Sra. Misteriosa

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- Então ainda não falou com ela?

- Hum? - Giovanna Grigio
continuou a trabalhar em sua mesa de desenho, marcando traços divisores no papel com uma experiência adquirida ao longo de anos.

- De quem você está falando?Seguiu-se um longo suspiro de censura. Ao ouvi-lo, Giovanna teve de se esforçar para não rir. Conhecia muito bem Ana Hikari, sua vizinha do andar de baixo, e sabia exatamente sobre quem ela estava falando.
- Da irresistível sra. Misteriosa do 8B, Gio. Ela se mudou para cá há uma semana e ainda não trocou uma palavra com ninguém! É mistério demais para mim. Seu apartamento fica bem em frente ao dela e você nem tentou dizer "olá"?
Pelo amor de Deus, mulher! Você precisa fazer alguma coisa!

- Tenho andado muito ocupada ultimamente. - Giovanna levantou a vista e arriscou olhar para Ana, que estava andando pelo estúdio com ar impaciente, fazendo os cabelos loiros balançarem com veemência.

- Mal notei a presença dela.

Ana revirou os olhos, parecendo não acreditar no que estava ouvindo.

- Não me venha com essa história, Gio. Notou a presença dela, sim.

Ana se aproximou da mesa de desenhos e inclinou-se por cima do ombro da amiga, então torceu o nariz. Nada além de algumas linhas azuis. Gostava mais quando Giovanna começava a esboçar as figuras.

- Ela ainda nem pôs o sobrenome na caixa do correio. E ninguém a vê sair do prédio durante o dia. Nem mesmo a sra. Wolinsky, e olha que ninguém escapa àquele olhar de falcão.

- Talvez ela seja uma vampira.

- Uau... - Intrigada com a idéia, Ana apertou os lábios. - Sabe que essa hipótese seria mesmo excitante?

- Excitante demais - anuiu Giovanna, voltando a se concentrar no desenho, enquanto Ana retomava sua caminhada impaciente pelo estúdio, falando sem parar.

Giovanna nunca se importara em ter companhia enquanto trabalhava. Na verdade, até gostava disso. Não era do tipo que gostava de isolamento e quietude. Talvez por esse motivo se sentisse tão feliz vivendo em Nova York, em um prédio de apartamentos cheio de vizinhos animados e, quase sempre, muito barulhentos. Aquele tipo de coisa a satisfazia não apenas em nível pessoal, mas também servia de base para seu próprio trabalho.

De todos os moradores do prédio, Ana Hikari era sua vizinha preferida. Três anos antes, quando Giovanna se mudara para o prédio, Ana era uma enérgica recém-casada que acreditava plenamente que todo mundo tinha de ser tão feliz quanto ela. E felicidade, para Ana, era sinônimo de casamento.

Depois que se tornara mãe de Charlie, um adorável bebê de oito meses, Ana passara a se empenhar ainda mais em sua campanha casamenteira. E Giovanna sabia muito bem que era a principal "vítima" da amiga.

- Nem mesmo a viu no corredor? - Ana quis saber.
- Ainda não.

Pensativa, Giovanna pegou uma caneta e apoiou-a entre os lábios rosados e polpudos. Seus olhos expressivos eram de um profundo tom de castanho, semelhante a alguns dos chocolates mais saborosos do mundo. Os suaves castanhos escurecidos, que permeavam o estonteante tom de preto das íris, sugeriam a imagem das luzes do crepúsculo sobre o mar. Seriam considerados "olhos de tigresa", não fosse o fato de viverem constantemente iluminados por um brilho de bom humor.

- Acho que a sra. Wolinsky está é perdendo a prática. Eu a vi sair do prédio durante o dia, o que elimina a "hipótese vampiresca".

- Viu mesmo? - Ana se aproximou dela no mesmo instante, com ar de interesse. - Quando? Onde? Por quê?

A vizinha - Griperti Onde histórias criam vida. Descubra agora