14. hold on

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vocês lembram que a Camila estava se afogando em sangue e lágrimas na sinopse?

Deslizei pela porta do banheiro. Tão lento que me senti em uma espécie de clipe ou filme. Minha respiração parecia travada, mas eu a escutava alta por todo o cômodo. Vai ficar tudo bem, vai ficar tudo bem, vai ficar tudo bem, vai ficar tudo bem, respire.

Um soluço ficou preso na minha garganta quando eu segurei as mexas do meu cabelo com força assim que coloquei as mãos na cabeça. Inevitavelmente, meus olhos caíram na pia onde eu só conseguia ver cartelas de comprimidos espalhadas e três lâminas sujas de sangue.

Eu chorei mais dessa vez.

Você merece isso, Camila. Você merece dor.

Eu procurei um motivo. Eu juro que procurei. Eu mandei todas as vozes se calarem. Elas não se calaram, elas não ligam para mim. Ninguém liga para mim.

E eu só quero que a dor pare.

Respirei fundo, jogando meus braços ao lado do meu corpo e tentando focar meus olhos em algo fixo.

O ambiente ao meu redor estava começando a ficar meio desfocado e eu não conseguia mais manter meus olhos fixos em alguma coisa. Eu sentia cada mínimo átomo em meu corpo, cada pequeno detalhe.

O ar que entrava em contato com os pêlos do meu braço. As lágrimas que escorriam de forma inconsciente pelas minhas bochechas. O chão frio debaixo do meu corpo. A pequena cartela de remédios vazia presa entre meus dedos, rodando e rodando pelo chão. O sangue que escorriam pelos cortes fundos que fiz em meu próprio corpo.

Eu não sou idiota, infelizmente, eu sabia o que fazer.

Eu fiz mais que isso.

Uma tosse fraca saiu pelos meus lábios quando eu limpei meu rosto sujo de lágrimas com minha mão, me sujando de sangue no processo. Ao mesmo tempo, alguém bateu na porta do banheiro.

"Camila!" A voz da minha mãe soou atrás da porta assim que eu senti meu corpo balançar quando ela bateu na madeira que eu estava escorada. "Camila, filha, abre a porta."

Eu fiquei em silêncio.

"Amor, eu sei que está aí..." Sua voz quebrou tão rápido quanto meu coração. E olha que eu havia tentado de tudo, tudo mesmo, mas eu não descobri como eu conseguiria me matar sem quebrar o coração da minha mãe no processo. "Minha garotinha, por favor."

Eu engoli em seco e foi nesse momento que um soluço fraco escapou da minha boca, o que parece que causou algo em minha mãe.

"Florzinha," Mamãe começou, com o mesmo apelido que ela usava quando eu tinha cinco anos e me machucava. "Eu estou aqui, eu te juro, você não precisa passar por isso. Me deixe entrar."

Fechei os olhos.

A porta do banheiro do meu quarto só abria por dentro.

Ela teria que chamar um chaveiro.

Era quase sete horas da noite, as lojas estavam fechando.

Ele demoraria demais para chegar.

"Mama," Minha voz quebrou, e eu senti a lágrima antes que ela começasse a descer em grupo. "A senhora acha que eu vou para o inferno?"

"Claro que não, meu amor." Minha mãe disse de forma doce. "Agora abre a porta para que a mamãe te ajude, meu bem. Por favor."

Um silêncio, mais uma vez.

"Kaki..." A voz da minha mãe soou outra vez e eu segurei meu rosto entre minhas mãos, sentindo cada centímetro da minha pele.

"Eu estou quebrada?" A perguntava veio antes que eu pudesse me calar, soando mais como uma afirmação do que um questionamento. Minha mãe ficou em silêncio dessa vez e o silêncio doeu.

blood and tears.Onde histórias criam vida. Descubra agora