Terá de me beijar

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- Então vai me apresentar a ela?

- Acho que ela iria gostar de você - considerou Giovanna, observando-o por sobre a borda da taça e apreciando a sensação de leveza que a bebida lhe dera. - Você é bonita de uma maneira meio... Como posso dizer... Meio selvagem, acho. Além disso, toca um instrumento musical, o que apelaria para o lado de Isabella que é sensível às artes. E é auto-suficiente demais para tratá-la como alguém da realeza. Muitas pessoas fazem isso.

- É mesmo? - Manoela se surpreendeu. - Ela é tão linda que eles não conseguem deixar de agir assim. Isabella detesta esse tipo de atitude, por isso acaba sempre tendo de dispensá-los. Provavelmente terminaria arrasando seu coração - completou Giovanna, fazendo um gesto com o copo. - Mas a experiência seria boa para você.

- Não tenho coração - declarou ela, quando o garçom chegou com a sobremesa. - Pensei que já houvesse deduzido isso.

- Claro que tem. - Com um suspiro de rendição, Giovanna pegou o garfo e provou a primeira porção do doce, com um gemido de prazer. - Só que você o mantém guardado dentro de uma armadura, para que ninguém possa feri-la novamente - finalizou ela. - Deus, não é maravilhoso? Não deixe que eu coma mais do que esse outro pedaço, está bem?

Manoela continuou a observá-la, aturdida com a precisão com que Giovanna tão casualmente a descrevera, sendo que nem mesmo aqueles que diziam amá-la haviam chegado tão perto.

- Por que disse isso?

- Isso o quê? Eu não lhe disse para não me deixar comer mais disso? Está querendo me matar?

- Esqueça. - Decidindo deixar o assunto de lado, Manoela afastou o prato do alcance dela. - O restante é meu - disse e começou a comer.

Felizmente, teve de ameaçar dar uma garfada na mão de Giovanna apenas uma vez.

- Nem sei como agradecer por você haver me livrado de ter de sair com Johnny - disse Giovanna, quando os dois voltavam para casa.

- Por que simplesmente não diz a toda essa gente que não está interessada em ter um namorado? - perguntou Manoela, intrigada. Ela suspirou.

- O problema é que não tenho coragem de magoar ninguém, e acabaria fazendo isso ao dizer a verdade. Eles só querem o meu bem.

- Mas estão controlando sua vida, Giovanna, mesmo que com a melhor das intenções.

- Oh, eu não sei o que fazer! - Ela exalou outro suspiro. - Veja meu avô, por exemplo. Bem, na verdade ele não é meu avô no sentido estrito da palavra. Ele é sogro de Shelby, irmã de meu pai. Pelo lado da minha mãe, ela é prima das esposas de dois netos dele. É meio complicado, mas tentarei resumir ao máximo.

- Será que terei mesmo o privilégio de presenciar esse milagre? - Manoela arqueou uma sobrancelha.

- Pare de me provocar - ralhou Giovanna, sem conter o riso. - Bem, a ligação familiar entre Pedro, Anna Santos e meus pais é mesmo complicada, então para que me esforçar em simplificar? Minha tia Shelby se casou com o filho deles, Alan Santos, você já deve ter ouvido falar nele, da época em que morava na Casa Branca.

- O nome não me parece estranho.

- E minha mãe, é prima dos irmãos Justin e Diana Blade, que se casaram, respectivamente, com outros dois netos de Pedro e Anna Santos, Serena e Caine Santos. Por isso, Pedro e Anna são considerados como meus avós, entendeu?

- Acho que sim, mas já esqueci o motivo que nos levou a falar sobre isso.

- Oh, eu também. - Giovanna começou a rir, tendo de se apoiar nela para não perder o equilíbrio. - Acho que tomei vinho demais. Deixe-me ver... Sim, já lembrei. Casamenteiros. Estávamos falando de pessoas casamenteiras, o que meu avô, que por acaso é Pedro Santos, mostra ser em todos os sentidos. Quando o assunto é arranjar casamentos, é ele quem dita as regras. O homem é uma verdadeira raposa, Aliperti. Você nem imagina... - Giovanna parou um instante e começou a contar nos dedos. - Hum... Até agora, acho que sete dos meus primos se casaram com pretendentes arranjados por ele.

- O que você quer dizer com "arranjados"?

- Não me pergunte como, mas ele meio que escolhe a pessoa certa para os netos e depois dá um jeito de uni-los de alguma maneira, deixando a natureza seguir seu curso. Então, antes que você se dê conta, já está a caminho do altar. No último telefonema, ele me contou que meu primo, lan, e a esposa dele, que se casaram no último outono, já estão esperando o primeiro filho. Meu avô está nas nuvens.

- E alguém já mandou ele parar de se meter na vida dos netos?

- Ah, constantemente - respondeu Giovanna, lembrando-se das reprimendas da avó. - Mas ele não dá atenção. Tenho a impressão de que a próxima "vítima" será Claudia ou Mel, enquanto ele ainda estiver disposto a dar algum tempo de paz a meu irmão, Harry.

- E quanto a você?

- Ah, sou esperta demais para ele. Conheço todos seus truques e não pretendo me apaixonar tão cedo. E você, já esteve lá?

- Lá onde?

- Na terra dos apaixonados, Aliperti. Não seja tão lenta.

- Ora, não é um lugar, é uma situação. E não, acho que realmente não estive lá.

- Mas acabará indo - falou Giovanna, com ar sonhador.

- Eventualmente... - Ela ia dizer mais alguma coisa, mas parou de repente. - Essa não! Aquele é o carro de Johnny. Pelo visto, ele acabou vindo mesmo de Nova Jersey. Droga, droga, droga! Muito bem, lá vamos nós novamente com o plano. - Dizendo isso, virou-se para Manoela, mas teve de se apoiar nela ao sentir uma onda de tontura. - Eu não deveria ter tomado aquela última taça de vinho, mas acho que ainda sou dona do meu destino.

- Pode apostar que sim, menina.

Giovanna fez uma careta de desagrado.

- O suficiente para saber que o fato de você me chamar de "menina" demonstra que está sendo arrogante e querendo parecer superior a mim, mas isso não vem ao caso. Teremos apenas de andar mais um pouco de mãos dadas, até passarmos pela janela da casa dela. Com muita naturalidade, está bem?

- Não vai ser fácil, mas verei o que posso fazer.

- Adoro essa sua veia sarcástica. Muito bem, estamos prontos e preparados. Agora vamos ficar só mais um pouco aqui porque ela está olhando - acrescentou Giovanna, arriscando um olhar na direção da janela da casa da sra. Wolinsky. - A qualquer momento a cortina vai se fechar. Tenho certeza.

O fato de a situação não oferecer nenhum risco, e de ela estar começando a se divertir com tudo aquilo, manteve Manoela no lugar. Segundos depois, olhou disfarçadamente para trás, tentando notar se a mulher continuava à janela.

- Parece que ela não vai desistir assim tão fácil. O que faremos agora?

Giovanna moveu os olhos com rapidez, como que tentando pensar em algo.

- Terá de me beijar.

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Como estamos?

Mais um cap fofo, agradeçam a minha @ por isso

A vizinha - Griperti Onde histórias criam vida. Descubra agora