XIII

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-Novembro, 1502.

As estrelas brilhavam como em todas as noites, silenciosas, manchando o céu negro com sua luz. Coloquei minha espada ao meu lado, sentando no topo do telhado do castelo, apenas observando o céu.

"Não devia ficar sozinha no seu aniversário, acho que conversamos sobre isso ano passado..." a voz de Renée soou atrás de mim, seu sotaque francês ainda pesado em sua fala, e eu o olhei

Seus olhos brilhavam levemente, me olhando com um pouco de preocupação, e eu apenas balancei a cabeça.

"É uma opção minha, Renée."

"Você fica triste quando está sozinha." ele se aproximou "E quando fica triste, começa a pensar em Azriel. E quando pensa nele, bem..."

"Eu não vou destruir outra vila, prometo." me senti envergonhada, lembrando do surto que tive

A pobre vila não teve chance assim que eu acabei destruindo algumas coisas e acabei causando um incêndio sem querer. As pessoas provavelmente ainda procuravam por mim, mesmo depois de meses, graças à destruição que eu causei, mas Renée se deu o trabalho de me esconder antes que eu fosse capturada.

"Confio em você, mon petit ouragan." ele usou meu apelido e eu virei o rosto instantaneamente, ainda envergonhada "Mas, mesmo assim, é seu aniversário."

"De que importa? É apenas mais uma data agora, eu não envelheço mais. Quase nove anos se passaram e ainda estou aqui, a mesma pessoa. Não tenho marcas, não tenho cicatrizes ou rugas. Aniversários são apenas números vazios agora."

"É o dia em que você veio ao mundo! Sei que parece banal agora, mas são essas simples coisas que nos mantém sãos." ele moveu minha espada, colocando a sua própria ao lado dela, sentando ao meu lado e me olhando nos olhos, sorrindo "Eu tenho 265 anos e ainda celebro meu aniversário. É um jeito de me lembrar de minha vida antes de me tornar um vampiro. Celebrar o dia em que nasci como humano é importante."

"Lembranças me trazem dor." murmurei "Não são agradáveis."

"Porque você só se deixa reviver as desagradáveis." ele levantou as sobrancelhas em minha direção e eu apenas dei de ombros "Sabe qual é a minha memória favorita de quando eu era humano?"

Pensei em o ignorar mas não seria capaz de fazer algo assim com Renée, então apenas o encarei, esperando que ele continuasse.

"Eu era uma criança, tinha dez anos. Eu e meu irmão mais velho brincávamos na beira de um... como chama? Ah, rio. Na beira de um rio. Costumávamos a lutar um com o outro, como crianças fazem, para saber quem era o mais forte, e, naquele dia, eu ganhei. O derrubei no chão, mesmo ele sendo o dobro do meu tamanho, e me senti como se pudesse fazer tudo que quisesse depois de vencer aquela briga." ele então soltou uma risada, seus olhos brilhavam com a lembrança e eu não pude deixar de notar o quão calmo ele estava e que sua calma parecia me contagiar "Então minha irmã mais nova chegou até nós, enquanto eu ajudava meu irmão a levantar, e nos empurrou para dentro do rio. Quando voltei a superfície pude ver a expressão vitoriosa no rosto dela, enquanto eu e meu irmão brigávamos para ver quem sairia do rio primeiro. Foi um dia agradável que tive com minha família, e as sensações daquele dia ainda me acompanham mesmo depois de séculos."

Ele ficou em silêncio, olhando para o nada com um sorriso saudoso, parecendo lembrar cada detalhe da memória que ele havia acabado de falar, e eu apenas baixei a cabeça.

"Não sente falta deles?"

"Todos os dias..." sua voz soou triste, mas seus olhos ainda pareciam brilhar com felicidade "Mas não quer dizer que isso deva me parar. Eu os amei, e ainda os amo, mas eles se foram, e isso faz parte da vida. Os vi crescer e ficarem velhos; terem filhos, netos e bisnetos, mesmo que de longe, sem nunca me mostrar novamente. E os vi morrerem, também sem me aproximar. Mas o amor deles por mim não morreu, ele se mantém vivo em mim. Você entende?"

Races - Livro 2: Ninphs (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora