4 - Alex

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DeRoys ⚊ Dias atuais


Estou encarando o fundo do meu armário há muito tempo, fingindo procurar uma coisa que sei que nunca vou encontrar. Ele sempre me pareceu um lugar seguro, mas não é mais.

Não agora.

Antes as pessoas me olhariam torto porque segundo a hierarquia social instituída pela elite, eu era uma esquisita antissocial que merecia ser excluída pela nata de jovens brilhantes e futuramente bem sucedidos.

Uma grande sociedade de merda, na minha opinião.

Agora as pessoas me olhavam torto e cochichavam porque além de ser uma esquisita antissocial, eu era a meia irmã do garoto que se suicidou. Aliás, o que era um grande erro, já que nem compartilhávamos o mesmo sangue. Só vivíamos sob o mesmo teto graças aos nossos pais que tiveram a infeliz ideia de se casar e obrigar seus filhos totalmente diferentes a viverem sob o mesmo teto.

Se o garoto morto em questão fosse um esquisito como eu, uns cartazes seriam colocados nas paredes, umas palestras seriam feitas com todos sendo obrigados a assistirem, a fila na sala do orientador seria enorme e pronto. Apenas mais um suicídio adolescente no mundo.

Mas não.

O garoto morto em questão era um dos jovens brilhantes e promissores da sociedade de merda, da qual eu falei.

Então ele não podia ter simplesmente se matado.

Quer dizer, por que alguém como ele faria isso?

Com um futuro brilhante pela frente por que cortar os pulsos e se afogar em uma banheira? Não.

Justin Collins não faria isso.

Mesmo que a perícia houvesse constatado, e a cena por si só mostrasse isso... Não podia ser.

Era muito mais fácil pensar que a meia irmã esquisita e ''psicótica'' tinha o induzido a fazer isso, ou melhor, talvez ela mesma tenha cortado seus pulsos e o afogado na banheira.

Pobre Justin... Teve sua vida arrancada de suas mãos tão cedo. Nem mesmo teve tempo suficiente para humilhar todos os pobres coitados que queria.

Realmente, uma perda lastimável para a sociedade.

Não me entenda mal. Eu nunca desejaria a morte de alguém. Mesmo que esse alguém fosse uma pessoa horrível como Justin. Ele, assim como qualquer outra pessoa, tinha amigos, parentes e pessoas que o amavam mesmo ele sendo detestável.

Mas não era o que as pessoas pensavam.

Por isso eu sabia que enquanto encarava o armário, sussurros e olhares me cercavam. Alguns curiosos, outros que me acusavam de ser a responsável pela morte do precioso rei da escola secundária de DeRoys.

O sinal tocou e quando todos foram forçados a parar de me olhar por terem que ir para aula, finalmente fechei o armário.

Apoiei devagar minha testa na fria porta de ferro.

Eu sabia que nada do que a escola toda falava era verdade, mas aquilo tudo era muito cansativo. Porém, sabe o que realmente me doeu em toda essa tortura? Não foram os boatos, aqueles olhares e cochichos acusadores, ou os depoimentos cansativos para a polícia.

O que realmente me machucava, era o fato de que minha mãe mal olhava pra mim desde então.

Ela não disse uma palavra se quer. Quando estávamos no mesmo ambiente ela desviava o olhar o tempo todo, evitando até se aproximar demais.

O que aquilo queria dizer? Que ela realmente pensava que eu poderia ser culpada?

Balancei a cabeça tentando afastar aquelas dúvidas. Afinal, química era minha pior matéria e o Sr. Rigby só precisava de um atraso para me reprovar.

Floresta das sombras - O Livro Negro - Volume IOnde histórias criam vida. Descubra agora