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Agosto, 1493.

O barulho da chuva no teto do estábulo estava ficando cada vez mais alto conforme a chuva engrossava. Passei a mão no focinho de um dos cavalos, tentando acalmá-lo, enquanto pegava as coisas para correr de volta para dentro de casa.

Antes que eu pudesse dar o primeiro passo para fora do estábulo, ouvi um barulho alto vindo da parede de madeira dos fundos. Franzi o cenho, imaginando que algum dos cavalos havia produzido o barulho, e caminhei até lá para checar. O cavalo negro que ficava no último espaço do estábulo me olhou, fazendo um pequeno barulho quando entrei em sua cela.

"Ei amigo, foi você quem fez o barulho?" perguntei, vendo o cavalo se mover calmamente enquanto eu passava a mão em suas costas

Olhei em volta, notando que tudo estava em seu devido lugar, e franzi o cenho novamente. Me virei para sair dali e, subitamente, ouvi o grito de minha mãe vindo da casa principal. Arregalei os olhos e me pus a correr, deixando todos os materiais que eu tinha que levar de volta para a casa para trás e correndo em meio a chuva.

Meus pés descalços escorregavam minimamente na lama do caminho de terra e a chuva forte parecia atingir minha pele como se fossem pequenas pedras, mas eu não parava de correr. Ouvi de longe o barulho de coisas sendo quebradas e corri mais rápido, caindo algumas vezes no meio do caminho.

Minha mãe estava sozinha em casa, o que era mais preocupante ainda. Abri a porta com rapidez e vi minha mãe no chão, com a mão cobrindo um corte em sua testa que sangrava, e, em frente a ela, um homem com uma faca. O homem olhou para mim de relance e eu senti o medo se espalhar pelo meu corpo.

"Olivia, saia!" minha mãe gritou

O homem tentou se aproximar de minha mãe e eu senti uma onda de coragem me tomar. Corri até ele, segurando o braço em que ele segurava a faca, e começamos a brigar pelo objeto.

Em algum momento ele conseguiu se virar para mim e, por pouco, não me esfaqueou, mas eu consegui desviar em tempo. Tentei me lembrar do que meu pai havia me ensinado a alguns anos atrás quando ele tentou me ensinar a me defender, mas o homem era mais forte. Novamente ele quase foi capaz de me esfaquear, mas eu desviei outra vez.

Olhei em volta, em pânico, e notei a lareira ligada. O espeto que usávamos para arrumar a lenha estava dentro do fogo e eu podia ver sua ponta avermelhada graças ao calor. Olhei para o homem, vendo-o se preparar para atacar mais uma vez, e acabei me distraindo por um segundo quando vi sua boca. Por alguns segundos pude jurar ter visto presas no lugar de seus dentes comuns.

Voltei à razão quando vi ele correr para me atacar e me joguei na direção da lareira. Tudo aconteceu rápido demais; Minhas mãos alcançaram o metal quente na mesma hora em que o homem já estava quase em cima de mim. Só tive tempo de colocar a ponta do metal para cima, em frente ao meu corpo, antes de perceber que o metal sumia dentro do corpo do homem.

Arregalei os olhos, vendo-o gritar com a dor e se afastar, com o metal cravado em seu estômago. Me arrastei até minha mãe, vendo-a desesperada, e logo voltei a olhar para o homem. Ele retirava o metal de seu corpo, como se aquilo não fosse nada, e eu podia ver o sangue se espalhar por suas roupas. Arregalei os olhos mas logo pus uma expressão decidida no rosto, abrindo os braços em frente a minha mãe, a defendendo, e tentando me preparar para um novo ataque, quando eu notei uma figura parada na porta da frente da casa.

Azriel estava ali, completamente molhado pela chuva, e sua expressão era séria. Ele olhava para o homem com algo próximo a raiva, e eu senti o medo percorrer meu corpo novamente. Ele parecia... diferente. Voltei meus olhos para o homem que havia invadido a casa e pude vê-lo tentar atacar Azriel.

Races - Livro 2: Ninphs (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora