Capítulo Vinte e Dois

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Subimos todos os andares do prédio até chegar em uma área que só podíamos ter acesso por uma escada de, mais ou menos, doze degraus. Taehyung não soltou minha mão, apenas apertava ou fazia carinho durante o caminho. Sentia a palma da sua mão suar e até mesmo tremer. Sabia que o mais velho estava nervoso. Quero mesmo passar tranquilidade para ele, porque aquele momento era único. Taehyung agora confiava em mim para contar a verdade e eu poderia ficar em paz com meus pensamentos, mas gostaria que fosse confortável para ele também.

Ao abrir a porta de metal, o telhado do prédio foi revelado. Era um local meio velho, com canos enferrujados e caixas de papelão espalhadas pelo chão. O vento era bem mais forte aqui em cima, fazendo nossos cabelos voarem a todo segundo. Taehyung me puxou, nos fazendo ficar próximos da beirada. O barulho de alguns carros que ainda passavam nas ruas se fez presente e me arrisquei a olhar para baixo. Era bem alto, mas de alguma maneira era reconfortante.

-Jungkook, antes de tudo, me prometa que não vai se afastar de mim. -a voz do mais velho sussurrou parecendo insegura- Você é o único que não me julga, a única coisa boa que me aconteceu na vida. Eu não quero acabar com isso, mas não quero ter que esconder essa parte de mim.

-Eu prometo, Tae. -afirmei enquanto juntava nossas duas mãos- Eu não vou me afastar de você por causa da verdade. Quero te conhecer por completo.

Taehyung assentiu, dando um longo suspiro antes de aproximar nossos rosto e selar nossos lábios suavemente. Parecia ter medo de se entregar completamente naquele beijo, pois afastou-se tão rápido que me assustou.

-Meus pais morreram em um acidente de carro quando eu ainda era jovem, então meu tio ficou encarregado de cuidar da minha irmã e eu. Ele sempre bebia, todas as noites, para tentar esquecer a morte do irmão. Na maioria das vezes gritava comigo por lembrar muito o meu pai, então eu suportei isso todas as noites, tentando fazer minha irmã parar de chorar depois de ouvir os gritos. Temos dois anos de diferença, mas ela parecia tão indefesa naquela época e eu jurei para minha mãe que iria protegê-la até o último dia da minha vida. -explicou de forma calma, observando o céu estrelado sem soltar minha mão.

Tentava absorver todas as informações, sem deixar escapar detalhes. Precisava ter uma mente muito aberta para essa situação, mas meus olhos já ardiam por conta das lágrimas ao ver a dor em sua expressão.

-O tempo se passou muito rápido, tive poucos amigos quando era criança e menos ainda quando me tornei adolescente. Minha irmã sempre foi mais social e teve a sorte de fazer muitos amigos ao longo da vida, mas não conheci nenhum deles. Mudamos muito, mas nosso tio continuou o mesmo. Acho que ele aprendeu a lidar com a dor de uma maneira, pois já não gritava mais comigo. Minha irmã ficava a maior parte do tempo em casa, cuidando dele, porque eu arrumei um trabalho. Eles passaram a brigar muito, mesmo com nosso tio sóbrio. Até hoje eu não entendo muito bem esse motivo das brigas e acho que já meio tarde para tentar entender, mas tudo aconteceu em uma noite.

O puxei mais para perto ao perceber que seus olhos brilhavam por conta das lágrimas, envolvendo sua cintura em meus braços. Minha intenção era passar conforto, confiança e proteção. Provavelmente consegui, pois o mais velho me olhou por um breve segundo com um pequeno sorriso no rosto antes de ficar sério novamente e olhar para os outros prédios.

-Tive que cobrir o turno de um dos trabalhadores na loja, então fiquei até mais tarde. Quando cheguei em casa, pude ouvir gritos vindo do meu tio e soluços da minha irmã. Me aproximei rapidamente da porta e pude ver aquele cara puxando o cabelo dela com força enquanto a mesma chorava. Eu juro, Jungkook, eu consegui pensar em mais nada além de acabar com aquilo. Estava no meu limite, cansado de lidar com toda aquela situação. -Taehyung limpou algumas lágrimas caiam como cascatas por suas bochechas- Havia uma garrafa vazia do lado de fora, então a quebrei e invadi a casa. O empurrei até a parede e então enfiei em sua barriga várias vezes ouvindo os gritos da minha irmã. E-eu não pensei em mata-lo, eu juro. Só queria proteger minha irmã e acabar com aquele inferno.

Não consegui dizer nada quando o silêncio se instalou entre nós. As lágrimas caiam por seu rosto calmamente, como se a dor que estivesse escondendo por todo esse tempo saísse naquele momento. Meus olhos ardiam, meu nariz coçava por tentar segurar o choro.

Nossos olhos se encontraram quando o mesmo virou o rosto em minha direção, então o abracei. Abracei Taehyung com toda força que tinha, envolvendo seu corpo com o meu, acariciando levemente seus cabelos enquanto o mesmo soluçava. Não aguentei, derramei as lágrimas que antes segurava. Suas mãos apertavam minhas costas com força, me puxando cada vez mais para ele. Queria mostrar a Taehyung que estava seguro naquele momento, que não havia me perdido, apenas me atraído ainda mais.

Não o culpava, nunca faria isso. Taehyung estava errado em matar alguém, isso é um fato, mas foi legítima defesa e se a polícia soubesse da verdade, a chance dele ser livre eram grandes. A esperança já crescia em meu peito quando a conversa com Jin veio em mente. A polícia pensava a mesma coisa: se ele realmente fosse inocente, não estaria fugindo. Suspirei alto, desistindo de pensar em uma solução agora. Não dava, eu só queria proteger o homem bem em minha frente.

-Taehyung. -o chamei, mas ele apenas me apertou- Tae.

O mais velho se afastou, enxugando as lágrimas com a manga do casaco vermelho quadriculado. Seu nariz estava vermelho pelo choro e os olhos ainda brilhavam pelas lágrima, mas ele me encarou com o olhar firme.

-Eu entendo você e entendo o motivo de ter feito o que fez. Não o culpo, eu teria feito qualquer coisa para salvar meu irmão também. -disse com um tom calmo, pegando suas mãos- Você tem uma chance de ser perdoado agora, Tae. Se contar a verdade, eles podem-

-Não, Jungkook. -ele negou rapidamente- Não vão entender. Querem alguém para pôr a culpa e claramente é minha. Minhas chances acabaram. Eu... eu estou pensando em me entregar para polícia.

-Não! Taehyung, você não pode fazer isso depois de passar tempos fugindo assim. Não pode assumir a culpa por alguém que te maltratou por anos. Não é justo!

O ruivo sorriu triste, levando sua destra até meu rosto e acariciou brevemente. Uma lágrima solitária caiu por sua bochecha já vermelha, indo até seu pescoço.

-A vida não é justa, Kook. Não tenho mais salvação, é a verdade. Uma hora ou outra serei pego. Esse tempo que passei fugindo serviu para que eu me acostumasse com a ideia de viver o resto da vida em uma prisão. -Taehyung explicou com dor em sua voz- Eu sinto muito não ter te contado isso antes, mas eu não conseguia.  

Balancei a cabeça negativamente, me recusando a acreditar em seus palavras. Por que saber a verdade doía tanto? Um medo incomum surgiu em meu peito, apertando de maneira lenta e dolorosa.

-Mas... Eu gosto de você, Taehyung. Isso não faz você pensar em outra opção?

-Não torne as coisas mais difíceis, por favor. Eu pensei bastante sobre isso e só me trouxe dor. Você merece alguém melhor que, alguém que não tenha sangue em mãos.

Neguei novamente com a cabeça, o puxando para mim. Segurei sua nuca, aproximando nossos lábios de maneira perigosa. O faria entender de qualquer maneira que não é o único a decidir o certo ou errado entes nós dois.

-Eu quero você, não me importo com o tempo ou com as circunstâncias. É você, sempre vai ser você.

-Jungkook...

Não o deixei falar, apenas juntei nossos lábios com rapidez e urgência. Nossas bocas se chocaram e nossas línguas se moviam em uma sincronia incrível. Buscava ter mais contato com ele, mas parecia não ser o suficiente. Suas mãos estavam meu rosto, segurando firme, me impossibilitando de afastar. Nem mesmo se eu quisesse, me afastaria. 

A falta do ar se fez presente, então afastei apenas algumas centímetros apenas para olhar em seus olhos. Suas íris esbajavam desejo, nossos corpos estavam quentes e o frio sequer fazia cócegas no momento.

-Precisamos descer. -sussurrou leve, colocando as mãos em meus ombros.

Sabia bem o que ele queria dizer com aquilo, então apenas concordei, segurando sua mão com delicadeza e o seguindo escada a baixo.

Just A Case • TaekookOnde histórias criam vida. Descubra agora