3 - Emily

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Salem - 1630

- Emily, Emily! Mamãe fez guisado, porque o papai está chegando!

Emily paralisou, mas tentou controlar o tremor que passeou pelo seu corpo.

- Que bom Sam.

Seu relacionamento com o pai nunca havia sido um dos melhores.

Quando era pequena ele apenas lhe tratava com indiferença, ás vezes até com certa grosseria, mas há algum tempo ele vinha tratando-a de forma diferente.

O que antes era indiferença transformou-se em atenção demais.

Agora ele a olhava demais, queria abraça-la demais. Sempre insistindo em segurá-la mais que o necessário.

E o jeito como ele a olhava...

Era perturbador.

No começo ela havia ficado realmente feliz. Era como se finalmente após anos seu pai lhe reconhecesse como filha. No entanto, ela logo percebeu que havia algo errado.

- Não vem almoçar? - a pequena Sam, inocentemente perguntou. Seu entusiasmo infantil evidente.

- Tenho que terminar isso, Sam. Sabe como mamãe fica quando não termino as tarefas.

Esse era outro problema.

Sua mãe simplesmente a odiava.

Enquanto ela e Samantha ficavam em casa vestidas impecavelmente, Emily trabalhava.

As atividades pesadas eram intensificadas quando seu pai chegava de viagem.

Já que era assistente de Mr.Willians, o reverendo do vilarejo, isso o levava a viajar para outras localidades quase sempre.

Mas sempre que ele chegava de suas viagens, sua mãe a sobrecarregava com tarefas. Ela simplesmente não suportava que os dois ficassem no mesmo ambiente por mais de alguns minutos.

- Vamos Emily. Sabe o quanto papai fica feliz quando vê você. Vamos, por favor! - Sam juntou as pequenas mãozinhas, fazendo uma carinha engraçada.

A irmã mais velha suspirou e se rendeu:

- Está bem, Sam. Agora volte para casa, não quer sujar seu lindo vestido, ou quer?

- Tem razão! - a garotinha saiu correndo de volta para a casa.

Emily continuou arando a terra da pequena horta que a família tinha, até a entrada do bosque que ficava nos fundos da propriedade.

Ninguém entrava ali.

Haviam rumores sobre coisas estranhas acontecendo na floresta. Para ela rumores infundados, já que não haviam provas. Mesmo assim ninguém se atreveria a adentrar por àquelas árvores.

Ela já estava se virando para voltar quando pensou ter escutado algo.

Alarmada, olhou para as árvores, porém não viu nada. Então novamente escutou.

Um som bem fraco.

Parecia quase uma risada.

Como se a origem do som estivesse próxima, mas para onde quer que olhasse não via nada além de árvores.

Ignorando o tremor em seu corpo ela deu um passo em direção a floresta. Depois outro.

Mas então o som parou.

Simplesmente sumiu.

- EMILY! - seu pai a chamou da varanda.

Ela olhou uma última vez para a floresta se perguntando o que teria sido aquele som, então se virou e correu para casa.




Floresta das sombras - O Livro Negro - Volume IOnde histórias criam vida. Descubra agora