1 - Marian

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Escócia- 1542 D.C

- Gabriel, alguém pode nos ver!

- Não há ninguém aqui, Mary. Todos estão lá fora, na celebração!

Ele continuou me puxando pelos corredores do palácio, e mesmo que o medo de que alguém nos visse fosse desesperador, o desejo que queimava em mim não me permitiria recuar.

Subimos apressados a escadaria que levava ao "nosso lugar" e então finalmente chegamos a grande sala cercada de estantes, onde dezenas de livros descansavam calmamente.

Gabriel me puxou delicadamente para dentro e fechou a porta atrás de si. Avançou em minha direção, sua mão direita alcançando meu rosto enquanto a outra puxava meu corpo em direção ao seu.

Eu nunca me cansava de como me sentia em seus braços.

Seus lábios devoravam os meus em um beijo faminto.

Essa é a palavra.

Fome.

Era um sentimento extremamente intenso e desolador saber que nós nunca estaríamos juntos o bastante.

Era esmagador.

Suas mãos deixaram o meu rosto para passearem pelas minhas costas. Seus dedos se detiveram nos botões do meu vestido e minha respiração ficou ofegante. Mesmo que cada parte do meu ser quisesse ajudá-lo a abrir todos eles o mais rápido possível para que eu pudesse senti-lo passear por toda a minha pele, uma voz irritante em minha cabeça continuava me lembrando do baile que ocorria no salão abaixo de nós.

- Gabriel... - Lutei contra a vontade que me consumia. Queria poder esquecer as dezenas de pessoas lá fora, mas não conseguia - Logo perceberão a minha falta...

Relutantemente, Gabriel levou suas mãos novamente para o meu rosto e me deu um beijo casto nos lábios.

- Eu não suporto isso. Tê-la tão perto e ter que deixá-la ir. - ele suspirou e encostou sua testa na minha.

A eletricidade que sentia percorrer meu corpo cada vez que Gabriel me tocava era fascinante. Seu olhar me fazia aquecer e sentir como se o mundo todo girasse ao nosso redor.

Desde o primeiro dia, aquele fatídico dia, em que nossos olhares se cruzaram pela primeira vez...

*****

(Flashback)

- Endireite os ombros Marian. Nenhum príncipe olhará para uma corcunda. - Maressah, minha mãe e rainha, ralhou.

Com algum esforço me pus ereta.

Minhas costas doíam tremendamente, e meus pés estavam em carne viva graças aos sapatos que ela me obrigara a usar.

Quando era mais nova adorava esses bailes. Para mim tudo se tratava de vestidos novos, muita comida, danças e poder ultrapassar meu horário de recolhimento. Mas o tempo me fez ver tudo com outros olhos.

As pessoas na verdade não se suportavam, no entanto, sempre exibiam um ridículo sorriso no rosto mascarando suas almas podres. E os vestidos novos, com tecidos extravagantes que eu e tantas outras pessoas ali exibíamos eram feitos com o suado trabalho de pessoas que não tinham o que comer enquanto tínhamos um banquete.

Meu pai finalmente se juntou a nós e tudo ficou ainda pior.

Há muito tempo havia percebido que meus pais não se amavam. Sua união, se realmente podíamos chamar assim, se dera por interesse e política. Para mim a ideia de um casamento sem amor era inconcebível, no entanto era mais um dos inúmeros encargos da realeza. Para manter nossa linhagem com "sangue nobre".

Floresta das sombras - O Livro Negro - Volume IOnde histórias criam vida. Descubra agora