A luz e o Barulho.

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 Meu coração estava muito acelerado. ERA ELE! O tempo todo! Ainda conseguia o ver indo para mais dentro da floresta, cada vez mais distante. 

Não! Não posso deixá-lo ir justamente agora!

— Não ouse me dar à costa!  - gritei. Minhas mãos estavam gelicas, acho que no fundo eu já esperava por isso.

Ele ficou estático. Não me deu ouvidos, mas, no entanto, se virou lentamente, com um rosto que transparecia tristeza.

— Quem pensa que é para falar isso e ir embora assim?! Eu te conheço? DE ONDE DIABOS VOCÊ ME CONHECE?!

Ele fez um negativo com a cabeça baixa, como se não fosse o suficiente, ele caminhou em minha direção, a passos pesados, ficando a menos de dez sentimentos do meu rosto, chegou até a minha orelha e sussurrou:

— Tente se lembrar quem eu sou, caso não se lembre. Vá daqui a três semanas em uma casa na qual eu te darei o endereço amanhã. É isso.

Encarou-me e se afastou, elevei uma sobrancelha e fitei aqueles olhos.

— Olha só, não sei quem você pensa que é, mas é o seguinte, ou você me diz logo, ou eu simplesmente tomarei providencias, isso pode ser um problema mental seu! Então eu vou perguntar apenas mais uma vez. — cruzei os meus braços e peguei toda a minha raiva e a transformei em minha expressão. — Quem é você e de onde você me conhece?! — minha voz estava irreconhecível, eu mesma assustei-me com isso.

Ele não me olhou, deu meia volta e se foi, deixando-me sozinha.

GRRRRRRRRRRRRR QUE ÓDIO, GAROTO DESGRAÇADO, PILANTRA!

Peguei no meu cabelo com as duas mãos e chutei a grama, meu sangue está fervendo de tanta raiva, será que eu nunca vou ter sossego nesta vida!

A madrugada está mais fria que o normal, parece que os animais haviam se assustado com essa minha gritaria, acabaram indo embora, deixando o lugar - seco- sem vida. Sentei-me novamente em um carvalho que estava à beira do lago e toquei na água cristalina com os poucos peixes que ficam na margem. A água está totalmente gelada, isso me acalmou bastante, olhei para a água caindo da cachoeira, a vi como meus pensamentos se esvaziando da minha cabeça. Não posso dizer que isso era muito para mim, o que apenas está me dando raiva é o fato de eu não saber quem é ele ou como ele me conhece, apenas sei que ele é daquele jogo e só! Por momentos breves apenas eu pensei ser ele, mas foram pensamentos passageiros. 

Ouvir um barulho e ousei olhar para ver o que era uma planta que estava um pouco ao meu lado começou a se movimentar até que saiu de trás dela, um coelho – lindo. – preto e branco, com os olhinhos totalmente pretos. 

Recordei do dia em que acordei naquele hospital, depois de muito tempo. Minha mãe havia um coelho filhote em suas mãos, era a coisinha mais fofa que alguém poderia ter me dado. Dias depois ele morreu, eu o tinha matado, faltava comida para ele, minha mãe sempre me avisava que era para eu não esquecer de dar comida para ele. Eu quase sempre esquecia assim que a minha mãe falava. Até no dia que quando eu finalmente lembrei-me da comida, o vi de lado em um cantinho, quando fui tocá-lo, estava duro.

Tentei aproximar-me bem lentamente, até que consegui pegá-lo. Levei até onde ficasse olho com olho comigo. Ele começou a cheirar o meu dedo. Sentei novamente e o deixei em cima das minhas coxas, fiz carinho no seu corpo. E olhei para o nada.

Sério, eu realmente não o entendo, por que ele não me contou logo que era ele? Não é possível que ele seja tão burro assim! Apesar de tudo eu tenho certeza que estou esquecendo alguma coisa no final das contas. Sinto que ele foi alguém muito importante para mim. Não sei! Não lembro. Meus dentes estão implorando para eu parar de fazer tanta pressão neles. 

Por que te amar?Onde histórias criam vida. Descubra agora