-Acorde neófito, já é noite - Alguém disse com um tom grave.

Ed abriu lentamente os olhos, sentia-se exausto, como se tivesse corrido quilômetros, além da fome que lhe doía o estômago e a cabeça, olhou em volta e percebeu que estava em uma casa simples de pedras e sem janelas aparentes, estava deitado sobre uma cama simples e dura, ao olhar em volta percebeu de onde vinha aquela voz, um homem com seus 30 anos, de cabeça raspada, vestia uma camiseta branca, que ficava apertada em seus braços e peito músculosos, vestia uma calça larga de algodão cru, estava em pé de braços cruzados ao lado de sua cama. Ao tentar levantar-se percebeu que seus braços e pernas estavam presos por grossas correntes ao chão, ao olhar para si notou que sua blusa estava em frangalhos e cheia de sangue seco.

- O que está acontecendo? Por que estou preso? - Disse em desespero.

Nesse momento lembrou-se de ter sido atacado por alguém, do prazer e da dor que sentira, após isso tudo vinha em flashs. Uma mulher gritando, ele correndo pelas ruas. Sangue e fome, uma fome que não poderia ser descrita como algo humano. Sua cabeça começou a latejar como se várias pessoas o batessem com barras de ferro, ele urrou em dor.

- Foi você! Desgraçado! - Gritou pela raiva e pela dor que sentia, debatia-se tentando libertar-se das correntes.

- Então você não viu o rosto de quem lhe atacou, isso está mais complicado do que parece. - Disse o homem olhando em seu rosto ignorando os gritos - Acalme-se senão acabará se machucando mais, essas correntes estão afundadas quase um metro no solo, e são feitas de ferro e aço impossíveis de serem quebradas por alguém como você.

Edmundo continuou a se debater, puxando cada vez com mais força as correntes, sentia os pulsos e calcanhares arderem pelo atrito com o metal.

- O que aconteceu comigo? Exijo resposta desgraçado! - gritava a plenos pulmões para aquele homem que o mantinha preso.

- Olha bem como fala comigo seu merda! - Disse o homen já socando-lhe a face.

Nesse momento sentiu a corrente de seu braço direito quebrando, e revidou o soco que jogou o homem do outro lado da casa semi acordado, libertou seu outro braço e pernas e correu em direção a porta, com as algemas e coerentes restantes sacudindo em seu encalço.

Quando chegava a porta algo lhe puxou pelo o que restava de sua camisa o jogando pra trás, fazendo bater com as costas na parede. O homem estava a sua frente com um corte em sua testa que escorria sangue, já se preparava para outro soco quando uma voz fez-se ouvir.

- Chega! Parem os dois, já! Admiro você Alexandre perdendo a cabeça dessa forma. - Disse uma mulher, que aparentava seus 40 anos, mas com cabelos ainda pretos e cortados na altura das orelhas, ela tinha um sotaque que Edmundo não reconhecia, que apareceu subitamente pela porta.

A raiva que antes tomava Edmundo foi sumindo trocado por uma calma, ele foi relaxando sentindo todos os seus problemas indo embora, era como se estivesse indo dormir. Ao olhar para o lado percebeu que o outro homem mal conseguia se manter de pé, e apoiava na parede, seus olhos foram fechando com um sono que ele jamais sentiu. " Afinal qual o problema de dormir um pouco se está tudo bem?" Pensou enquanto se deitava no chão e dormia.

Edmundo antes de abrir os olhos já estava consciente, estava deitado sobre pedras, seu corpo inteiro estava exausto, abriu os olhos e viu o céu estrelado, quase sem nuvens, a lua brilhava cheia, o silêncio era absoluto normal das noites, agora o assombrava. Onde estava? Como foi parar ali?

Levantou-se, seu corpo inteiro doía como se tivesse sido pisoteado por uma multidão. Quando avistou alguém ou algo passando rapidamente ao seu lado.

-Quem está aí e que brincadeira é essa? - Edmundo gritou a plenos pulmões.

A raiva e o medo já tomavam conta dele, o suspense e sensação de que algo de muito ruim estava pra acontecer pairava sobre ele, mas algo lhe dizia que o pior já havia acontecido.

Algo novamente passou rapidamente no canto de sua visão, algo mais rápido que qualquer ser humano poderia ser. Começou a correr, apenas pelo terror de toda essa situação, corria sem rumo apenas para fugir do que quer fosse que estivesse atrás dele. Não queria morrer, pelo menos não agora que sua vida estava começando a andar, havia se casado com a mulher que amava, tinha um bom emprego e bons amigos, isso não poderia acontecer com ele, as lágrimas já escorriam em seu rosto quentes e com gosto de sangue...

Parou de correr levou a mão a face, não sentia dor alguma, como poderia haver sangue em seu rosto, tudo clareou ele percebeu que havia corrido quilômetros mas não havia saído do lugar, seu coração deveria estar acelerado, mas mal o sentia no peito, sua mão voltou com marcar de sangue, olhou para o lado onde tinha uma vitrine que o refletia. Seus olhos escorriam sangue ao invés de lágrimas, e atrás dele uma sombra gigantesca.

Edmundo levantou-se de sua cama ofegante, estava deitado em uma cama simples, vestia roupas novas e limpas, a fome o preenchia como se ele não comesse a meses. Estava em um quarto sem janelas com uma porta de madeira uma mesa e uma cadeira.

Levantou-se rapidamente da cama, não sabia aonde estava, lembrava-se vagamente do que havia acontecido, mas toda vez que tentava lembrar uma dor de cabeça forte o afligia, lembrava-se apenas de acordar acorrentado e ter brigado com um homem até uma mulher estranha chegar depois somente aquele estranho sonho.

Caminhou até a porta e abriu, diferente do que esperava, um cheiro doce e saboroso caiu sobre ele, seu corpo respondeu de imediato seguindo o cheiro, o estômago doía de tamanha a fome, qualquer um que o tentasse parar agora ele iria passar por cima. O corredor era fracamente iluminado por velas as paredes eram feitas de pedra parecia que as passagens foram entalhadas ali, mas com tamanha precisão levaria anos para se construir aquele lugar, além de tudo era gigantesco alguém facilmente poderia se perder alí, apesar disso Edmundo só seguia o doce cheiro. O cheiro vinha de uma porta no final de um dos milhares de corredores.

Abriu a porta rapidamente guiado apenas pela fome, o cheiro do lugar foi a primeira coisa a notar, aquele cheiro doce o recebeu como um soco em suas narinas, esperava encontrar um banquete gigantesco, mas o que viu a sua frente, apesar da repulsa, fez sua fome aumentar ao ponto de perder o controle, somente razão o deixava lúcido e olhando para aquela cena grotesca.

Pessoas penduradas de cabeça para baixo com seus pescoços degolados, algumas sem cabeça, com seu sangue escorrendo para dentro de barris como se fossem vinho que a qualquer momento poderia ser consumido. Tamanho choque e repulsa é fome foram demais para ele, apesar de ter aquentado se negando a acreditar no que via, algo dentro dele tomou o controle, sentiu algo espetar-lhe o lábio e o gosto do próprio sangue foi a gota que faltava para sua lucidez se esvair por completo e ele se banhar em sangue e prazer.

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