Capítulo 3

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"Estava tudo escuro, mas porque? Onde eu estava?"

- Tem alguém aí? Eu estou perdida, por favor alguém me ajuda - eu já estava em completo desespero, não conseguia ver absolutamente nada.

- Parece que a garotinha se perdeu - uma voz desconhecida falou, fazendo todos os meu pelos arrepiarem. Era uma voz abominável, totalmente indistinguível. Transmitia ódio e terror em cada palavra que disse.

Eu congelei, foi como se eu soubesse que aquele era meu fim.

- Quem é v-você?- Nesse momento lágrimas já rolavam em meu rosto. Eu não sabia porque estava tão apavorada. Mas foi aí que minha respiração falhou. Mãos enrolaram meu pescoço, um sorriso maligno esboçou no rosto daquele ser, cujo qual seu rosto estava desfigurado.

Meus olhos se arregalaram, eu tentava me soltar de alguma forma, mas nada parecia surtir efeito naquele monstro. Ele apenas gargalhava, a cada tentativa, o som de sua risada ia se expandindo.
Sem ar e sem forças pra lutar, simplesmente me permiti adormecer profundamente nas mãos dele.

- Me repugna saber o quão fraca você é Emma, eu esperava mais de ti. - Ele diz num sussurro. Sua gargalhada foi a última coisa que ouvi assim que apaguei completamente.

Pulei da cama assustada, o que diabos havia acontecido? Eu estava pingando suor, minhas mãos estavam trêmulas, eu ainda podia sentir mais em meu pescoço. Corri para o espelho para me certificar de que foi apenas um pesadelo, assim que parei em frente ao mesmo, vi meu estado deplorável.

Passei as mãos em meu cabelo, agora molhado pelo suor, observei atentamente o que estava em frente ao espelho, olheiras fundas, algumas manchas roxas pelo corpo. O que eu estava fazendo comigo mesma?

Decidi tomar um banho gelado, tudo que aconteceu no meu sonho está nitidamente presente em meus pensamentos, aquelas mãos, aquela voz. Parecia tão real.

Tentei relaxar e esquecer o que aconteceu, procurei focar em outra coisa, mas toda vez que eu tentava pensar em algo, aquela gargalhada vinha como uma faca cravada em meu cérebro.

Sai do banho assim que percebi que meus dedos estavam ficando enrugados, com a toalha enrolada ao corpo, parei novamente em frente ao espelho. Eu preciso mudar isso, preciso estar bem fisicamente e emocionalmente.

Eu sabia que maquiagem não ia resolver, então decidi que não ia gastar meu tempo com isso, escovei meus cabelos cautelosamente, observando cada gesto que fazia. Assim que terminei, me vesti com a roupa mais confortável que achei.

Desci as escadas, comi uma maçã, peguei meu material, fones de ouvido, celular e caminhei lentamente para a escola.

"I remember years ago
Someone told me I should take
Caution when it comes to love, I did
And you were strong and I was not
My illusion, my mistake
I was careless, I forgot, I did"

A cada passo, eu sentia meu coração pesar, minha mente estava um turbilhão, o que estava acontecendo comigo?

"And now, when all is done, there is nothing to say
You have gone and so effortlessly
You have won, you can go ahead, tell them"

Lágrimas agora rolavam em meu rosto, lembranças da qual eu não gostaria de recordar, passam pela minha mente, me lembrando de tudo aquilo que machucou.

"Tell them all I know now
Shout it from the roof tops
Write it on the sky line
All we had is gone now
Tell them I was happy
And my heart is broken
All my scars are open
Tell them what I hoped would be"

- Mamãe!! - corri para seus braços como se nunca mais fosse a ver de novo.- Mãe? Me espera, porque está fugindo de mim? - A figura materna ia desaparecendo ao vento a cada passo que eu dava.

Cai de joelhos assim que a imagem dela se desfizera. - Por favor, não me deixe. - num sussurro sofrido, eu levo minhas mãos ao rosto tentando me conter. Ela havia me deixado. Deus como isso dói.

Um grito sufocante sai pela minha garganta, nada parece aliviar a dor, o sofrimento, a falta.

"Impossible, impossible
Impossible, impossible"

Abri os olhos assim que me dei conta que estava correndo, lágrimas embassavam minha visão, as lembranças me atormentam a cada segundo, a cada respiração.

- Cuidado! - parei de correr assim que ouvi um grito, tudo o que vi foi um carro a milímetros de mim. Tudo o que fiz foi fechar os olhos e aceitar o que estava por vir. Talvez tenha chegado minha hora.

Senti meu braço ser agarrado, sons de buzinas, e de freio ocuparam os meus ouvidos. Abri os olhos lentamente, olhei ao redor e estavam todos olhando a cena que acabara de acontecer. Todos com expressões de espanto e medo.

- VOCÊ TA FICANDO MALUCA, GAROTA? - Levantei a cabeça, e foi aí que vi os olhos mais lindos que já tinha visto, os mesmos olhos que me fascinaram, e que agora me salvou.

- VOCÊ TEM NOÇÃO QUE QUASE SE MATOU ALI? QUAL É SEU PROBLE..- Não me importei, nem prestei atenção ao que ele dizia, simplesmente selei nossos lábios, como se tudo dependesse disso. Sua expressão de surpresa não demorou muito, assim que se deu conta do que eu tinha feito, apertou mais minha cintura contra si, e retribuiu o beijo.

Minhas mãos foram para seu rosto, e estaria mentindo se disesse que foi o melhor beijo da minha vida, uma mistura de desejo, mágoa, medo, tudo que estavam sentindo foi possível sentir ali, naquele momento. Tudo pareceu ter sumido, todo o barulho, os cochichos, a música que tocava em meu fone.

Durou apenas uma fração de segundos, mas eu gostaria que tivesse durado por uma eternidade. Assim que ele se afastou por um centímetros, senti sua grande mão por entre minhas bochechas, seu polegar fazia círculos, a calma e a satisfação tomou conta de mim nesse momento. Eu não queria abrir os olhos, não agora.

- Emma, olha pra mim. - Ele sussurrou, e carinho foi sentido em sua voz. - Tá tudo bem, eu estou aqui. - E pela primeira vez eu me senti segura, eu senti que podia abrir os olhos sem me preocupar com o que me aconteceria.

E assim que o fiz, eu sabia que alguma coisa dentro de mim havia mudado, a partir do momento em que o ciano dos seus olhos passaram a ser minha visão favorita, e o frescor de cereja com cigarros se tornará um vício pra mim. Naquele momento eu sabia que teria que me afastar.

E foi o que eu fiz.

Sad BoyOnde histórias criam vida. Descubra agora