"Não há segredos que o tempo não revele "
(Jean Racine)
— Desculpe-me, efeitos da idade. – O homem disse com um sotaque marcante, muito semelhante ao de Nicholas. Entretanto, a expressão de confusão, e um pouco de pavor, não deixava o seu rosto. Ele parecia me analisar com todo o cuidado, como se eu fosse uma caríssima obra em exposição no mais respeitado museu. Parecia querer decifrar um mistério, que até hoje nunca havia sido desvendado.
— O Senhor conhecia a minha mãe? – Insisti na dúvida. O passado da minha mãe era um completo mistério para mim, minha tia não gostava de comentar. As únicas coisas que me foram contadas, já foram registradas aqui. Minha mãe cometeu graves erros durante sua adolescência, ao largar os estudos, ao se envolver com um filhinho de papai irresponsável, ao engravidar tão nova. Mas, são só essas coisas que eu sei sobre ela. Nenhum detalhe me foi contado. Ela amava o meu pai? Ele nunca quis saber de mim? Ele fugiu ao descobrir que ela estava grávida? Ela gostou do trabalho na Itália? Por que ela nunca quis se comunicar comigo? Por que meu pai nunca se importou em me conhecer?
— Há muito tempo. Desculpe-me, querida. O dever está me chamando. Gostaria de falar com você mais tarde, sobre sua... sobre sua mãe – Ele disse olhando em volta. Quando eu segui seu olhar, vi que uns homens o chamavam com acenos. Pareciam alguma versão mais nova dele, bem loiros, bem brancos e vestindo ternos muito bem passados.
Ele queria falar sobre a minha mãe. Mas, que informação eu poderia dar a ele? Pelo menos, acredito que ele possa me conceder alguma informação, qualquer uma, nem que seja o sabor favorito de suco dela, já seria maravilhoso para mim.
Meu tio anunciou que começariam os discursos de aniversário. Todo ano, havia uma cerimônia na sacada do palácio, assistida por todos os espanhóis que acampavam no pátio e em rede nacional para todo o país. Era uma tradição, meu tio abria os discursos, seguido por Thomas e finalizando com algum grande aliado político, que reafirmava sua aliança para quando meu primo subisse ao trono.
O Rei da Noruega era o aliado desse ano. De acordo com Lis, a Noruega era uma das monarquias mais poderosas da atualidade e se fortaleceria ainda mais após sua união com a Dinamarca e com a Suécia, na possível formação do Reino Escandinavo. Tendo Nicholas como futuro rei.
E voltamos a ele. Entretanto, Nicholas não conseguiu capturar minha atenção por muito tempo, pois assim que Thomas deixou o palco após o seu discurso, o homem loiro que eu havia conversado subiu no palanque. Então, ele era o famoso Rei da Noruega. Eis a questão, como o rei de um país tão distante, podia ser próximo da minha mãe?
Se vocês acham que já estava estranho nesse momento, não saberão lidar com o que irá vir a seguir, pois até hoje eu me pergunto como consegui me manter de pé.
— Recebam o Rei Axel Oldenburg da Noruega! – Anunciou o secretário de imprensa antes de conceder o microfone para o homem ao seu lado. Eu não consigo explicar o turbilhão de emoções que tomou meu corpo quando aquela frase foi dita. Não podia ser apenas uma coincidência. Aquele nome... Aquele nome que tanto ocupou minha mente por 23 anos! Não podia ser ele. É claro que não era ele, deveria existir milhões de homens com o mesmo nome, não é? E que conheciam a minha mãe? Qual era a probabilidade de não ser ele?
Esse era o sonho de toda menina órfã, mesmo que só por parte de pai. Sonhar que o pai é alguém importante, é um rei e que irá encontra-la e a coroar como princesa de um país que ela nem sabia o nome. Mas, eu nunca quis ser uma princesa e meu pai não podia ser um rei. Olhe o tamanho da insanidade de se pensar isso.
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Por trás de uma Rainha |DEGUSTAÇÃO|
RomanceDISPONÍVEL NA AMAZON E KINDLE UNLIMITED Instagram @brunafernandes.autora TikTok @autora.Bruna Luíza Hernandez foi criada em um berço de ouro dentro do majestoso Palácio Real de Madrid. Entretanto, sua vida não é tão mágica quanto aparenta. Sua pater...