Ela torcia para que seus pés não falhassem. Precisava chegar ao final do jardim e atravessar os portões antes que alguém notasse a sua ausência. E por mais que pensar nas pessoas que estava deixando para trás fizesse seu coração quebrar um pouco a cada passo avançado, sabia ser o certo a se fazer. Era o que ela precisava fazer.
Quando parou, já do lado de fora, com a alça da mala caindo pelos ombros, Elizabeth respirou fundo e sentiu um tipo repentino de desespero. O carro não estava ali. Ele não estava ali. Seu corpo congelou embaixo da roupa hospitalar.
- Merda, merda, merda!
O farol iluminou seu rosto no momento em que ela se preparava para soltar a mala no chão e correr por conta própria pelas ruas da cidade. O som do motor roncou até que estivesse ao seu lado, e, quando a porta do passageiro se abriu, Elizabeth entrou no carro desconhecido.
- Onde você estava?! - ela perguntou.
O motorista não tirou os olhos do volante, e Elizabeth mal havia fechado a porta quando sentiu o impulso do carro voltando a andar.
- Escondido, esperando você sair.
Elizabeth o encarou com raiva, mas acabou escolhendo não discutir. Olhou para trás, e pelo vidro traseiro sujo do carro viu o prédio em que vivera presa a vida toda se afastando até não passar de uma lembrança. Aquilo causou alívio em Elizabeth. E, depois de se acalmar minimamente, também sentiu frio.
Ela puxou sua mala, abriu o zíper e tirou de dentro dela um moletom e uma calça que havia conseguido roubar de um dos armários dos funcionários do prédio. Se trocou ali mesmo, retirando a camisola hospitalar, sem se importar com o fato de que havia um homem desconhecido ao seu lado. Quando fez isso, o frio passou, e foi só questão de alguns segundos para a respiração voltar ao normal também.
- Você se lembra do resto do plano, não é? - perguntou.
O homem atrás do volante não hesitou:
- Claro.
- Qual é o seu nome mesmo?
- James.
- James. Ok. Quanto tempo até chegarmos?
- Uns dez minutos.
- Tudo bem.
Elizabeth encostou a cabeça contra o banco e fechou os olhos. A cada poste de luz que o carro ultrapassava um feixe amarelado incomodava os seus olhos, mas era confortável. Havia ficado muito tempo encarando luzes brancas em lugares fechados para se incomodar com a noite escura e suas lanternas amarelas.
Infelizmente, começou a se sentir mal em pouco tempo. Levando em consideração o seu estado, era normal, mas ela não podia tomar os remédios que a ajudariam a melhorar enquanto não estivesse em seu destino final, com as pessoas certas, alcançando seu objetivo.
Quando chegaram à primeira parada da viagem, Elizabeth desceu do carro com sua mala em mãos. Agora que aquele era o único pertence que ela tinha, parecia valioso demais. Tão valioso quanto montanhas de ouro ou até mesmo quanto o carro que James usava para ajudá-la na sua fuga, naquela noite. E por isso Elizabeth prometeu não ficar um segundo longe dela.
James não desceu do carro de imediato. Ele ficou alguns segundos parado com a porta aberta e um dos pés para fora, notando que estava quente, mas não tanto quanto deveria para aquela época do ano. Em sua cabeça, tudo o que passava era o fato de que aquele era um trabalho diferente dos que costumava fazer. E sua cliente também. Era óbvio apenas pelo lugar de onde ela havia saído.

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ULTRAVIOLENCE
Short StoryUma coletânea de histórias sobre corações partidos, aventuras noturnas e passeios em motos que cortam a noite.