Frágil

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   O conseito de fragilidade é ambíguo, podemos vê-lo como algo material, como uma singela flor do campo, regada ao orvalho matinal. Esse pequeno pedaço da natureza pode ser visto como frágil pelo simples fato de que, com o forte balançar do vento, sua vida pode ser extinta.

Mas temos também, a fragilidade mental ou até mesmo espiritual, como alguns podem dizer. Que reflete claramente o que ocorreu comigo noite passada. E por experiência própria, considero essa muito pior e mais constrangedora que a anterior.

  O cheiro de mofo do cômodo esquecido pelo tempo sobe às minhas narinas, provocando a irritação necessária para me fazer acordar. No instante em que agrupo meus pensamentos de forma ordenada, recordo o que aconteceu.

  A vergonha me corrói, não esperava explodir daquela maneira, mas o que mais me atormenta é que toda a minha humilhação foi presenciada por Cas. E a melhor das impressões que poderia ter de mim após o acontecido é a que temos de alguém fraco ou doente. Não queria que ele pensasse isso de mim.

  Meu olhar vaga pelo sótão, agora iluminado por um singelo filete de luz proveniente da pequena janela próxima ao teto. Estou sozinho, o que de certa forma é bom. Não aguentaria olha-lo sem antes ter uma boa explicação para meu surto. O único problema é que não a tenho. Não sei o motivo da minha explosão sentimental, e mesmo se soubesse, a verdade parece humilhante.

  Ouço passos rápidos subirem as escadas e logo Samy abre a porta, me olhando com preocupação. Ele se aproxima com receio e se senta a meu lado, deixando sua cabeça repousar em meu ombro.

  - Você está bem? - ele pergunta. Ouvir aquelas palavras de meu irmão mais novo soa estranho, considerando que era eu quem sempre o consolara.

  Não o respondi e mesmo se quisesse fazê-lo, não sabia o que dizer. Sendo franco comigo mesmo, não poderia considerar que de fato estava bem, mas assumir isso para meu irmãozinho é algo desconfortável.

  - Você sabe onde o Castiel está? - me afasto levemente dele, mudando de assunto. Sem graça por conta da minha reação, ele fita as próprias mãos enquanto responde.

  - Está lá fora, no meio dos carros velhos - um tênue sorriso aparece em seus lábios e ele se vira para me olhar nos olhos - Você não acha ele meio estranho?

  O encaro, franzino as sobrancelhas com raiva e ele rapidamente muda sua postura. Se explicando sem jeito.

  - Eu só quero dizer que ele age de forma estranha, não sabe usar a televisão e fica encarando o nada por várias horas, mas é um cara legal. Vocês são muito amigos, não é?

  A pergunta me deixa surpreso e novamente não sei o que responder. Castiel e eu somos amigos, mas nosso relacionamento não se resume apenas a isso.

  Não que eu estivesse preparado para contar algo para Sam. Mesmo que ele já esteja com seus catorze anos, não consigo ver uma maneira fácil de fazê-lo entender minha relação com outro garoto. 

  - Sim, somos muito amigos - respondo com um suspiro pesado, me levantando. Aquela inofensiva conversa foi desgastante e não via a hora de sair dali.

  Sem esperar que ele continue, pego minha toalha e desço as escadas correndo e me trancando no banheiro.

  Estendi o banho máximo que consegui, esperando que ninguém mais perguntasse se estava bem ou qualquer outra coisa sobre meu estado físico ou psicológico.

Terminando, coloquei a toalha em torno da cintura, correndo novamente para o sótão, onde acabei de me arrumar.

  Tentei evitar meu encontro com Cas, mas era algo impossível. Moramos na mesma casa e querendo ou não uma hora ou outra acabaria esbarrando com ele.

Destiel - Do outro lado da linha Onde histórias criam vida. Descubra agora