Não vamos fazer de novo. - Ele fala de uma forma que faz parecer fácil.
- Claro que não vão. Pela próxima semana irão sair apenas conosco. - Beatriz fala.
- Pela próxima semana? - Lucas pergunta.
- Sim. - "Nossos pais" respondem em uníssono.
- Okay. - Ele fala e sobe as escadas.
Vou atrás dele.
- Eliza. - Meu pai me chama. - Não vai falar nada?
E continuo calada, apenas nego com a cabeça e subo as escadas.
- Por que falou? - Pergunto irritada.
- Porque eles descobririam a verdade cedo ou tarde. Nunca minta.
Franzo as sobrancelhas.
- Nós mentimos. - Relembro à ele.
- É, princesa. - Odeio quando ele me chama assim. - Mas se continuássemos mentindo a mentira ia crescer de uma forma que não teríamos mais controle. Não minta.
Mordo meus lábios inferiores. Essa mania vem tomando conta de mim nos últimos dias. Eu o ignoro e vou tomar banho, sei que ele vai fazer isso também.
Quando entrei no banheiro achei que estava cansada de mais para um banho de banheira, mas eu queria muito (e merecia) um banho delicioso. Esperei pacientemente a banheira encher para enfim ficar longos 30 minutos "de molho" pensando no meu dia perfeito. Quando saio do banheiro vestida com meu short de malha preto e blusinha colorida com varias cores pastéis a primeira coisa que vejo é minha hiena. A hiena de pelúcia que comprei na Disney. Para ser mais específica, o Ed. Aquela hiena com probleminhas do Rei Leão; o Lucas a achou horrível, até mesmo medonha. Mas eu adorei. Poderia ter comprado um Simba, mas queria algo contraditório. Algo que as pessoas olhem e se perguntem "por que?". Porque um Simba de pelúcia é muito fácil de se achar desde a Disney, até a estante de um quarto; mas o Ed é um personagem que talvez todos odeiem (até mesmo eu odiava), até o final do filme, quando ele consegue matar o Scar. Okay, o crédito não é só dele, é das outras hienas também.
Algo me distrai do meu bicho da pelúcia. Alguém está tocando violão, desço as escadas e ainda não vejo ninguém tocando nada. Apenas a Beatriz e meu pai se agarrando (eles realmente só fazem isso?!); vou até a varanda e o som ainda parece estar do lado da casa. Caminho até achar o Lucas sentado na grama tocando violão e cantando alguma musica que realmente gostei.
Me sento ao lado dele, que para de tocar.
- Oi. - Fala.
- Que música é essa?
- Hey There Delilah.
- É linda. - Comento.
Ele assente. Coloca o violão ao seu lado e deita na grama, acompanho ele.
- O que você está olhando exatamente? - Pergunto olhando para ele, que está observando o céu estrelado.
- Nada. Apenas gosto de pensar sobre o que há lá em cima.
- O que você está pensando agora? - Por que eu me importo?
Ele se cala por alguns instantes, mexe no cabelo distraído e só então começa a falar:
- Existem constelações lá, formada de varias e varias estrelas. Entre cada uma dessas existem milhares e milhares de fragmentos de outras que já eclodiram, ou explodiram. São vestígios delas, e existe uma nesse momento que também está explodindo e espalhando milhares de fragmentos pelo espaço. Mas esses fragmentos são grandes, e somos apenas pó perto deles. Somos seres tão pequenos querendo deixar marcas tão grandes. Querendo tanto evitar o esquecimento, que às vezes não valorizamos nossas "constelações" e cedo ou tarde explodimos, e não nos damos conta que as marcas que deixamos foram apenas... Pó. Como nós.
Sorrio. Sei que pareço boba perto dele, principalmente agora. Meu sorriso toca orelha à orelha. Suspiro.
- O que foi? - Pergunta finalmente me olhando.
- Nada... O que você disse... É... Não sei...
Ele senta rapidamente, me forço a sentar também.
- Agora que falei o que eu penso, me fala o porquê de você sempre, exatamente SEMPRE olhar nos olhos das pessoas. Sempre comentar sobre eles, e ter alguns espalhados seja pelo seu quarto, ou no seu celular, ou em suas roupas.
Por que está interessado nisso?
- Porque os olhos são a janela da alma. Eles deixam que você veja o que está fora, o que está no mundo; mas também permitem que os outros vejam um pouco de sua alma. Não procuro observar exatamente o olho das pessoas, mas sim o olhar delas.
Um sorriso aparece em seu rosto, ele se aproxima de mim. Apesar de sentir um nervosismo que não consigo explicar e vontade de correr ao mesmo tempo, não me movo. Não porque não quero, mas é impossível naquele momento. Estou extasiada com ele tão perto dessa maneira.
- Não acho que é tão fria quanto quer que as pessoas acreditem. - Ele fala.
Franzo a testa.
- O que quer dizer? - Pergunto, apesar de saber a resposta. Ele quer dizer exatamente o que falou. Sem nenhum ponto a mais.
- Interprete como quiser.
Ele toca minha mão e brinca com meus dedos enrugados; onde ele toca acaba pinicando. Ardendo logo em seguida.
- Quer cantar? - Pergunta.
- Ah, eu não sei cantar. - Sou franca.
- Quer ouvir?
Assinto sorrindo.
Ele pega o violão e toca exatamente a mesma música pela qual me interessei ao ouvir ele tocar. Sua voz é linda, roca, grossa, mas tão leve que me faz parecer que estou flutuando. A letra da música me faz sentir em casa, me faz estar ali, sem pensar em nada. Nem no ontem, e nem no amanhã. Apenas ali. Com ele.
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A (mar)-lo
RomanceEliza é uma adolescente comum, daquela que talvez você não goste na primeira impressão, fria, sarcástica, acanhada, e quieta. Tudo isso vai mudando quando ela descobre que está se apaixonando pelo seu "meio" meio-irmão; cansada de decepções, cansada...