Sempre fui muito animada para fazer as malas, arrumava minhas coisas duas semanas antes da viajem de tão ansiosa que ficava.
Porém com esse turbilhão de acontecimentos deixei para arrumar só hoje, dois dias antes da viajem pro Brasil.
Sendo sincera, eu queria muito ir pro Brasil, ver minha família e fingir que nada aconteceu. Falando assim nem parece que foi muito difícil eu decidir viajar, fiquei muito mal comigo mesma por ter comprado as passagens e deixar Carley aqui, ainda em coma. Tive que conversar com os médicos dela que disseram que ela está estável e minha ausência não a faria piorar, se é que isso é possível.
Também fui à um psicólogo, na real isso fez toda a diferença. Meu terapeuta me ajudou bastante, fiz uma semana de terapia e isso só me mostrou que preciso de mais, tirei o peso da culpa das minhas costas e entendi que eu não sou uma má pessoa por querer aproveitar minha vida enquanto posso.
- Frédéric, vou ficar só um mês lá! - estou sentada na areia com Lis e Frédéric e meu amigo insiste em dizer que um mês é muito tempo.
- Deixa a Alice ir, ela precisa relaxar um pouco, visitar a família e conhecer novas pessoas! - Lis argumenta fazendo o namorado revirar os olhos - Dizem que os brasileiros são... ótimos na cama!
Frédéric a fuzila com o olhar e ela o puxa para um beijo fofo.
- Mas, é sério, Alice! Aproveita bastante seu tempinho no Brasil, viu?! - Lis pisca pra mim rindo.
- GENTE! Eu só vou visitar minha família nada de sexo! - A interrompo com o rosto vermelho.
Eles começam a gargalhar, Fréderic está um pouco incomodado com o assunto, porém tira sarro do mesmo jeito.
-Sentirei saudades, mas logo logo vou estar aqui para encher suas cabeças. - rimos.
-Vamos logo para a água? - Lis pergunta já tirando o vestido florido e Frédéric fica a admirando, eles são o casal mais perfeito, dá até vontade de viver algo assim.
Estamos fechando toda a casa. Mamãe termina de colocar as malas no táxi e papai nos ajuda a carregar as coisas.
Essa semana foi bem corriqueira e cheia de decisões importantes. Depois que tive minha primeira sessão de terapia pude esfriar a cabeça e fiz as pazes com minha mãe, tia Lara me mandou mensagens todos os dias e ela me ajudou a entender tudo o que eu estava passando, ela foi uma grande amiga nesses dias.
-Vamos? -Papai me chama encostado na porta do táxi.
Dou uma última olhada para a praia, para os coqueiros enormes e para as pousadas na orla da praia. Tchau lar, tchau Califórnia!
Antes de irmos eu passei na casa da Carley para me despedir, deixei a play list com o som do mar e músicas que gostávamos de ouvir juntas, o que foi bem difícil, pois Carley tinha um péssimo gosto musical.
O aeroporto está lotado, muitas pessoas me reconhecem, não sei se pelo surfe ou pelas notícias ruins do último mês, tiro fotos com algumas adolescentes brasileiras e isso me deixa feliz por saber que meu país não se esqueceu de mim.
Nesse momento sinto meu coração pulsar, não estou me aguentando de tanto nervosismo.
- Filha, tô indo na lanchonete quer algo? - Papai pergunta atencioso.
- Um café. - Não é o melhor momento pra ingerir cafeína, mas quem liga?
Ele se afasta.
- Vai ficar tudo bem, filha.- Minha mãe segura minha mão com um sorriso reconfortante no rosto.
Balanço a cabeça, estou tentando me manter calma e positiva.
- Acho que vou ligar para a Julie, preciso saber que está tudo bem antes de ir. - Pego meu celular e vou para um lugar mais calmo.
Julie não me atende de primeira então ligo novamente.
- Alô. - Ela diz com a voz seca.
Respiro fundo.
- Oi, Julie, só liguei para saber como a Carley está, estou no aeroporto agora. - Tento parecer calma mesmo com as mãos suando e a respiração pesada.
- Bom...ela continua em coma. - Sua voz é sarcástica e fria, um calafrio percorre meu corpo e por um momento penso em desistir da viagem e voltar pra minha casa. - Pode entrar no avião, se acontecer alguma coisa eu te aviso, mas por favor vai logo pro Brasil!
- Eu sei que você não vai muito com a minha cara, só estou preocupada com minha amiga e um pouco receosa em deixa-la.
- Não é isso, Alice, é só que você se preocupa demais com minha filha e eu sei que quando eram amigas Carley escondia coisas de você e fazia coisas desagradáveis sem se importar, então para de fingir que era uma amizade saudável. - Ela tinha razão, mas Carley precisava de ajuda e eu era a pessoa que ela sempre recorria. - Vá ver sua família, arranjar um namorado e...sei lá...só vai, entendeu?
Uma voz anuncia que nosso voo está pronto para o embarque e meus pais me chamam com as malas na mão.
- Ok, Julie, preciso ir.
Deligo a ligação e bebo de uma vez o café que papai comprou.
Encaro aquele aeroporto como a porta para uma nova fase da minha vida, começo a criar grandes expectativas para o meu tempo no Rio de Janeiro.
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Onda de Amor (repostagem)
RomanceCalifórnia, praia e fama até parece três pedidos mágicos feitos para o gênio da lâmpada, essa é a vida da jovem brasileira Alice Simas. Porém nem tudo são flores, após uma festa na praia um terrível acidente acontece e aquele lugar paradisíaco se...