06. joker and harley

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Respirei fundo, como eu sempre fazia antes de qualquer coisa que estava prestes a fazer. Dessa vez, eu enfrentaria apenas o ônibus escolar cheio, mas a promessa que dali algumas horas seria algo bem pior ainda estava ali, prestes a acontecer.

Engoli em seco, pegando meu celular e colocando em uma playlist com um nome engraçado que eu havia dado por preguiça de pensar em algo complexo com números ou em um nome legal. Era simplesmente um "sei lá, mano" com músicas incríveis. Sorri quando 4u do blackbear começou a tocar nos meus fones e eu me deixei levar pela música. O ônibus parou na minha frente e eu entrei, com a música gritando em meus ouvidos me levando a outra dimensão. 

Me sentei em um banco vazio e senti quando o veículo começou a andar pelas ruas novamente. Eu era uma das primeiras a entrar, sempre, então demoraria um pouco ainda para que eu chegasse a escola. Foi na metade de Atlantis que Ariana apareceu, sentando ao meu lado como sempre, calada. O trecho da música que gritava "I can't save us" estava grudado no meu cerébro quando encarei a janela mais uma vez. 

Eu sempre estava ouvindo alguma música. Era incrível a forma como cada canção me transmitia sentimentos variados, me tirando do meu tumpor ou me colocando em um buraco ainda maior. Eu gostava da tortura, gostava de sentir todas aquelas sensações que me passavam. Quando eu estava com aqueles fones era como se o mundo não passasse de um lugar distante, irreal. Como se nada tivesse acontecido e assim que eu tirasse meu fone, Lauren estaria ao meu lado.

Bem, ela estaria bem. Como a conheci. Lendo Crepúsculo. Não da forma que a vi ir embora. 

Não daquela forma.

Ariana puxou um dos lados do meu fone e colocou no seu ouvido, havia me acostumado com seu pequeno jeito, seu cabelo e seu cheiro. Ela me encarou, sorriu, mas não disse nenhum "bom dia" ou coisa parecida.

Love Is A Bitch começou a tocar logo em seguida e eu me deixei levar pela voz suave do cantor. Adorava aquela música. 

"Não tenho uma playlist hoje," Ariana disse, parecendo um tanto que desapontada por causa disso. O cheiro característico de cigarro estava mais acentuado nela naquele dia, me entorpecendo. Odiava cigarros, mas não diria aquilo para ela no momento, não me sentia no direito e nem ao menos tinha tamanha intimidade com a garota. A vida era dela de qualquer forma. "Mas eu descobri uma música, é brasileira, posso te mostrar a tradução." 

"Fala português?" Perguntei um tanto curiosa e ela riu, me encarando.

"Nem um pouco, pretendo um dia, quem sabe..." Deu de ombros e eu desbloqueei meu celular, colocando no Spotify e esperando que ela procurasse a música para que escutássemos juntas. "Chama Cruel. Acho que combina com o dia de hoje. Depois vamos escutar as mais tocadas do Brasil, eles sempre tem as músicas certas para animar as pessoas."

Eu sorri em sua direção, fraco, quebrado. Mas era um sorriso. Era o máximo que eu conseguia. Pelo menos hoje.

"Eu vi!" Lauren gritou enquanto fechava a porta de seu apartamento com força depois que eu entrei. Bufei, a encarando com raiva, mas sentindo meu coração batendo rápido contra meu peito, de uma forma dolorida tão familiar. Brigávamos tanto. "Camila, você por acaso gosta dessa situação?"

"Eu deveria?" Quase gritei, mas me controlei para que não levantasse a voz com ela. Lauren sempre levava tudo aos extremos, não seria uma boa ideia gritar com ela, então me controlei. As consequências sempre eram ruins. "Lauren, Shawn é meu amigo. Somente isso. Ele sendo hetero ou não, a sexualidade dele não deveria ser uma justificativa para que você não fique brava ou com ciúmes. Eu estou comprometida COM VOCÊ! E ele sabe disso, ele não me encara de forma diferente, eu não retribuo, eu estou com você."

blood and tears.Onde histórias criam vida. Descubra agora