Paris,Piano e Machadinho

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Sugestão de música : La Foule - Edith Piaff

Álvaro POV's

    Após o prévio aviso já nos preparávamos para aterrissar em solo francês, e um mix de alegria e ansiedade corria por minhas veias.
  Eu amava a França,  já havia estado no país por meio de um intercâmbio realizado cinco anos antes,  quando eu ainda me encontrava no último semestre da faculdade e já me preparava para os desafios que a vida de jornalista me traria.
     Era animador poder retornar a Paris,  principalmente pelo fato de que meus amigos agora me acompanhavam e,  com exceção de Thay,  eu era o único que já havia estado na França o que nos faria ser como guias turísticos e tal ideia me parecia maravilhosamente divertida.
    Eu me surpreendia muito com o fato de que havíamos evoluído muito desde que nos conhecemos,  e era maravilhoso pensar que nós havíamos atingido nossos objetivos.
 

Eu havia me formado em jornalismo e  após dois anos trabalhando em minha cidade natal eu havia voltado para perto de meus amigos.
   Alyne,  após muito tempo de estudo e falta de tempo pra diversão – assim dizia ela – havia terminado seu doutorado em medicina no exterior e, à um ano e meio,  havia retornado de Berlim já podendo ser chamada de Dra Alyne Gabriela.
     Trabalhando no mesmo hospital que Alyne,  Thay era considerada uma das melhores enfermeiras da cidade e agora,  no seu último semestre de medicina,  aproximava-se ainda mais do sucesso.
     Terminando seu curso pouco antes de mim,  Lizz havia em fim aberto seu salão, mas como sempre insatisfeita, havia dado recentemente continuidade ao seu tão sonhado curso de dermatologia,  o qual ela havia travado quando deu início ao de estética.
      Não há muito o que se falar de Luiz,  ou melhor dizendo, Charlotte Ferraigan, DragQueen  que abandonou a faculdade de psicologia e agora sempre enchia a cidade de brilho e glamour.
    
      Turismo e diversão não eram os únicos motivos de estarmos agora desembarcando no aeroporto de Paris,  há alguns anos,  a nossa última – e mais divertida– integrante do círculo de amizade havia se mudado para a Europa e agora nos esperava no aeroporto para o nosso tão desejado e esperado reecontro.
         – Ai gente,  ainda to morrendo de sono.  Não consegui dormir nada no avião.
      Alyne se pronunciou enquanto esticada os braços e bocejava alto.
     – Não exagera amor. Você capotou no momento em que embarcamos em São Paulo, e só acordou uma vez para ir ao banheiro,  depois disso voce acordou só agora.
     Ignorando o comentario de seu namorado,  Alyne gestualiza um "tanto faz" com a mão enquanto espera para retirar sua mala da esteira.
    
      – Gente,  fiquem atentos, please. Acabei de receber uma mensagem da Karla,  ela disse que estaria nos esperando com uma placa em mãos.
     Thay guardou seu celular no bolso e percorreu os olhos pelo aeroporto parecendo procurar algo.
   – Está procurando alguém Sweet Heart? – pergunto – acho pouco provável que a Karla esteja perto das plataformas de embarque.
   – Não estou procurando ela amore – ela pega seus óculos escuros na bolsa e me lança um sorriso,  enquanto foca seus olhos na plataforma de onde os passageiros desembarcam e sussurra pra si mesma – Acho que ele já saiu.
– Quem já saiu? – Alyne pergunta,  aparecendo já com sua mala e bolsa em mãos acompanhada de seu namorado.
– Ninguém não...  Deixa quieto.
   Ignoramos o tom de sua voz – que parecia estranhamente carregado de nervosismo – e caminhamos em direção à Lizz,  que já com as malas em mãos, parecia estar comprando algo perto da entrada.

      Caminhamos alguns metros até algo nos chamar a atenção.
        Uma linda moça morena segurando um cartaz colorido e decorado com as palavras "Unicórnio",  "DiQueh",  "Magrela",  " Branquela" e "Sweet Heart"
      Com um sorriso deslumbrante e seus cabelos escuros presos em um rabo de cavalo no topo da cabeça,  Karla acenava eufórica em nossa direção enquanto saltitava em meio à multidão de pessoas que iam e vinham em meio ao aeroporto.
     Nos aproximamos,  e num típico – e desajeitado – abraço grupal à esmagamos ignorando seus gemidos e reclamações.
  "Ela detesta contato físico",  pensei e ri comigo mesmo enquanto me afastava alguns centímetros para poder observar minha amiga.
    Ela está mudada,  sem seu tipico aparelho dentário, vestindo um simples vestido florido e saltos baixos, mas a velha Karla ainda estava ali eu sabia,  isso era visível em suas piadas marcantes e a sua tattoo de machado na lateral do braço. Tattoo que a havíamos obrigado a fazer em um dia que estávamos super bêbados em uma boate gay.
– Ual...  Quem é você e o que fez com o nosso Karlão? – perguntou Lizz enquanto parecia analisar nossa amiga de cima à baixo.
– Então né gente... Tenho que parecer gente de vez em quando né, ainda mais agora que sou diretora na escola em que trabalho. Mas não se preocupem,  na calada da noite eu ainda me transformo em Karlão do Machadinho.
   Caímos na gargalhada enquanto nossa amiga perguntava :
– Uai...  O Luiz não vinha também?
– A sim – respondeu Thay– por causa de problemas no trabalho ele chegará amanhã.
– hm...  Então bom...  Vamos?  Vocês devem estar cansados da viagem.
– Você não faz ideia - Disse Alyne em meio à um bocejo.
   Todos rimos enquanto caminhavamos em direção ao estacionamento.
Karla pegou um pequeno chaveiro em seu bolso e apertou o pequenino botão destravando uma caminhonete preta ENORME e linda.
  O automóvel era aparentemente novo,  havia um adesivo em forma de serpente flamejante no parachoque e na lateral abaixo da porta do motorista haviam as palavras "Summertime Sadness".
       Sim...  O velho Karlão ainda estava lá,  mesmo naquele corpo de moça civilizada.

Amitiè En Arc-en-cielOnde histórias criam vida. Descubra agora