11. the sun, the pain, the test

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Respirei fundo. Contando.

Um. Dois. Três.

Encarei a caixa de remédio intocada. Olhei a cartela de comprimidos. Vi o nome complicado da substância que carregava.

Bufei. Em raiva. Pura raiva. Eu estava nervosa, mas tudo que sentia no agora era raiva de toda aquela merda. De todo o sentimento. De meu corpo ser tão merda que agora eu precisava tomar remédios para ficar bem.

Peguei a maldita caixinha. Caminhei até o meu quarto e abri o guarda-roupa que ia do chão até o teto. Procurei no fundo por uma pequena caixinha que deveria ser para guardar jóias, mas tudo que eu tinha ali era brincos antigos e lâminas.

Guardei o remédio junto.

Não tomei.

Meus pés fizeram caminho até a cama e meu corpo deitou sobre ela, cansado. Respirei fundo mais uma vez, virando meu rosto no travesseiro e gritando em frustração e raiva.

Eu não queria me sentir daquele jeito.

Eu não queria ser daquele jeito.

Eu não queria que tudo aquilo tivesse acontecido.

"Eu odeio você!" Eu gritei, alto, socando a parede com força. Em meio a lágrimas que eu nem sabia quando eu comecei a derramar. "Merda!"

Abracei meus joelhos, me encolhendo na cama. Sentindo todo o meu corpo doer, mas eu não sabia exatamente de onde vinha a dor.

Eu não sabia para quem estava gritando. O por quê gritava. Quem eu odiava. Eu ou Lauren?

Meus olhos caíram na janela, aberta, a cortina se movimentando com força por causa do vento lá fora. O tempo estava horrível naquele dia, e a chuva não demoraria a cair. Não tinha sol.

Mas não tinha sol em mim a tanto tempo...

A encarei. Meus olhos carregados com aquele brilho de quem esconde lágrimas e dor. Ela me encarou. Seus olhos carregados de um vazio pronto para capturar qualquer sinal de movimento.

E ela sentia raiva.

Eu sentia raiva, e medo.

Seus dedos marcados na minha bochecha. Sua raiva marcada no meu pulso. Minha dor marcada em mim.

"Desculpa," Ela disse, um murmúrio que passou pelos seus dentes que rangem, seu maxilar travado. "Eu não devia, não queria, me desculpe."

Assenti, respirando de forma pesada ainda. A intensa briga que tivemos antes. O motivo da briga que não deveria ser um motivo. Minha mente criando vários cenários que eu a deixava e não conseguia sobreviver.

Lauren era tudo que eu precisava para viver, não era? Ela era meu refúgio, meu bem estar... Aquilo não significava nada, não é?

Ela só perdeu o controle.

Fechei os olhos, sentindo minha garganta se fechar e meu peito doer em tanta agonia que parecia um inferno.

"Talvez devêssemos terminar..." Minha voz saiu num fiapo. Era a segunda vez que eu sugeria aquilo sem realmente significar, mas sabendo no fundo o que deveria. Porém, eu sabia o que viria a seguir, assim como o que veio da primeira vez.

"Não, Camila!" Lauren disse, sua voz agora soando desesperada. "Eu sei que as coisas estão uma merda agora, mas vamos melhorar. Vamos conseguir passar por isso juntas. A gente vai ficar bem. Por favor, amor, eu amo você."

"Lauren, a gente tá se machucando com essa merda toda e... E você com esse teu ciúmes, esse teu controle, olha, desculpa... eu..." Respirei fundo, passando a mão no rosto de forma frustrada. "Não quero que ninguém se machuque."

blood and tears.Onde histórias criam vida. Descubra agora