Cartas na mesa.

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Ana's POV

- Ana? - Jorge me trouxe de volta à órbita. Eu fiquei zonza após Chiara se levantar, o que pairou no ar fora como decepção. Ela se levantou como um furacão. Olhei-a com a visão ainda turva, pude enxergá-la por cima dos meus ombros.

Sentada em um dos bancos da cozinha americana. Uma maça mordida em sua mão.
Chiara parecia tão longe quanto eu.

-Eu falo com ela. - Ele tornou a falar.

- Jorge...

- Eu comecei isso, em Juiz de Fora. E por mais que você e ela tenham muita responsabilidade nisso, não custa lhe oferecer uma mãozinha. - O negro gato sorriu. Seus pés número 45 marcaram a madeira. Eu os observei de longe.

A casa era tão silenciosa que suas vozes ecoaram no cômodo. Eu pude ouvir a voz de minha italiana.

- Chiara? - Ele pronunciou.

- Jorge, eu não quero ser rude com você, mas eu realmente preciso absorver a situação. - Ela disse, calma. Parecia confusa.

- Eu só queria lhe dizer que eu fui a única aventura de Ana em todo esse tempo, foi duro para ela ver o quanto o passado e toda essa nostalgia caem sobre vocês. Principalmente, como você sucumbiu em Isabella. Eu dei em cima dela em Juiz de Fora, e fora muito divertido revê-la. Mas, era só isso. Eu sei que fui parte do que separou vocês, e não queria que você permitisse algo que já aconteceu se repetir.

- Jorge...

- Me deixe terminar. - Enxerguei-a assentir. - Vocês passaram um tempo valioso distante, Ana me contou sobre o quase noivado de vocês, sobre os filhos, e cachorros que pretendiam ter. Ela me contou da lua de mel, e me fez entender o porquê de tanto amor. Olha para aquela mulher lá, agora. - Ele disse, e os seus olhares me encontraram profundamente. - Olhe tudo que você passou por causa dela, e mais que isso; olhe o que ela passou por você.

- Eu sei disso.

- Então me diz quem em sã consciência ficaria quase uma década esperando por alguém que sequer lembra seu nome. - Ele disse firme. Nos lembrando do episódio em que seu avô nos tirou de nós. Enrico, Eva, e o pai de Chiara nos roubaram tantos anos, tanto tempo, tanta vida...

A pior época de minha vida fora perdê-la para si mesma. Ela que me odiava ao saber que tanto a amei. Ela que fugiu de mim. Mesmo que me quisesse por perto.

Eu cuidei dela, mesmo de longe, mesmo com o coração fragmentado com a distância e a dor que tudo aquilo nos causou. Tive medo de que ela nunca mais pudesse me sentir da mesma forma, tive medo de tudo que aqueles terríveis dias lhe roubaram.

Perdi um grande amor no meio disso, ascendi na carreira, fui parte de um casamento psicopata, sobrevivemos à uma vingança; que sequer entendemos no fim. Passamos por tudo que esteve em nosso caminho. E paramos bem aqui.

Com seus olhos ainda atentos nos meus. Acesos no que sentíamos.

- Ana Carolina. - Ela pronunciou. Como um chamado. Com um sorriso.

- Vocês tem muito a conversar, mas quero que entenda que nada é maior do que vocês, aí dentro. Guarde isso, e leve com sua vida. - Ele pôs a mão em seu ombro. Como uma âncora.

- Eu também tenho muito a contar. - Ela disse.

- Eu sei, Chiara. - Jorge piscou. - Acalma teu coração, vocês são maior que tudo isso. - Chiara me chamou com o olhar, subiu as escadas me convidando, e eu fui. Sem mais nada voando em minha cabeça.

Olhei o corredor, e pesquisei no ar seu cheiro e seus rastros. Fui levada até meu quarto de pinturas. Chiara sentada ao chão, de frente pra a parede que gravava "Resta" em sua superfície.

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