Alexandra levantou e começou a se arrumar, pensativa, com os acontecimentos da noite anterior e mais precisamente com o sonho que tivera, sabia bem de quem era aquela voz, era Ramão, um espírito que costumava a aparecer em seus cultos e em uma determinada época quando era jovem, fez um pacto com ele, de fato depois do feito, obteve tudo o que queria. Com o tempo quis se livrar dele, mas mal sabia que o trato que fizeram era de pós vida. Sedenta de vingança nem ligava dele ter aparecido em sonho, pois sabia que com Ramão ao seu lado, conseguiria se vingar.
Ao sair do casarão certificou-se que não estava sendo seguida, se embrenhou pela floresta que ficava próxima ao casarão, caminhando em passos largos chegou até o local onde realizava seus cultos. O lugar era um tanto escuro, fios de sol saiam em vão naquela manhã de inverno e eram imperceptíveis naquele local. Nas raízes de uma grande árvore, Alexandra se prostrou e proferiu palavras em latim, começou a evocar os espíritos que ali já se encontravam, os convidou para participar de seu plano de vingança. Repetindo cada vez mais as palavras, revirou os olhos como se entrasse em transe e de repente sentiu um frio incomum percorrer todo o seu corpo, fazendo seu sangue gelar, sorriu satisfeita, pois sabia que aquilo era um sinal que ali se encontrava os senhores das trevas, pegou então seu punhal, fez um pequeno corte em uma de suas mãos fazendo o sangue pingar sobre as raízes da árvore, derramou também um pouco de vinho. Ao terminar, se levantou e recolheu seus pertences, caminhando para longe dali.
Decidiu parar em um lago que por ali passava, a fim de lavar sua mão e refrescar a garganta, foi nesse momento que Alexandra se lembrou de quando vivia em um vilarejo, levava uma vida simples ao lado de sua falecida mãe, ela a ensinou o culto a natureza, onde sempre frisava o bem e o amor, uma pena que a maldade humana havia destruído tudo de belo que Alexandra conhecia. Afastou a lembrança como se quisesse fugir da tristeza que trazia em seu coração. Continuou então o seu caminho de volta para o casarão.
Chegando lá, para sua insatisfação, avistou a carroça de Padre Jean.
Na sala principal principal, Alexandra curvou-se diante de Jean e tomou sua mão beijando-a.
-Sua benção monsenhor, o que me da a honra de sua visita em minhas terras?
-Que Deus a abençoe, estou de passagem, vim apenas receber os impostos e saber como andam as coisas.
-Sim padre, Cristina irá entregar-lhe, mas antes, junte-se a mim para o almoço.
Jean sorriu satisfeito,aceitou sem rodeios, o dia seria longo e não podia desperdiçar o convite.
Dirigiram-se então para a sala de jantar que já estava posta com muito capricho por Cristina.
O Almoço ocorrerá tranquilo, Alexandra dissimulava suas palavras e gestos a fim de que seus costumes e crenças passassem despercebidos os olhos do padre. Jean era ambicioso, um velho padre de província, cumpria ordens do Arcebispo e cardeais da França, sempre que solicitado ia até eles para resolver questões mais sérias, foi enviado para Mônaco assim que os soldados de Otávio ocuparam aquela província.
Após recolher os impostos de Alexandra, Jean deu partida em sua carroça, continuando sua peregrinação em busca de dinheiro para a igreja.
Continua...
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Nem o Tempo Pode Apagar
RomantikEsse romance de 1247, vem mostrar que nem mesmo o tempo é capaz de apagar uma história marcada pela paixão, poder e ganância.