VII

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Novembro, 1493.

Sede. Sede era o que eu sentia enquanto meu corpo começava a despertar do sono. Era uma sede desesperadora; podia sentir minha garganta completamente seca, pedindo por água para que ela parasse de queimar.

Antes que eu pudesse abrir os olhos minha garganta reclamava, parecia pegar fogo, e todo meu corpo parecia reclamar junto, como se eu estivesse desidratada. Finalmente me movi, sentando na cama, e piscando algumas vezes para que meus olhos se acostumassem com a escuridão do cômodo. E só aí percebi que estava sem roupas.

Franzi o cenho, confusa, tentando entender o que estava acontecendo, tendo meus pensamentos atrapalhados pelo incômodo que aquela maldita sede causava. Olhei em volta rapidamente e notei que havia outro corpo comigo na cama, e todas as memórias da noite anterior pareceram voltar como um soco.

O casamento, o sentimento de felicidade; os olhos de Azriel me olhando com devoção e orgulho. A chegada ao local onde passaríamos a noite - uma casa afastada do resto do mundo; os olhos de Azriel parecendo se tornarem mais escuros do que o normal. O prazer junto ao sentimento de completude; os olhos de Azriel me encarando com desejo e posse.

E a dor. A dor que atravessou meu corpo inteiro antes que eu finalmente caísse no sono. A sensação incomoda em meu pescoço que se espalhou por cada membro, me fazendo gritar e desmaiar de dor e cansaço. E a visão dos olhos de Azriel me encarando, como se houvesse ganhado um prêmio. Como se houvesse finalmente conseguido algo que ele tanto queria.

Aquela dor havia dado lugar ao incomodo da sede e eu me sentia confusa. Puxei o lençol para cobrir meu corpo, me sentando com os joelhos perto do rosto, e balancei Azriel levemente.

"Azriel?" chamei, com a voz fraca

Pude vê-lo se mover levemente, notando cada músculo de suas costas se movendo enquanto ele se arrumava para virar o rosto em minha direção e me olhar.

"Está tudo bem?" a voz calma dele me atingiu e eu engoli em seco, novamente sentindo minha garganta reclamar

"Eu não-" me movi incerta, abraçando minhas pernas "Eu não sei. Eu estou... Estou com sede e... Confusa."

Ele pareceu ficar alerta no mesmo momento, se sentando na cama e se aproximando de mim levemente, me puxando para que eu ficasse sentada em frente a ele, encaixada em seu corpo. Me mantive calada, tentando entender o que ele fazia, notando que ele levava um de seus braços até sua boca, e franzi o cenho.

Com um movimento lento, seus dentes pareceram capazes de cortar sua pele, e eu arregalei os olhos, pronta para mandá-lo parar e perguntar porquê ele fez aquilo, mas, quando seu braço - que já estava sangrando - parou em frente ao meu rosto, a sede pareceu aumentar.

Mesmo no escuro, o líquido carmesim que saía de seu braço parecia me deixar inquieta. Não fui capaz de tirar os olhos do corte e pude notar quando algumas gotas começaram a cair em minhas pernas, o som delas atingindo minha pele parecendo ser a única coisa que podia ser ouvida no quarto.

Senti o nariz de Azriel passar levemente pelo meu pescoço antes que ele falasse, num tom calmo porém autoritário. "Beba."

Como se eu não tivesse controle de meu corpo, senti uma sensação estranha em meus dentes, antes de avançar em cima de seu braço, o mordendo e sentindo meus caninos perfurarem sua pele. Assim que o sangue dele tocou minha língua, espalhando o gosto metálico pela minha boca, eu pude sentir a sede amenizar e continuei sugando o líquido como se minha vida dependesse daquilo.

Assim que senti que a sede estava mais amena e que recuperei o controle sobre minha mente, parei o que fazia e me movi assustada, me afastando de Azriel e indo para o outro lado de quarto num piscar de olhos. Me mantive olhando para Azriel com medo e confusão transparecendo em meus olhos, e o vi se mover com cuidado, levantando as mãos, e vindo em minha direção lentamente.

Races - Livro 2: Ninphs (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora