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Johnny abre os olhos com ardor. Eles estavam inchados. Johnny não dormira e havia derramado todas as suas lágrimas, mas sem nunca soltar um segundo de voz. Passou a noite paralisado, apenas olhando para o nada, sem pensamentos e sem emoções distinguíveis. Só dor. Michael passara a noite observando-o, sentado no chão, encostado na cama, com os olhos vermelhos, em parte porque passou a noite em claro, em parte por causa do cigarro entre seus dedos.
Os dois trocam olhares mas não falam nada. Nenhum dos conseguia pensar em qualquer palavra adequada para aquela situação. Michael somente saiu de sua cama para encostar-se na de Johnny, sentando-se novamente no chão. Ele desconhecia qualquer coisa que pudesse fazer para ajudar além de nunca mais deixar que isso acontecesse. Ao contrário do que parece, Michael não é bom com palavras, então não se arriscava nelas.
Ele finalmente se levanta e vai ao banheiro. Quando se olha no espelho, ele não pode evitar se culpar pelo que aconteceu com Johnny. Ele fecha seu punho e golpeia, com toda a sua força, o espelho. Não era capaz de olhar seu próprio rosto. Quando volta para o quarto, não encontra Johnny lá. Então, ele corre até o pátio principal, onde vê uma roda de pessoas gritando e gargalhando. Quando consegue finalmente chegar ai centro da roda, vê dois homens espancando Johnny no chão. Ele simplesmente empurra os dois homens, que correm amedrontados. Contanto, o que vê no chão é seu amigo banhado no próprio sangue, olhando para ele fixamente e rindo. Ele então segura Johnny e coloca-o sobre seu ombro direito. Quando chega no quarto, deixa Johnny sobre a cama e vai até o banheiro. Lá, rasga um pedaço da sua camisa e molha. Volta ao quarto e limpa o rosto de Johnny, deixando o pano completamente vermelho. Johnny sorri ao ver a região do corpo de Michael descoberta.
Michael: O que você tava pensando? Ir arrumar briga no meio do pátio?
Johnny: Eu nunca me senti tão vivo.
Michael não entende o que ele quis dizer e logo chega à conclusão de que ele deve ter batido a cabeça muito forte, mas Johnny sabia exatamente o que estava falando. Michael então deita a cabeça sobre Johnny, num gesto de carinho. Johnny coloca sua mão sobre a nuca de Michael. O homem grande, então, leva seu rosto para perto do rosto de Johnny, que afasta-o com a mão e então deita virado para a parede, de costas para Michael. Johnny não podia evitar esse receio, talvez até medo ou nojo de outros homens depois do que tinha acontecido. Ele não podia evitar seus sentimentos por Michael mas podia recalcá-los pois sabia que ele também era um estuprador em potencial. Essa situação era não só dolorosa, mas também nova e estranha para Johnny. Ele não aceitava que tinha sido estuprado, chegava até a fantasiar que tudo aquilo era da mente dele, mas no fundo sabia que era real. Ele só estava tentando se preservar ou pelo menos sobreviver aquilo. Ele não podia morrer. Não com Michael ao seu lado. Não com Melanie contando com ele. Ele amava os dois de maneiras iguais, embora não acreditasse que fosse possível se apaixonar por duas pessoas ao mesmo tempo. Sentia-se seguro nos braços de Michael e também era atraído por ele fisicamente enquanto à Melanie se prendia por dever, além do amor. Ele não só quer como também deve estar com Melanie. Ela era sua irmãzinha, mesmo que não fossem do mesmo sangue. Michael deita no chão ao lado de Johnny e encaixa sua mão na dele. Não estava confortável mas não era ele que importava, era Johnny.

Scarlet Heart #WATTYS2017Onde histórias criam vida. Descubra agora