I got a bulletproof heart
You got a hollow-point smile
Me and your runaway scars
Got a photograph dream on the getaway mileBulletproof Heart - My Chemical Romance
Encarei meu reflexo no espelho do banheiro enquanto tomava coragem para fazer o que tinha de fazer. Prendi meu cabelo, que havia tingido de preto para apagar todos os erros cometidos com tintas coloridas ao longo dos anos, em um rabo-de-cavalo e respirei fundo, sem tirar os olhos da cópia da minha imagem. Essa era uma tarefa diária que eu nunca planejava, mas sempre acabava cumprindo: ficar parada na frente do espelho, procurando pela garota jovem e cheia de vida que um dia fui.
Meu rosto ainda parecia o mesmo. A pele branca e pálida, os lábios cheios e avermelhados. Minha maçã do rosto alta e o queixo levemente quadrado. O nariz estranho, porém, delicado, ainda era quase o mesmo que um dia foi quebrado em uma briga. Ainda assim, em alguns dias aquela mulher no espelho me parecia uma estranha.
Talvez ela fosse.
Aquelas feições costumavam pertencer a Roxanne, a jovem e indefesa órfã abandonada por uma mãe adolescente na Califórnia em uma noite fria de outono. Ela costumava sonhar com contos de fadas e seu príncipe encantado. Realizou seu sonho de se tornar uma esposa perfeita e respeitável e ter uma casa grande com um belo jardim na terna e absurda idade de dezesseis anos. Roxanne havia vivido o seu sonho por longos meses antes de ver seu mundo de conto de fadas desmoronar diante de seus olhos.
Aquele nome já não me pertencia, assim como aquela história.
Eu era Freya. Aquele nome que, mais do que nunca, passei a usar como uma armadura e uma coroa. A mulher comeu o pão que o diabo amassou nas mãos de um marido brutamontes e louco. Aquela que fugiu de casa sem nada além de si mesma e o colocado na cadeia, onde ele pertencia. Aquela que deixou tudo para trás para partir em busca de seu sonho.
Roxanne era apenas uma criança, sonhando com seu mundo perfeito e seu príncipe encantado, mas ainda havia uma faísca dela em algum lugar dentro de mim. Talvez nos olhos, em uma das pequenas sardas cor de âmbar que se perdiam no verde-escuro. Ela era o que restava da minha confiança. A esperança de que um dia eu pudesse ser tão inocente e alegre quanto ela foi.
Eu tinha de cumprimentá-la diariamente.
Era um pouco triste, mas era o que me mantinha de pé nos dias difíceis. Esse não era um desses dias, mas também não era o momento para ficar presa em recordações tristes. Após anos vivendo em uma espécie de limbo doloroso onde fui jogada pelo companheirismo constante da depressão e da ansiedade, decidi que deveria voltar a perseguir minha carreira.
— Você consegue — afirmei, utilizando a voz positiva que todos os livros de autoajuda me diziam para usar.
Eu odiava aquela merda, mas minha psicóloga dizia que eles realmente serviam para alguma coisa. Até agora não haviam feito muito por mim, mas por qual razão não tentar?
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Freya - A garota de Manhattan (DEGUSTAÇÃO)
Любовные романыQuando se mudou para Nova York em busca de uma nova vida, Freya Wright deixou todo o seu passado para trás. Os erros cometidos, as feridas causadas por um relacionamento abusivo, as lembranças de um casamento falido e seu nome de batismo faziam part...