Por trás de uma Rainha |DEGUSTAÇÃO|

Quem é ele?

" Porque duas pessoas só podem guardar um segredo,

se uma delas estiver morta"

(The Pierces)

Sol. Ar abafado. Ausência de nuvens no céu. Termômetro marcando mais de trinta graus. Aquilo só podia ser um sonho para alguém, como eu, que embarcou durante uma frente fria na Noruega.

Até então, eu não acreditava que fosse possível ficar de mau humor em um dia tão ensolarado e vendo o mar, de um tom absurdamente claro de azul, pela janela do avião. Mas, era só minha vista mudar de foco para tudo isso mudar.

Ingrid não sossegava dentro da aeronave e piorava a cada minuto que nos aproximávamos do momento do pouso. Ela havia tagarelado durante, pelo menos metade, das 14 horas de voo. Implorava-nos para não cometermos nenhum erro, para sempre manter um sorriso no rosto, para sempre nos mostrar humildes e de bem com a vida.  Se você acha que aquele membro da realeza que aparece na televisão é simpático ou tem um bom coração, sinto te dizer, mas você está enganada! Ele está sempre obrigado a agir daquela maneira!

— Assim que pousarmos em San José, vocês serão recebidos pela população local já no aeroporto, assim como a imprensa internacional. Eu quero que vocês atuem como verdadeiros príncipes de contos de fadas. Nada pode dar errado! Luíza, preciso que você mostre ser a princesa que tomos esperam! – Ela dizia ainda caminhando pelo jato. Estou falando sério, daqui a pouco se abriria um buraco no chão!

— Ingrid, você sabe o quanto eu respeito sua causa e você, mas foram longas horas de viagem – Nicholas dizia mantendo os olhos fechados, mas era apenas isso. Ele não dormira durante aquele tempo. Sei disso porque também não consegui adormecer, e nem por isso trocamos algumas palavras.

— Entendo que esteja cansado, Vossa Alteza, mas todos estão esperando por vocês, não podemos começar com o pé esquerdo – Ela dizia se sentando pela primeira vez, devido ao anúncio de pouso do piloto – Recapitulando os planos de viagem: Assim que chegarmos a capital, iremos direto ao Teatro Nacional, onde a Ministra Laura Solís  irá apresentá-los. Alguns nomes importantes estarão presentes. Nicholas, você irá comandar o discurso, sei como é talentoso para isso. À noite, haverá um jantar beneficente com um leilão, doamos joias monárquicas para arrecadar dinheiro para o país. Já há uma quantia reservada para vocês participarem do evento, mostrarem que estão dispostos a ajudar, juntos.

— E depois? – perguntei curiosa, ansiosa para saber quando voltaríamos para a Noruega. Eu não havia passado muito tempo com o meu pai, não tivera tempo de conversar com ele, de conhecê-lo melhor. Mas, eu estava aqui por ele, era o que ele desejava que eu fizesse. Mesmo, que eu tivesse que viajar defendendo algo que eu não acreditava na companhia de Nicholas.

Não era bem isso que eu chamava de férias.

— Amanhã, sairemos cedo do hotel para pegarmos novamente o avião – Ela contou e aquilo já despertou um resquício de esperança dentro de mim.

— Para a Noruega?

— Não – Ela sorriu, com certa piedade, na minha direção, antes de retornar seu olhar para o bloco de anotações que carregava para todos os lados – Vamos para o Four Seasons, do outro lado do país. É um hotel incrível e teremos reuniões com essas figuras importantes que eu tanto mencionei. Mas, vocês irão ter tempo de aproveitar, afinal, estamos no Caribe.

Aproveitar. Diga-me, aproveitar o quê?

Quando o avião pousou no aeroporto de San José, eu pude sentir verdadeiramente o calor caribenho entrando em choque com meu corpo acostumado ao gélido clima do norte da Europa.  Junto com o vapor, entrou no avião o barulho, havia muitas pessoas do lado de fora da aeronave, muito mais do que eu imaginava. Elas exalavam animação, admiração. Tudo isso dirigido para mim, não para alguém que exerceu um ato heroico, ou um deus. Para mim.