Ela costumava dizer que o céu era um lugar na terra quando ele estava por perto; curiosamente, estava certa.
Quando aqueles três jovens estudantes saíram da universidade naquela noite, Rose já estava no meio da estrada, perdida. Usava um de seus vestidos de seda branco. Os anéis e colares perolados ao redor de seu pescoço brilhavam no escuro como faróis de um carro, e foi por causa daquele detalhe que alguém realmente a viu no meio da noite. Era impossível ignorar.
O carro de vidros escuros estacionou na beira da estrada; dele, três adolescentes saltaram e correram até Rose. Estavam curiosos com o que a tinha levado até aquele ponto abandonado e deserto da cidade a uma hora daquelas. Não era o tipo de coisa que se via todos os dias - não naquela geração.
- Estou bem! Estou bem! - Rose gritou quando eles se aproximaram.
Odiava o caos que jovens traziam. Não porque nunca fora jovem, mas porque se lembrava muito bem de ter sido uma. Doía não poder mais causar tanto caos.
- Qual o seu nome? - alguém perguntou.
- Rose.
- A senhora precisa de ajuda para voltar para casa?
Ela parou por um instante, como se pela primeira vez estivesse vendo que os três estavam ali. Segurou uma pérola de seu colar entre os dedos, tremeu os lábios e divagou:
- Casa?
- Se nos disser onde é, podemos levá-la.
- Não... Eu não quero ir para casa. Quero ficar aqui.
O vidro do carro de onde os jovens saíram acendeu. O mapa havia sido atualizado. Rose olhou, mas não pareceu com medo. A maioria das pessoas tinham medo das atualizações, principalmente se estivessem sozinhas no meio de estradas abandonadas.
- Diego, temos que voltar - disse a única menina do grupo.
- Não podemos, Amélia. Ela está perdida.
Os dois olharam para o terceiro membro do grupo. Seu nome era Oliver e ele era surdo, mesmo que não mudo. Explicaram o que acontecia mesmo sabendo que ele já havia entendido. A resposta foi um apoio a Diego.
- Vamos chegar atrasados! - a garota protestou.
- É uma festa universitária, Amélia! Podemos chegar a hora que quisermos.
Rose, ainda na beira da estrada, deixou a discussão dos dois jovens pairar no canto mais distante de seu cérebro. Não queria ouvi-los, nem vê-los, nem ser ajudada por eles. O que ela queria era o silêncio, a brisa da estrada e a visão daquele pedaço de terra completamente vazio cheio de arbustos e restos de construções dos anos 2000. Era o mais próximo que iria chegar de um mundo parecido com o que tinha quando era mais jovem. Odiava toda a tecnologia que havia aparecido do nada e em todos os lugares.
- Me fala seu nome completo? - a menina, Amélia, chegou e chamou a sua atenção - Talvez tenha algo sobre você na internet. Podemos achar a sua casa
- Eu não quero ir para casa. Estou bem onde estou...
Rose se virou com um barulho vindo da estrada. Era um par de motos com garotas e rapazes sobre as rodas velozes. Ela se viu ali, na garupa de uma delas. Ainda jovem, ainda destemida, ainda forte e sonhadora. Então a visão passou, e ela soube que não foi real em nenhum sentido. Era apenas a sua mente pregando peças.
- Ele adora jogar aqueles vídeo games de moedas - disse Rose, de repente. Seus olhos estavam cheios de lágrimas.
- Quem? - Amélia perguntou.
VOCÊ ESTÁ LENDO
ULTRAVIOLENCE
Short StoryUma coletânea de histórias sobre corações partidos, aventuras noturnas e passeios em motos que cortam a noite.