4. MALDIÇÃO ANTIGA

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Dois dias depois do que aconteceu no meu quarto, eu sentia que teria que ir a São Paulo. Era como se alguém precisasse de ajuda e eu soubesse quem era e onde estava. Mas eu não tinha idéia disso.

Pra minha sorte eu levava meu notebook comigo, mas sem internet ele seria absolutamente inútil. Então ao chegar lá procurei um lugar que tivesse wi-fi.

Não foi difícil encontrar num shopping uma lanchonete que oferecia o serviço, eu sabia que dali em diante eu não poderia voltar atrás. Para minha surpresa tudo estava normal, acessei todos os sites que conhecia, teclei com meu primo no MSN, tudo ia normal até que eu avistei uma garota.

Parecia que eu já conhecia ela, cabelos castanhos, olhar firme, pele clara, estava sentada a 2 metros de mim e olhava fixamente para meu computador. Perguntei se ela precisava de ajuda, ela olhou pra mim e sentou numa cadeira ao meu lado.

— Posso ajudar? — perguntei.
— Você me conhece. — para minha surpresa, não era uma pergunta.
— Acho que você está me confundindo.
E então eu percebi que era Sara, a menina da praia, com quem eu tinha conversado há poucos dias.
— Você precisa me dizer exatamente o que está acontecendo. — senti o nervosismo tomar conta de meu corpo.
— Eu tenho um livro, e este livro ensina a vencê-lo.
— Isso não é o suficiente, nós precisamos saber o que está acontecendo. Quem é ele?
— Quanto a isso fique tranquilo, eu quero que você conheça uma pessoa.

Ela digitou um endereço no meu notebook, esse endereço redirecionou-nos a uma pagina preta com um player de vídeo. A imagem se mexeu e uma menina pequena de cabelos azuis e olhos puxados apareceu na tela.

— Olá, vejo que vocês estão juntos.
— Quem é ela? — indaguei a Sara.
— Deixe que ela se apresente.
— Meu nome é Pâmela, mas pode me chamar de Pam, eu vou explicar a vocês exatamente o que está acontecendo.

E iniciou uma narrativa absurda sobre uma maldição que circulava num site, gerada depois de um pacto do fundador deste site com forças das trevas. Ele havia prometido um sacrifício de almas para este demônio para que seu site obtivesse popularidade na web.

Agora as forças malignas estavam cobrando a promessa que ele havia feito e iria pegar as almas dos próprios usuários daquele site caso ele não pagasse sua dívida.

Houve uma pausa no vídeo e eu perguntei à Sara se ela tinha entendido e ela acenou que sim.

O vídeo retornou e Pam agora era uma animação:

— Vocês precisam seguir o que eu vou dizer caso vocês queriam se livrar de clown.
— Nós iremos matar ele? — perguntei.
— De modo algum.
— Por que não?
— Por que ele é o meu pai.

Sara que estava ao meu lado soltou um sorriso, percebi que aquilo era novidade apenas pra mim.

— A única forma com que ele pode matar alguém é atingindo seu psicológico, levando a pessoa ao suicídio. Ele só pode se mover através da internet, portanto só há uma maneira de conte-lo; prendendo seu espírito fora da rede, isso não dura muito tempo, pois ele rapidamente encontra uma nova entrada, portanto vocês precisam ser rápidos e recitar um feitiço antes que ele volte para a rede. — dizia Pam em tom didático. — Esse feitiço irá prender seu espírito novamente em outra dimensão de onde nunca deveria ter saído, Sara já está com o livro, vocês precisam ser rápidos, pois as mortes já começaram...

E a tela fechou.

De fato Sara me mostrou um comunicado no site sobre a morte de 2 moderadores por suicídio. E alguns usuários se afastaram segundo Sara.

Nós tínhamos pouco tempo então fomos até o hotel onde ela estava hospedada. Eu também me hospedei nele, mas tudo deveria ser feito quando já não houvessem pessoas circulando pelo prédio.

Às 2 da manhã eu e Sara fomos até a recepção e perguntamos se havia acesso à internet naquele prédio, a recepcionista disse que sim apenas no escritório principal. Pedimos a ela sob a desculpa de uma emergência familiar que nos levasse até lá.

Era uma sala grande, pedimos a ela privacidade, ela disse que não poderíamos demorar muito.

Ligamos o computador e esperamos, esperamos muito tempo e nada, de repente uma janela abriu e um vídeo de um circo começou a passar, era ele, o palhaço, mas agora estava completamente diferente, não tinha mas o mesmo jeito de antes e agora ele apenas olhava para a platéia.

Em seguida começou uma movimentação nos bastidores e foram trazidos para o picadeiro um homem e uma mulher presos numa daquelas rodas de atirar facas. Eu não demorei a perceber que éramos Sara e eu, e então começou o show, o Palhaço atirava facas muito afiadas e elas entravam nos corpos daquele casal que gritava e tentava se soltar, ele apenas atirava as facas deliberadamente contra os corpos deles dois que não suportaram os golpes e morreram sendo em seguida jogados a platéia enfurecida que atacava os corpos.

Ele chegou perto da câmera com um olhar desafiador e como não parávamos de olhar, simplesmente atravessou a tela, agora um vento se movimentava pelo quarto. O cheiro de morte invadiu o local e nós não perdemos tempo, retiramos os cabos da internet.

Agora ele estava preso no escritório com a gente e começou a empurrar os objetos na nossa direção. Sara começou a recitar um encanto em uma língua estranha e aquele espírito perdeu as forças e parou.

— Vencemos? — perguntei.
— Acho que s...

Antes que ela terminasse as janelas do escritório se quebraram, foi quando tudo ficou escuro e partir daí eu não me lembro de mais nada...

No outro dia eu acordei no hospital. A enfermeira me disse que eu fui sedado e levado para lá na noite anterior, pois eu estava descontrolado e queria me jogar pela janela do hotel.

Eu perguntei por Sara e a enfermeira me disse que ela não teve a mesma sorte que eu, e pulou pela janela antes que os seguranças chegassem.

Eu sei que o Palhaço ainda está solto, e ele irá atrás de todas as almas que lhe foram prometidas, e eu vou ter que conviver com isso. Mas eu não quero mais participar disso, e acho que nunca mais vou conseguir acessar a internet, muito menos aquele maldito blog Minilua.

O PALHAÇO | CreepypastaOnde histórias criam vida. Descubra agora