Capítulo 1

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- Preciso da sua ajuda!

Ela diz.

Tudo passa na minha cabeça, dinheiro para a mãe, absorvente reserva, leva-la para um hospital...

Mas o que vem a seguir é tudo o que eu nunca iria adivinhar. Carley não se mete mais em confusão desde que tudo aconteceu.

- Entra aí e me explica com calma. - Ela entra com os ombros caídos e o rosto vermelho.

Ela se senta no sofá um pouco inquieta e com as mãos trêmulas.

Carley é uma garota nada tranquila, além de seu jeito serelepe e alegre, sua vida é muito agitada. Porém, hoje ela se encontra sem aquele sorriso confiante e sem o falatório costumeiro.

- Carley, eu não vou falar mais não viu. Você sabe que se você precisar, ou sua mãe, eu empresto a quantia que for de...

- Eu estou grávida.

Silêncio.

Fico sem palavras. Como parabenizar se está nítido de que Carley não está feliz com a notícia? Então o que eu falo?

Então eu decido não falar nada. Me sento ao lado da minha amiga e a envolvo em um abraço.

Carley ainda está em silêncio. Sinto uma lágrima dela cair na minha mão e a abraço mais forte.

- Sabe que pode contar comigo, né? Idepedente de quem é o pai e do que  vai acontecer, esse bebê será o mais feliz.-Sorrio.

Carley se livra dos meus braços e mal consegue me olhar nos olhos.

- Não, Alice - sua voz sai rouca - , eu não  quero esse bebê. O Bruno não quer...

                                     💦

três anos atrás...

- Uhulll! - Carley rodopeia pela praia com uma garrafa de bebida.

A música está alta e vem da caixa de som de uma camionete.

- Alicee!! - Ela vem em minha direção sem muito equilíbrio nas pernas. - Você está atrasada!

- Carley, você está bem?

Todos na praia estão como Carley, enchendo a cara de bebida.

- Você veio de sereia, sua copiona! - Ela ri alto e balança meu ombro, suas mãos estão trêmulas.

- Mas é lógico, somos surfistas, o que mais eu seria?

As pessoas aqui adoram planejar festas à fantasia, claro que à moda praia.

- Estrela do mar, bob esponja...- Ela ri.

Antes mesmo de me pronunciar Bruno chega na conversa, instantaneamente fecho a cara e seguro o braço de Carley numa maneira de protege-la.

- Alice Simas...it's a pleasure to see you here! - Seu olhar mostra o contrário e aposto que o meu também.

*Alice Simas...é um prazer te ver aqui.

Bruno negava sua origem brasileira, os pais eram da Califórnia e por isso ele também se considerava americano.

Ele era uma péssima influência para Carley, por mais que eu a alertasse de que Bruno era uma pessoa ruim ela não me dava ouvidos.

- Bruno! - Carley se enrosca em seu pescoço.

- Vamos, amor, temos que encontrar o pessoal.

Ele a afasta de mim e os dois andam até  um grupo de pessoas.

Já estava cansada da maneira como ele a controlava, a deixava mal e depois ia embora. E restava para mim catar o cacos de Carley e a recompor.

A festa estava cheia de gente, me permiti dançar com algumas, porém algo estava me incomodando à ponto de me impedir de aproveitar realmente aquela festa.

O mar estava calmo, as ondas estavam baixas. Tudo que eu precisava.

- Pra quê serve uma fantasia de sereia se não à usar para nadar?

Corri pela areia até meus pés encontrarem a água gelada.

Antes de entrar olho para trás e vejo Carley e Bruno colocando coisas na boca, drogas provavelmente.

Me questiono se devo ir lá e puxar Carley e a impedir, mas ela não é uma criança e o que garante que depois ela não volte?

Mergulho na água salgada, os pensamentos se dissipam e tudo se resolve num passo de mágica.

As ondas realmente estão calmas e elas me transmitem isso, elas passam por mim e me sinto mais leve.

Não quero olhar para minha amiga e ver seu estado, talvez eu devesse me sentir culpada por não estar lá a ajudando, porém eu não sinto nada. Estou exausta de toda essa situação, cansada de Carley não estar nem aí para o que eu digo e cansada de Bruno sempre a controlar.

A festa continua com todo seu vigor durante um bom tempo. Até que um silêncio se instala de repente.

- Socorro!! Alguém chama uma ambulância!

Ouço alguém gritando e corro em direção à praia sem saber o que está acontecendo.

Procuro Carley entre as pessoas e não a acho.

- Ei, o que aconteceu? - Ninguém me responde de momento.

Uma menina corre em minha direção.

- Alice, você é amiga da Carley não é? - Assinto. - Ela desmaiou, vem comigo.

A garota me guia até uma parte escura da praia e lá está um monte de pessoas em volta da Carley a qual se encontra desmaiada com os lábios e ponta dos dedos um pouco azuladas.

- Ja chamamos uma ambulância. O pessoal que tava com ela teve que ir embora, você sabe né, se a polícia ver que eles que venderam vai dar ruim.

Os paramédicos vem em nossa direção mandando todos se afastarem. Colocam  ela em uma maca e a enfiam dentro da ambulância.

Eu estou atônita, não sei o que fazer. Eu devia pedir pra ir com eles? Sim eu devia!

- Ei, I will go with you. I'm a friend of Carley. - Minha voz sai rouca.

*Ei, eu vou com vocês. Sou amiga da Carley.

- Ok, get in and don't get in the way!

*ok, entre e não atrapalhe!

Quando chegamos no hospital Carley foi levada para a Emergência e eu tive que esperar para vê-la. Fiquei encarando os recados e posters colados na parede.

Duas horas depois os médicos vieram falar comigo, perguntaram sobre os pais de Carley, eu não sabia se devia avisar a mãe dela, então disse:

- Eu não os conheço.

Os médicos disseram que ela estava bem, tiveram que fazer uma lavagem gástrica intestinal e ingetar medicamentos para controlar os sintomas da overdose.

Depois disso tudo, quando Carley teve alta e se recuperou, ela decidiu não contar nada para a mãe, pagou a conta do hospital com seu dinheiro e prometemos não contar nada aos patrocinadores dela.

Ela inventou para eles e para a mídia que estava em um retiro com a família, enquanto na verdade ela foi se isolar em uma fazenda, sozinha.

Bruno nunca mais a procurou e mais uma vez deixou os cacos para mim.

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