Capítulo Dois

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Não sei bem o que aconteceu quando o garoto virou o rosto para frente, continuando seu caminho. Tinha vontade de correr até o mesmo e perguntar o que diabos ele estava fazendo fora da minha cabeça. Aquilo não podia ser real ou apenas eu não queria acreditar que fosse. Talvez eu apenas estivesse imaginando coisas depois de tanto pensar sobre aquilo, porque para mim aquilo era impossível.

Acordei dos meus devaneios quando uma garotinha passou correndo, batendo seu pequeno ombro em minha coxa. Olhei ao redor, vendo que todos continuavam suas vidas normalmente e que apenas eu havia parado o mundo por um tempo. Suspirando, voltei a andar pela calçada segurando as alças da minha mochila. Tentei parar de pensar, porque tinha certeza se eu chegasse no escritório onde Jin trabalhava, o maior saberia que tinha algo errado.

Ao chegar no hall do prédio, Jin sorriu para mim da recepção, fazendo um sinal para que eu me aproximasse. Coloquei os braços no balcão de mármore gelado, mexendo em um dos papéis de anúncios que havia por ali.

-Você parece cansado. -comentou o mesmo enquanto seus dedos moviam rápidos no computador- Você deveria vir com o Jimin.

-Ele tem treino hoje. -dei de ombros levemente- E faz bem caminhar.

-Deveria arrumar um emprego perto da escola. -Jin virou o rosto para me olhar- Ouvi que a cafeteria está contratando pessoas.

-Não acha que o emprego vai atrapalhar meus estudos, hyung?

-Você está cansado? -neguei com a cabeça- Então consegue dar conta disso.

-Não sei, hyung. -disse olhando para os panfletos, meio incerto.

-Se você nunca tentar, não vai ter certeza de nada. Qualquer coisa, se não estiver conseguindo, você sai pede demissão. Estarei ao seu lado para qualquer, sabe disso.

Apenas concordei com a cabeça brevemente, deixando um longo suspiro escapar dos meus lábios. Como sempre, me afastei do balcão e sentei em uma das cadeiras que ficava no hall para que as pessoas esperassem. Jin tinha razão. Eu deveria fazer algo agora se quisesse algo na vida, mas a insegurança era algo sempre presente no meu dia-a-dia​, mesmo querendo me aventurar e experimentar coisas novas a todo momento. Comecei a pensar sobre isso quando coloquei os fones de ouvidos, esperando o meu irmão largar para que finalmente pudéssemos ir para casa.

(•••)

Assim que entramos no carro e coloquei o cinto, senti uma enorme vontade de compartilhar o que estava acontecendo comigo para o meu irmão. Ele seria o único que me entenderia, ou não​. Confiava nele como uma criança confia em sua mãe. No meu caso, eu confio mais no Jin no que em qualquer outra pessoa.

-Se eu te contar algo, promete não me achar louco? -perguntei quando o maior começou a dirigir.

-Falando assim, fiquei até com medo. -respondeu dando uma risada nasal- O que houve?

Contei para ele tudo o que aconteceu, não deixando passar qualquer detalhe. Jin me ouvia com atenção mesmo que estivesse concentrado na pista em nossa frente. Enquanto as palavras saiam de minha boca, sentia como se estivesse descarregando três toneladas das minhas costas. Ainda não entendia como apenas alguns sonhos com um garoto qualquer me deixava tão incomodado.

-Você está louco.

-Eu sei. -disse com um suspiro- Você já viu isso acontecer outras vezes?

-É impossível alguém sair do sonho. Provavelmente você já viu esse garoto em algum outro lugar e sua mente se recorda dele.

-Não, hyung. Acredite em mim, se eu tivesse visto ele antes, com certeza lembraria.

-Lembraria, huh? -o mesmo parou de dirigir por conta do sinal vermelho- Você está preocupado em me contar por estar sonhando com um garoto, Jungkook?

-E-eu... Não! Eu estava preocupado, porque tudo isso parece impossível. -expliquei rapidamente- Não pode ser possível.

-Então você não quer que seja real. -ele agora me olhava com atenção- Por que?

-Porque eu acredito que uma pessoa só exista na sua vida por uma razão e, definitivamente, ele não faz parte da minha. -expliquei observando o semáforo ficar verde- Não quero que faça parte da minha vida.

-Você tem um pensamento interessante. -Jin voltou a dirigir- Se você quiser, podemos marcar um psicólogo para você e assim resolver isso.

-Não precisa, hyung. Tenho certeza que esse sonho estranho vai passar e tudo vai voltar ao normal.

Ao dizer essas palavras, não sabia se estava tentando convencer o mesmo irmão ou me convencer. Acho que eu só queria que tudo isso terminasse, que esse garoto parasse de invadir a minha mente.

(•••)

O jantar em família era sempre estranho. Meu pai não dizia nada, Jin tentava puxar assunto perguntando como havia sido o dia de todos e eu respondia tranquilamente. Minha mãe forçava um sorriso a cada uma de nossas respostas. Era cansativo manter a família em pé e feliz, eu já não aguentava mais tudo isso.

Fiquei feliz por ter terminado rápido, então pude correr até meu quarto, sentando na cadeira da escrivaninha. O meu celular vibrou, chamando minha atenção. Já sabia que era o Jimin, porque ninguém além dele me mandava mensagens.

Jimin: Não esqueça da festa de amanhã.

Eu: Ainda vou arrumar uma maneira de fugir dessa festa.

Jimin: Nem pense nisso. Você vai nem que eu tenha que puxar seus cabelos.

Eu: Você ainda vai me pegar por isso.

Jimin: Você vai me agradecer depois, isso sim.

Eu: Vai dormir, Jimin.

Jimin: Vou dormir sim, mas não porque você mandou.

Eu: Tenha bons sonhos.

Bloqueei o celular, colocando novamente na escrivaninha e respirando fundo. Jamais, na minha vida, iria em uma festa do Min Yoongi. Ele não gostava de mim e eu não sabia o motivo até hoje. Talvez eu nunca vá saber, mas continuei achando estranho chamar o Jimin para sua festa. Iria descobrir isso cedo ou tarde, então resolvi me deitar.

Não queria dormir por medo de sonhar novamente com o garoto e ser ainda mais estranho. Queria me afastar dessa confusão, não tê-lo em minha mente, mas sabia que acabaria dormindo de qualquer jeito. Estava cansado pelo dia que tive e pelo o que teria que fazer amanhã. Não demorou muito até que meus olhos começaram a pesar, fazendo que eu caísse no sono rapidamente.

Estava novamente naquele lugar cheio de desenhos feitos por tinta spray preta. Dessa vez não estava assustado, minha respiração estava tranquila enquanto eu andava pelo ladrilho branco. Para mim, os desenhos não faziam o menor sentido. Era letras misturadas com desenhos pequenos. Consegui identificar algumas coisas, mas desisti depois de um curto tempo.

Me virei rapidamente ao ouvir passos de alguém correndo. O barulho ecoava por toda sala, me fazendo girar a cabeça várias vezes tentando adivinhar de onde vinha. O garoto logo apareceu, parando em minha frente com a respiração ofegante. Dei um passo para trás com a aproximação, tentando decifrar o que havia acontecido.

-Você está bem? -perguntei nem mesmo sabendo porque estava me preocupando.

-Eles vão me pegar. -o mais velho respondeu, ainda tentando se acalmar.

-Quem vai pegar você? -perguntei, confuso- O que está acontecendo?

-Você precisa me salvar, Jungkook.

Just A Case • TaekookOnde histórias criam vida. Descubra agora