Sabe aquele friozinho na barriga de quando a viajem mais esperada de sua VIDA está chegando e você mal consegue pregar o olho criando em sua mente. Eu estava prestes a fazer uma viajem justamente assim, havia programado o ano todo com minhas amigas uma viajem para passarmos 1 mês inteirinho na fazenda da Maria Julia. Iriamos acampar, fazer trilha, nadar em piscinas e rios, andar à cavalo, fazer roda de fogueira à noite e então quando eu já estava literalmente arrumando as malas meu pai bateu na porta do meu quarto e disse que aquelas malas serviriam para outras finalidades.
- Miami? EUA?
- Sim. - Falou.
- Com a Beatriz e o filho dela?
- É filho do ex-marido dela que ela está ajudando... Eles esta animados para a viajem.
Eu não podia acreditar bem no que ele falava, eu mal o ouvia.
- Eu não me importo. Pai, não. Tínhamos concordado o ano todo que eu ia viajar com as meninas.
- Eliza, o que vale mais pra você? Unirmos de forma familiar ou passar 1 mês com suas amigas que você ver todos os dias?
Meus olhos passearam pelo meu quarto.
- Quer mesmo que eu responda?
Ele bufou. Eu lancei mil argumentos para meu pai que não se convenceu, e aqui estou eu. No aeroporto sentada mexendo no meu celular que havia ganhado de aniversário de 17 anos da minha tia rica, tipo, muito agradecida e tals, mas ele mal cabia em minhas mãos pequenas.
- Ansiosa? - Meu pai pergunta me olhando freneticamente.
Olho feio para ele e volto a ver meu Instagram. Já estávamos esperando a Beatriz e o seu quarto ex-entiado a quase 1 hora e nosso voou é daqui a 37 minutos e meio.
- Olha eles ali! - Meu pai levanta animado.
Acho que minha má vontade era visível, meu pai teve que me da um empurrão para eu levantar.
- Oi! - Beatriz fala se aproximando.
Eu a abraço e prefiro apenas dar um aceno de mão para o menino. Ele era esquisito, perto de Beatriz eu diria que seriam completos estranhos. Ela - como sempre - está muito bem arrumada, sua calça legging preta que parece ser cara, sua blusa de manga comprida com estampas indianas e sua bota baixa também preta nos mostra uma mulher elegante. Já o garoto tem uma touca no cabelo cobrindo seus cachos, uma blusa verde e uma calça jeans surrada com um cinto que não acabou de ser fechado. Eu não posso reclamar muito, eu vesti a primeira calça jeans que achei no guarda roupa, minha camiseta branca e por pura sorte achei meu All Star velho no fundo de minha casa. Mas nada comparado aquele menino. Ele está completamente... "fds."Para melhorar, o meu pai ficou junto com a Beatriz no avião e eu, claro, fiquei junto de um completo estranho surrado.
- Qual seu nome? - Pergunta.
Estou distraída com meu fone de ouvido, respondo instantes depois ainda sem olhá-lo:
- Eliza. E o seu?
- Lucas. Prazer.
Não respondo. Coloco meu fone e não me importo de parecer mal educada. Ele pigarrei afim de querer criar assunto. Tiro os fones de ouvido e os coloco em meu pescoço.
- Está animada para a viajem?
- Claro. - Minto.
Ele sorri e assente.
- Eu vi a casa que eles alugaram. Perto de Outlets, praia, orlas, restaurantes de todos os tipos...
- Legal. - Interrompi.
Uma aeromoça passou e eu quase que a derrubei quando segurei seu braço de repente.
- Oi. Bom tarde! Qual a senha do Wifi?
- Esse avião não tem internet, com licença.
E é isso. Ficarei 12 horas com um menino que mal conheço e com 49% de bateria.
A medida que fui conversando com ele fui descobrindo que o Lucas não era tão ruim, ele disse que gosta de desenhar, gosta de matemática, gosta de coleções. Eu não gosto de nada daquilo, mas posso apreciar quem gosta. Eu não sei desenhar, eu faço justo o oposto, eu escrevo. Matemática não faz parte da minha vibe, minha vibe é redação e português. Para mim coleção é coisa de gente velha, acumula poeira e fica parado servindo apenas de enfeite. Como algo tão parado pode ter "amor de colecionador"? Não quero perguntar aquilo para ele, posso parecer chata, desprezando a paixão dele. E não é isso que estou fazendo. Não exatamente.
- Você ta animada com a mudança?
Primeira vez que ele conseguiu chamar minha atenção.
- Mudança? - Pergunto.
Assente.
- Beatriz disse que pretende se mudar para um mesmo apartamento com o seu pai. Eu, ela, você, ele...
Pigarreio. Meu pai não havia comentado nada comigo, aquilo devia ser um pensamento da Beatriz, apenas dela. Uma ideia de sua cabeça.
- Não estou sabendo. - Falo.
Ele me olha surpreso e aparentemente decide calar a boca. Achei aquilo ótimo, assim eu podia ouvir minhas musicas de boa, falar com minhas amigas... Esquece, "no wifi."
Eu quero a felicidade do meu pai, não pensem ao contrário, mas ultimamente ele tem pensado muito na própria felicidade sem pensar em mim, havia sido assim desde que namorou Pamela, uma mulher que acabou machucando seu coração. Ouvia ele repetir para si mesmo que seria feliz independente de qualquer coisa. E então conheceu a Beatriz, quase três anos atrás. Eu tinha 14 anos quando ele me falou que estava namorando, eu achava que seria mais uma das namoradas que duravam 3 meses se namoro. Eu gostava de todas as namoradas dele, me apegava à elas, então, assim como ele fiz uma promessa para mim mesma: eu não me aproximaria mais de nenhuma. A Beatriz pensar em morar conosco ia contra minha "política."
Ainda mais com aquele menino, não posso dividir a casa com um estranho. A propósito, ele não é o filho do ex-marido dela? Porque moraria com o atual namorado dela e a filha dele?
Eu não estou interessada. Nem um pouco.
Finalmente eu conseguira dormir, até que acordei com o menino me futucando.
- Chegamos.
"Ótimo."
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A (mar)-lo
RomanceEliza é uma adolescente comum, daquela que talvez você não goste na primeira impressão, fria, sarcástica, acanhada, e quieta. Tudo isso vai mudando quando ela descobre que está se apaixonando pelo seu "meio" meio-irmão; cansada de decepções, cansada...