IX

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Dezembro, 1493.

A lua brilhava, tão serena quanto sempre. A noite silenciosa parecia não me ajudar, deixando que os pensamentos conflituosos continuassem a percorrer minha cabeça, soando como gritos em meu crânio, me deixando inquieta.

Dois dias haviam se passado desde que meus pais haviam sido mortos. Os vizinhos e amigos da família haviam ficado horrorizados com a cena e eu não tive coragem de me mostrar a eles, a culpa da morte de meus pais consumindo cada parte do meu ser. Alguns tentaram me achar, tentaram vir me consolar ou perguntar sobre o acontecido, mas ninguém me achou.

Eu me escondi, e agora seria apenas mais um fantasma. E eu certamente me sentia como um. Ali, na luz da lua, eu me sentia vazia, como se nem estivesse propriamente ali.

Estava tão presa ao barulho de meus pensamentos que não ouvi passos se aproximando, subindo as escadas que dariam para o telhado do castelo. Não senti quando ele finalmente chegou perto de mim é só vim dar conta da presença dele quando a voz dele soou baixa atrás de mim.

"Não pode me odiar para sempre."

Meu corpo tremeu com sua voz e novamente o conflito em minha mente voltou. Aquela voz que antes me trazia tanto conforto agora me fazia sentir medo. Eu queria acreditar que aquele não era ele, que o homem que falava comigo não era o Azriel que eu amei, mas eu já não estava mais tão certa. Não havia amor no mundo que me fizesse olhar para ele do mesmo jeito que antes.

Pude ouvir o barulho de seus pés se movendo levemente, como se hesitasse em dar um passo a frente, e logo sua voz voltou a soar atrás de mim.

"Olivia, vamos." a voz dele soou calma, quase me fez querer obedecê-lo, mas não foi o suficiente "Você precisa-"

"Por que eu, Azriel?" perguntei, ainda sem o olhar, num tom tão baixo que poderia se perder no silêncio da noite, mas eu sabia que ele havia escutado perfeitamente

Ele ficou em silêncio por alguns segundos, provavelmente processando minhas palavras. "Porque você é perfeita para o papel que quero que você cumpra."

"Perfeita?"

"Eu lhe observo a muito tempo, Olivia. Você era uma das opções para se tornar uma de minhas representantes. E acabou sendo a melhor delas."

"Uma das opções?" me virei para ele, franzindo o cenho e vendo-o com uma expressão calma e fria "Eu não entendo esse seu plano... Você nunca me explicou o que tanto quer comigo."

Ele baixou a cabeça e levantou rapidamente, como se estivesse falando com uma criança curiosa e eu senti a raiva borbulhar em mim novamente, contendo o desejo de atacá-lo como fiz na casa de meus pais.

"Os humanos estão começando a ir para mais lugares em busca de terras. Este continente é extremamente interessado na conquista de terras, devo dizer... São irritantemente desesperados por territórios que eles não conheciam. Os vampiros que vivem nos outros continentes são poucos, não me importo muito com eles e os deixo sem supervisão já que eles aprenderam a viver em harmonia com os povos de lá. Mas, com os humanos desse continente indo para outros lugares, as coisas podem ficar fora do controle. E é aí que você entra." ele deu um sorriso e eu senti mais um arrepio nada agradável correr pelo meu corpo "Eu precisaria de alguém forte para ir para as novas terras, alguém que pudesse manter a ordem em meu nome por lá, e você é quem eu procurava. Você é autoritária, mesmo não sendo socialmente aceita pelos humanos como uma figura de autoridade. Você sabe como comandar."

"Se queria alguém para comandar, por que escolheu a mim e não a um homem qualquer?"

"Porque homem algum tem o mesmo poder que você. Eu a analisei de longe por anos, e finalmente me aproximei recentemente para ter certeza de que eu estava certo. Certamente não esperava me casar," ele soltou uma risada, mas eu não consegui correspondê-lo "mas foi um bom ganho."

Races - Livro 2: Ninphs (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora